Fumaça de Satanás - 2

jbpsverdade: Porque será que o Vaticano não recebeu os exorcistas para audiência com o Papa João Paulo II? Porque muitos na Igreja que deveriam enfrentar até mesmo com a vida as investidas de satanás, não acreditam no mesmo? Será que não acreditam ou não querem de fato se comprometer com a Igreja de Cristo?

(Entrevista com
Pe. Gabriel Amorth)

-- Como vocês, Exorcistas, são considerados dentro da Igreja?
-- Somos tratados bastante mal.
Os Irmãos sacerdotes, encarregados dessa delicadíssima tarefa, são vistos como loucos, ou como exaltados.Geralmente, são apenas tolerados pelos próprios Bispos que os nomearam.

-- Que facto mais evidenciou essa hostilidade?
-- Quando fizemos uma Convenção internacional de Exorcistas, nos arredores de Roma.
Na ocasião, pedimos para ser recebidos pelo Papa.A fim de poupar-lhe um nova audiência, para além das tantas que já tem, pedimos simplesmente que fôssemos recebidos na audiência pública das quartas-feiras, na Praça São Pedro.
E sem a necessidade de sermos citados nas saudações.
Fizemos o pedido regularmente, como recordará perfeitamente Monsenhor Paolo de Nicolò, da Prefeitura da Casa Pontifícia, que recebeu o nosso pedido de braços abertos.
Porém, um dia antes da audiência, o próprio Monsenhor Nicolò disse-nos -- na verdade com muito embaraço, o que nos fez ver que a decisão não dependia dele -- que não fôssemos à audiência, porque não tínhamos sido admitidos.Inacreditável: 150 Exorcistas, provenientes dos cinco continentes, Sacerdotes nomeados pelos seus Bispos, em conformidade com as normas do Direito canónico, que requerem Padres de oração, de ciência e rectidão - portanto, a nata do Clero -, pedem para participar numa audiência pública com o Papa, e são postos fora!Monsenhor Nicolò disse-me: "Naturalmente, prometo-lhe que logo enviarei a carta com os motivos".Passaram-se cinco anos, e ainda espero por aquela carta.
Certamente, não foi João Paulo II quem nos excluiu.
Mas que seja proibido a 150 Sacerdotes de participarem numa audiência pública com o Papa, na Praça São Pedro, explica o quanto os Exorcistas da sua Igreja sofrem oposição, o quanto são mal-vistos por muitas autoridades eclesiásticas.

-- O senhor combate o Demónio quotidianamente. Qual é o maior triunfo de Satanás?
-- Conseguir fazer acreditar que ele mesmo não existe!
E quase conseguiu-o, mesmo dentro da Igreja.
Temos um Clero e um Episcopado que não acreditam mais no Demónio, nos exorcismos, nos extraordinários males que o Diabo pode causar, e nem mesmo no poder, concedido por Jesus, de "expulsar demónios".
Há três séculos, a Igreja latina -- ao contrário da Igreja ortodoxa e de várias confissões protestantes -- abandonou quase completamente o Ministério exorcista.Não praticando mais exorcismos, não estudando-os mais e nunca tendo-os visto, o Clero não crê mais neles. Não crê mais, nem mesmo no Diabo!Temos Episcopados inteiros contrários ao Exorcismo.
Há nações completamente privadas de exorcistas, como a Alemanha, a Áustria, a Suíça, a Espanha e Portugal. Uma carência assustadora!
-- O senhor não citou a França. Lá a situação é diferente?
-- Há um livro escrito pelo Exorcista mais conhecido da França, Isidoro Froc, com o título:"Os Exorcistas: Quem São e o que Fazem".Foi escrito a pedido da Conferência Episcopal Francesa.
Em todo livro, não é dito, nem uma vez, que os exorcistas, em certos casos, fazem exorcismos.E o autor já declarou várias vezes, na televisão francesa, que nunca fez exorcismos e nunca os fará.Dos quase cem exorcistas franceses, somente cinco acreditam no Demónio e fazem exorcismos; todos os demais mandam aos psiquiatras os que apelam a eles!
E os Bispos são as primeiras vítimas desta situação da Igreja Católica, na qual está desaparecendo a crença na existência do Demónio!Antes que saísse o novo Ritual, o Episcopado alemão escrevera uma carta ao Cardeal Ratzinger, na qual afirmava que não era necessário um novo Ritual, porque não dever-se-ia fazer mais exorcismos.

