Mas o que causaria tanta apreensão entre os católicos? A tão aguardada instrução para esclarecimento e aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, idealizada para cabalmente fazer valer as disposições do documento contra a má vontade episcopal generalizada, após inúmeras revisões nos escritórios dos dicastérios romanos, pode vir à luz para simplesmente minar o próprio Motu Proprio!
Com efeito, a última versão da instrução, a ser publicada antes da Páscoa, reconheceria a missa tradicional não como um instrumento para servir a toda Igreja — sobretudo por seu valor intrínseco, mas também como um parâmetro para a famigerada “reforma da reforma” –, mas como uma mera concessão à sensibilidade dos ditos tradicionalistas.
É o retorno do gueto: a missa latino-gregoriana seria apenas um carisma dos que já a conhecem, restando aos católicos comuns as missas ordinárias dos carismáticos ou as senilidades marxistas da CNBB.
Uma claríssima involução: do dever de cada diocese de “concordar com a Igreja universal, não só quanto à doutrina da fé e aos sinais sacramentais, mas também em respeito aos usos universalmente aceitos da ininterrupta tradição apostólica” prescrito em Summorum Pontificum, voltaríamos à recomendação de que seja “respeitado o espírito de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina” da carta apostólica Ecclesia Dei.
Enfim, como bem sintetizou Rorate-Caeli, “um documento interpretativo inferior que modifica a letra clara da lei, tornando-a ineficaz”.
Os responsáveis pela manobra? Primeiramente, Monsenhor Charles Scicluna, oficial do ex-Santo Ofício, conhecido por seu empenho na investigação dos casos de pederastia entre o clero. Mas também o conivente Prefeito da Congregação para o Culto Divino, Cardeal Antonio Cañizares Llovera, que aceitou esta inserção no texto a ser submetido à assinatura do Papa Bento XVI.
A guerra litúrgica na Cúria Romana parece chegar a seu ápice. Os últimos episódios envolvendo o rápido desmentido a qualquer “restrição” à “renovação” pós-conciliar pelo porta-voz da Sala de Imprensa, a pedido da Secretaria de Estado do Vaticano, e o recente ataque veiculado no L’Osservatore Romano aos institutos da Comissão Ecclesia Dei e à própria fé católica no que diz respeito à necessidade de conversão de hereges e cismáticos, que renderam um violento artigo do Padre Stefano Carusi, do Instuto do Bom Pastor, com ameças inclusive de levar o jornal aos tribunais eclesiásticos, são as mais claras provas de que vivemos tempos decisivos no pontificado de Bento XVI.
Finalmente, dentro deste emaranhado político-eclesial, cabe a nós fiéis expressarmos nossa inquietação às autoridades competentes e rezarmos para que o Santo Padre não ceda aos grupos de pressão cujos representantes maiores estão muito próximos de Sua Santidade.
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SEGRETERIA DI STATO DELLA SANTA SEDEEminência Reverendíssima Dom Tarcisio Cardeal Bertone
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CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE
Eminência Reverendíssima Dom William J. Levada, Prefeito desta egrégia Congregação,
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CONGREGAZIONE PER IL CULTO DIVINO E LA DISCIPLINA DEI SACRAMENTI
Eminência Reverendíssima Dom Antonio Cardeal Cañizares Llovera, Prefeito desta egrégia Congregação,
Palazzo delle Congregazioni
Piazza Pio XII, 10
00120 CITTÀ DEL VATICANO – Santa Sede
Tel. 06-6988-4316 Fax: 06-6969-3499
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PONTIFICIA COMISSIONE “ECCLESIA DEI”
Reverendíssimo Monsenhor Guido Pozzo, secretário desta Comissão
Piazza del Sant’Uffizio, 11 – 00193 ROMA
Tel. 06.06988-5213
e-mail: eccdei@ecclsdei.va
http://fratresinunum.com/2011/02/16/editorial-ecclesia-dei-adflicta/
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