sexta-feira, 11 de março de 2011

Porque os Judeus não acreditam em Jesus - Parte final!


3. Jesus e a Lei Judaica 
O terceiro argumento do rabino diz respeito à permanência da lei judaica (a Torá):
O Messias levará o povo judeu à perfeita observância da Torá. Enuncia a Torá que todas as mitswoth (as prescrições da Lei) vigorarão para sempre, e quem queira mudar a Torá será quanto antes identificado como falso profeta (Dt 13, 1-4).


Ora nosso autor acrescenta:
Ao longo do Novo Testamento Jesus vai na contramão da Torá.
É o desconhecimento da célebre sentença de Jesus: “Não acrediteis que vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumpri-la” (Mt 5, 17).
Segundo o rabino só há uma alternativa: obedecer ou desobedecer. Quem não obedece à Lei é revoltado ou impostor. Mas isso é esquecer que tal alternativa só se impõe a quem esteja submetido à lei, não ao legislador. Ora se é verdade que a atitude de Jesus em face da Lei judaica tem algo de surpreendente, jamais ele aparece como um revoltado. Ao contrário nasce a surpresa do contraste entre a humildade com que se prende amiúde à Escritura26 e, além disso, e a autoridade com que legisla (“Vós aprendestes dos antigos... mas eu vos digo...” Mt 5, 21; 5, 27 etc.).