-- É tarefa dos Bispos nomear os Exorcistas?
-- Sim. Quando um sacerdote é nomeado Bispo, encontra-se diante de um artigo do Código de Direiro Canónico que lhe dá autoridade absoluta para nomear os Exorcistas.A qualquer Bispo, o mínimo que se deve pedir é que tenha assistido, pelo menos uma vez, a um exorcismo, já que pode ter de tomar uma decisão tão importante.
Infelizmente, isso quase nunca acontece.
Contudo, se um Bispo encontra-se diante de um sério pedido de exorcismo -- isto é, que não seja feito por um demente -- e não o providencia, cometerá um pecado mortal.

-- O senhor está dizendo que a maior parte dos Bispos católicos comete, por isso mesmo, pecado mortal?
-- Quando eu era criança, o meu velho Pároco ensinava-me (com alguma ironia) que "os Sacramentos da Igreja são 'oito', sendo o oitavo a 'ignorância' ".E que "o oitavo Sacramento 'salvava' mais do que os restantes sete, todos juntos"...
Para cometer-se pecado mortal, é preciso haver: matéria grave, mas também a plena advertência e o deliberado consentimento.
Essa omissão de ajuda, pela parte de muitos Bispos, é matéria grave.Mas esses Bispos talvez sejam (relativamente) ignorantes; e portanto não haverá (provavelmente) a plena advertência, ou o total consentimento...


-- Mas a Fé continua intacta, isto é, continua a ser uma Fé católica, se a pessoa não crê na existência de Satanás?
-- Não... A tal propósito, conto-lhe um episódio:
Quando encontrei pela primeira vez o Padre Pellegrino Ernetti, um célebre Exorcista, que exerceu o seu ofício por 40 anos em Veneza, disse-lhe:"Se eu pudesse falar com o Papa, dir-lhe-ia que encontro muitos Bispos que (já) não acreditam no Demónio".No dia seguinte, o Padre Ernetti veio falar comigo, e contou-me que, naquela manhã, tinha sido recebido por João Paulo II.
"Santidade", disse-lhe o Pe. Ernetti, "há um exorcista aqui em Roma, o Padre Amorth, que se pudesse falar com Vosssa Santidade, dir-lhe-ia que há muitos Bispos que não crêem no Demónio".E o Papa respondeu-lhe, claramente:
"Quem não crê no Demónio, não crê no Evangelho".
Eis a resposta exacta que Sua Santidade deu, e que eu repito.

-- Explique-me: A consequência é que muitos Bispos e Padres não seriam (considerados) católicos?
-- Digamos que eles não crêem em uma Verdade Evangélica.
Portanto, no mínimo, eu dir-lhes-ia que deixassem de propagar essa heresia.De qualquer modo, deixemos claro:
Uma pessoa pode ser formalmente herética se for acusada (ou advertida) de alguma descrença numa Verdade de Fé, e se mesmo assim persistir no erro.
Mas (praticamente) ninguém, pela crítica situação que existe na Igreja actualmente, acusaria um Bispo de não acreditar no Diabo, ou nas possessões do Demónio, não nomeando exorcistas, se ele próprio, como tantos outros, assume não crer (nessa Verdade de Fé).
Mesmo assim, eu poderia citar muitos nomes de Bispos e Cardeais que, logo depois da sua nomeação para uma Diocese, retiraram aos seus Exorcistas a faculdade de exercer tal ofício.
Ou então, de alguns Bispos que afirmam abertamente:"Eu não acredito no demónio, porque isso são coisas do passado"...Porquê? Infelizmente, houve muita influência (contrária) de alguns biblistas, e eu poderia citar-lhe nomes ilustres.
Nós, que diariamente tocamos, com as nossas próprias mãos, o mundo do Além, sabemos que isso mesmo influenciou (negativamente) muitas reformas litúrgicas...

