quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Muito Além do Latim



No dia 29 de junho de 1972, na presença de 32 cardeais, durante a homilia na missa em que celebrava o nono aniversário de seu pontificado, o Papa Paulo VI disse sentir que por alguma brecha, a fumaça de satanás havia penetrado no templo de Deus. Ele estava se referindo às mudanças ocorridas na Igreja após o concílio vaticano II, entre elas a mudança do rito em latim para o vernáculo.
Hoje é comum encontrar católicos que pensem ser um absurdo rezar a missa em latim, imaginando ser isso uma nostalgia ou algum apego sentimental ao passado, ou como se essa fosse uma questão de pouca importância, da qual a Igreja pudesse abrir mão para se adaptar aos novos tempos. Contudo a questão do latim na Igreja não está relacionada ao tempo. Nem ao lugar. Nesta questão, como em outras, não é a Igreja que deve se adaptar ao homem, mas o homem é que deve se adaptar a Igreja.
O que fundamenta a utilização do latim nas missas são os aspectos doutrinários, que contribuem para a santificação dos fiéis. E não são fundamentos criados agora, nesses tempos recentes, mas na própria história da Igreja Católica.
Os argumentos para o uso do latim nas missas são muitos e são excelentes, entretanto por ignorância ou relativismo, muitas vezes são ignorados. Podem-se comprovar na história da Igreja que os maiores defensores do uso do latim são os próprios Santos, entre eles destaca-se São Francisco de Sales que em certa época publicou através de uma série de panfletos, refutações as heresias protestantes quanto ao uso da língua vernácula para a leitura das Sagradas Escrituras.
Os principais argumentos utilizados por São Francisco Sales em favor do uso do latim foram:
• Evitar o julgamento privado das coisas que devem ser julgadas e estabelecidas pela autoridade da Igreja – Mais importante do que ler as letras é a pregação do Padre, hora em que a Palavra de Deus não somente é pronunciada como explicada.
• Evitar alteração dos textos que decorre das inúmeras traduções
• A língua de culto seja diferente da língua vulgar, para deixar claro que o ato é para Deus e se refere a Ele. 
• Na Jerusalém da época de Jesus, o aramaico era a língua cotidiana, o hebraico a língua dos ritos no templo e o latim a língua dos atos oficiais, embora boa parte da população também falasse grego. Quando Pilatos mandou pregar na cruz a inscrição “Jesus Nazareno Rei dos Judeus” essa inscrição foi feita em três línguas: Latim, Hebraico e Grego.
• Necessidade de uma língua fixa para manter a integridade e exatidão dos ritos e da Sagrada Escritura.
• A Igreja como sendo Universal deve buscar a unidade e a catolicidade, através de uma língua universal no tempo e no espaço. 
O Próprio Papa João XXIII, antes do Concílio Vaticano II deixou claro sua posição sobre o uso do Latim, quando disse na sua constituição Veterum Sapientiae, de fevereiro de 1962: “"É necessário que a Igreja utilize uma língua não só universal, mas também imutável. Se, de fato, a verdade da Igreja Católica fosse confiada a algumas ou a muitas das línguas modernas, sujeitas a uma contínua mudança, as quais nenhuma tem maior autoridade e prestígio sobre as outras, resultaria sem dúvida que, devido à sua variedade, não ficaria manifesto para muitos com suficiente precisão e clareza o sentido de tais verdades, nem, por outro lado, se disporia de alguma língua comum e estável, para confrontar o sentido das outras".
 A Missa Nova com o vernáculo e com o Padre voltado para o povo quase que tirou Deus do centro da celebração e pôs o homem. E sendo o homem o foco da celebração, ele logo fica entediado e cria a cada missa uma novidade para deixar sua marca, e é por isso que vemos nas missas de hoje tantas palmas, musicas, teatros, rock, e como citou O Liberal na coluna Repórter 70, até samba . Hoje é quase impossível participar de duas missas com ritos iguais.
 Foi preocupado com esses desvios que o Santo Padre Bento XVI, 42 anos após o Concílio Vaticano II, depois de 38 anos da Missa Nova de Paulo VI, liberou a Missa de sempre dos entraves que muitos bispos lhe opuseram. Entraves, porque a Missa de sempre nunca foi revogada e nem proibida.
      A Missa que a Igreja celebrou praticamente durante quase dois milênios, a Missa de tantos santos, a chamada Missa de São Pio V, em latim, -- a língua da Igreja --, vem sob a forma de liturgia Extraordinária.
 Portanto temos agora duas formas igualmente válida de celebração do sacrifício pascal: A forma ordinária, atualmente em uso, onde o padre celebra de frente para os fiéis e conduzida na língua do local, aqui no caso o português. E a forma Extraordinária, onde o Padre e os fiéis permanecem voltados de frente para o santíssimo, as orações são feitas em latim, as leituras e homilia na língua local, no caso o português, toda acompanhada por cantos gregorianos.
Essa Missa de sempre, que tão perfeitamente exprime o dogma da Fé na presença real de Cristo sob as espécies consagradas, e que tão bem se opõe à heresia protestante e ao antropocentrismo, é uma chance de atenção que a Igreja oferece aos católicos que não se agradam da missa show e preferem a tradição de uma celebração muito mais contemplativa.
As grandes capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e tantas outras cidades menores já possuem celebrações extraordinárias, falta agora Belém.
Rezo a Deus pedindo que ilumine nosso Arcebispo, tão dedicado como é Dom Orani João, para que ele consiga implementar, pelo menos de forma semanal, a celebração da missa tridentina em nossa cidade, e assim a atender aos católicos que anseiam por participar do Sacrifício de Cristo da mesma forma que nossos antepassados por tantos séculos fizeram.
 

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