-- Como, por exemplo?
-- O Concílio Vaticano II solicitara (apenas) a revisão de alguns textos.Desobedecendo a essa ordem, decidiu-se refazê-los completamente; sem pensar que assim poder-se-ia piorar as coisas, em vez de melhorá-las.
E muitos ritos foram assim piorados, por essa mania de querer jogar fora quase tudo o que havia no passado, refazendo tudo de início, como se a Igreja, até hoje, tentasse alguma vez enganar-nos; ou como se só agora tivesse chegado o tempo dos grandes génios: dos super-teólogos, dos super-biblistas, dos super-liturgistas, e como se só eles soubessem dar à Igreja as coisas certas (ou menos imperfeitas).
Todavia, isso é não é verdade.
O último Concílio solicitara simplesmente a revisão daqueles textos, e não a destruição.Mas também o rito do Baptismo das crianças foi piorado.Foi completamente alterado, chegando quase a eliminar-se o Exorcismo contra Satanás, que teve sempre enorme importância para a Igreja, tanto que era chamado de Exorcismo menor.
Contra esse novo rito (do Baptismo), até Paulo VI protestou publicamente.
Foi piorado o rito da nova Bênção.
Li minuciosamente todas as suas 1.200 páginas.
Pois bem, foi meticulosamente eliminada toda a referência ao facto de que o Senhor nos deve proteger de Satanás, de que os Anjos nos protegem dos assaltos do Demónio.
Tiraram também todas as orações, que até então havia, para a Bênção das Casas e das Escolas.
Tudo isso devia ser abençoado e protegido, mas hoje não se protege mais do Demónio.
Não existem mais defesas, e nem mesmo orações contra Satanás.
O próprio Senhor Jesus tinha-nos ensinado uma oração de libertação, no Pai-Nosso: "Livrai-nos do Maligno"; isto é, livrai-nos do espírito de Satanás.
Em italiano (e em português, n. d. t.), foi traduzida de modo erróneo, e agora reza-se dizendo: "Livrai-nos do mal".
Fala-se de um mal genérico, do qual, no fundo, nem se sabe a origem.
Pelo contrário, o Mal que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha-nos ensinado a combater é uma pessoa (espiritual) concreta: é Satanás.


-- O senhor tem um observatório privilegiado; acredita que o satanismo esteja-se difundindo?
-- Sim, e muito! Quando diminui a Fé, aumenta a superstição.
Usando a linguagem bíblica, posso dizer que abandona-se a Deus para se dedicar à idolatria; usando a linguagem moderna, abandona-se a Deus para se dedicar ao ocultismo.A assustadora diminuição da Fé, em toda a Europa católica, faz com que as pessoas se entreguem nas mãos de magos e cartomantes, enquanto prosperam as seitas satânicas.
O culto do Demónio é celebrado para as grandes massas, com o "rock satânico" de personagens como Marilyn Manson; e até as crianças são soterradas com revistas de quadradinhos que ensinam magias e satanismo.As sessões espíritas, nas quais se evocam os mortos para obter respostas, são muito populares.Hoje, ensina-se a fazer sessões espíritas pelo computador, pelo telefone, pela televisão, com o gravador, mas principalmente com a escrita automática.
Nem se precisa mais do 'médium' -- é um espiritismo "faça você mesmo".
Segundo as pesquisas, 37% dos estudantes participou, pelo menos uma vez, no jogo do 'cartaz', ou do 'copo', que é uma verdadeira sessão espírita.
Numa escola, em que fui convidado para fazer uma conferência, os jovens disseram que faziam as sessões durante a aula de religião, com a conivência do professor...

-- E funcionam?
-- Não existe distinção entre magia branca e magia negra.Quando a magia funciona, é sempre obra do Demónio.
Todas as formas de ocultismo, como este grande recurso às religiões do Oriente, com as suas sugestões esotéricas, são portas abertas ao Demónio.
E o Diabo entra, logo de seguida!

-- Padre Amorth, o satanismo difunde-se cada vez mais. O Novo Ritual praticamente impede os exorcismos. Os exorcistas são impedidos de participarem numa audiência com o Papa, na Praça de São Pedro. Sinceramente, o que está acontecendo?
-- A "fumaça de Satanás" entra por tudo. Por tudo!Talvez tenham-nos excluído da audiência com o Papa, porque tinham medo de que a presença de tantos exorcistas conseguisse expulsar as legiões de Demónios, que se terão instalado no Vaticano...

-- O senhor está exagerando, não é?-- Pode parecer um exagero, mas creio que não seja.
Não tenho a menor dúvida de que o Demónio tenta principalmente as cúpulas da Igreja, assim como tenta as demais cúpulas, tanto as políticas quanto as industriais (e financeiras).

-- O senhor está dizendo que, neste caso também, como em todas as guerras, Satanás quer conquistar a fortaleza do inimigo, aprisionando os generais adversários?
-- É uma estratégia vencedora, tentando-se sempre levá-la a cabo.Principalmente quando as defesas do adversário são frágeis.E Satanás também tenta-a (de maneira análoga).
Mas, graças a Deus, existe o Espírito Santo que sustenta a Igreja:
"As portas do Inferno não prevalecerão contra ela".
Apesar das deserções e apesar das traições, o que não é estranho.
O primeiro traidor foi um dos Apóstolos mais próximos de Jesus: Judas Iscariotes.
Mas, apesar disso, a Igreja continua o seu caminho.Mantém-se de pé com a sustentação do Espírito Santo, e portanto todas as lutas de Satanás só podem ter resultados parciais.Claro, o Demónio pode vencer batalhas, mas nunca vencerá a guerra.

== FIM ==

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