Legislando Jesus se mostra superior à lei de Moisés. Sob certa perspectiva ele obedece à lei, pois que a ela regulava o modo por que o Messias, o legislador definitivo, devia aperfeiçoá-la. A lei nova não abole a lei antiga, mas a supera e transfigura, cumprindo o que nela estava só em figura. Podemos compará-la à borboleta: ela não mata – nem caça – a lagarta, mas é a mesma lagarta na etapa última e perfeita da existência.
Jesus conduziu os judeus (pelo menos os que quiseram-no seguir) exatamente à “perfeita observância da Torá”: a caridade é o cumprimento da lei, ensina São Paulo (Rm 13, 10). E São Paulo, mui zeloso das tradições de seus pais, descobre que a lei é um meio, não um absoluto27. Abrãao recebeu as promessas pela fé – e não pela Lei. Como viesse depois, ela não poderia ser o fundamento da salvação, nem aspirar à última palavra em todas as prescrições materiais (Rm 4 e Ga 3). Destinado a proteger a fé, não dá por si a vida da graça; ela é boa mas, pesada; é ocasião de muitas transgressões, mas por isso mesmo um verdadeiro fardo (Rm 7). Vindo para transfigurá-la age Jesus como verdadeiro libertador.
Os profetas prepararam a transfiguração [da lei]28. Quando Jeremias lançava em rosto de Israel serem eles “incircuncisos de coração” (Jr 9, 26) não era a clara indicação de que a circuncisão corporal não era absoluta, mas apenas sinal exterior da necessária purificação do coração? Não dirá outra coisa São Paulo ao afirmar que “não é verdadeiro judeu o que o é exteriormente, nem verdadeira circuncisão a que aparece na carne” (Ro 2, 28).
Como pe. Lémann notava:
Tornado católico o israelita não muda de religião, mas aperfeiçoa a sua, completa-a, coroa-a. O israelita que se torna católico é, por excelência, o homem religioso que desabrocha para a plenitude, como do caule desabrocha a flor29.
Aos que perguntavam porque havia renunciado à sinagoga Eugênio Zolli (antigo grão-rabino de Roma) respondia:
Mas eu não a renunciei. O cristianismo é a perfeição da sinagoga. A sinagoga era a promessa e o cristianismo o cumprimento da promessa30.
O judaísmo atual assemelha-se à lagarta que, tendo ouvido confidências acerca do vindouro estado alado, recusasse obstinadamente a entrar no casulo. Foi quando lagarta que lhe fizeram as promessas, afirma ela, e não à insolente borboleta, que lhe busca retirar a herança. Moverá céus e terras em favor da “lagarta”. Claro que ela quer voar um dia, esperando com fervor a vinda do Messias que lhe dará asas, mas as quer receber como lagarta, sem perder as patas de lagarta, os costumes de lagarta, a lei de lagarta. E isso já dura 2000 anos.
III – São mal traduzidos os textos proféticos?
Aos olhos do rabino Simmons Jesus não somente não cumpriu as profecias, mas teve grande dificuldade em cumprir as que lhe não eram de dever! Para isso o rabino ataca três profecias célebres, que não passariam de textos mal traduzidos:
1. O nascimento virginal, profecia de Isaias (7, 14)
2. A crucifixão, descrição de Davi (Sl 21);
3. O homem das dores, pregão de Isaias (cap. 53).
Vejamos isso de mais perto.
1. O nascimento virginal, profecia de Isaias (7, 14)
Afirma o rabino Simmons:
A idéia cristã do nascimento virginal teve origem em Isaias 7, 14, em que se diz que uma ‘alma’ engravidou. A palavra hebraica ‘alma’ sempre significou “jovem mulher”, mas os teólogos cristãos, vários séculos depois, traduziram-no por “virgem”.
Simplesmente esquece o rabino que não foram os cristãos que traduziram a Bíblia em grego, mas os próprios judeus, muito antes do nascimento de Jesus Cristo (versão grega, dita a dos Setenta). Ora nesta versão a palavra hebraica ‘almah’ está traduzida não por “a jovem mulher”, mas por “jovem virgem”, é esse termo – parthénos – que São Lucas empregará para designar a Virgem Maria na narração da anunciação31).
Somente no séc. II de nossa era, após a vinda de Jesus Cristo, que os autores judeus empenharam-se a dar nova tradução, para confrontá-la ao cristianismo. Teodósio de Éfeso, Áquila do Ponto e Símaco traduziram então ‘almah’ como a jovem mulher.
Se se dispõe a examinar mais de perto o vocábulo hebreu (‘almah), só é possível conhecer-lhe o sentido exato examinando seus diversos usos na Bíblia. Ora a palavra só aparece na Escritura Santa umas quantas vezes. Ela designa meninas adolescentes que, segundo o contexto, são virgens, seja em verdade ou em aparência. Só uma vez designa uma jovem que possivelmente é virgem (não se consegue saber pelo contexto) 32. Como corolário disso temos:
1. Nada se opõe a que este termo ‘almah’ designe uma jovem virgem (em oposição aos termos na’arâh, que diz respeito a jovens adolescentes sem mais precisar, e betûlah, que diz respeito à uma virgem, sem precisar a idade);
2. É forte a probabilidade para que seja esse o sentido da palavra.
Essa forte probabilidade torna-se certeza ao se constatar que a traduziram a palavra como “virgem” na versão grega, a dos Setenta.
Enfim acrescente-se que um sábio judeu do séc. XIX, o rabino David Drach (1791-1865), demonstrou com riqueza de detalhes como as antigas tradições judaicas confirmam a interpretação cristã desta passagem de Isaias. É o tema da Troisième Lettre d’un rabbin converti aux Israélites ses frères (Roma, 1833) 33.
Definitivamente a realidade vai de encontro às afirmações do rabino Simmons. Não são os “teólogos cristãos [que], muitos séculos depois, traduziram-na por “virgem”, mas sim os tradutores judeus que, mais de um século após a vinda do Cristo, rejeitaram a tradução até então corrente, para introduzir o termo jovem mulher.
Continua atual o desafio que São Jerônimo lançou aos judeus de seu tempo:
Demonstrem os judeus uma só passagem em que ‘almah’ refira-se tão somente a uma jovem adolescente e não a uma virgem, e então reconheceremos que a palavra de Isaias deve compreender-se não por virgem casta, mas jovem mulher já casada (Contra Jovinianum, I, 32; PL 23, 254).
2. A Crucifixão, profecia de Davi (Salmo 21)
Fala-se aqui salmo 21 (22 no saltério hebreu). Davi aqui entoa o pedido de socorro lançado a Deus por um homem a quem seus inimigos supliciam e, depois, concluindo, a ação de graças quando Deus lhe dá o livramento. Particularmente anunciam os versículos 15-19 a paixão do Cristo:
[...] Derramo-me como água,
todos os meus ossos se desconjuntam;
meu coração tornou-se como cera,
e derrete-se nas minhas entranhas.
Minha garganta está seca qual barro cozido,
pega-se no paladar a minha língua:
vós me reduzistes ao pó da morte.
Sim, rodeia-me uma malta de cães,
cerca-me um bando de malfeitores.
Traspassaram minhas mãos e meus pés:
poderia contar todos os meus ossos.
Eles me olham e me observam com alegria,
repartem entre si as minhas vestes,
e lançam sorte sobre a minha túnica.
Mas o rabino contesta a tradução do versículo “Traspassaram minhas mãos e meus pés”:
Está escrito nos Salmos (22, 17): “Pois que os cães me assediam, a súcia dos perversos está acerca de mim; como o leão (eles fustigam) minhas mãos e meus pés.” O termo hebreu KEARI (“como o leão”) é similar em gramática à palavra “rasgo”. Desta forma interpretou o cristianismo o versículo, como contendo alusão à crucifixão: “Traspassaram minhas mãos e meus pés.”
O astuto rabino se esquece novamente de precisar que a tradução “Traspassaram minhas mãos e meus pés” não é de invenção cristã. Era já assim na tradução grega dos Setenta muito antes do nascimento do Cristo. Ninguém a contestou à época, quando se publicava por toda a parte essa versão dos Setenta (era praticamente a tradução grega oficial da Bíblia, em uma época em que o grego era a língua dominante).
Somente após o nascimento e a difusão do cristianismo que os judeus provaram da necessidade de outra tradução. Prolatando o texto de modo diverso (pois em hebreu, só as consoantes se indicam, e um mesmo texto pode ter várias leituras possíveis) traduziram-no os judeus Áquila e Símaco por “Ataram minhas mãos e meus pés”, o que tinha a vantagem de enfraquecer a remissão à crucifixão, mas guardando o inconveniente de ainda se conseguir aplicá-lo ao Cristo. Na Idade Média os massoretas (sábios judeus que se dedicaram a pôr sobre o papel a vocalização dos textos) preferiram entender “Como o leão minhas mãos e meus pés”. Não fazia muito sentido o texto, mas pretendiam que se subentendesse o verbo “fustigam”, dando assim “Como o leão (eles fustigam) minhas mãos e meus pés”. Eis, como vimos, a solução que adotou o rabino Simmons.
Ainda que logicamente possível, tal leitura apresenta três erros grosseiros:
- Ela requer que se leia como yod a última consoante da palavra (existe uma variante dessa letra nos manuscritos hebreus34);
- Resulta em um texto obscuro (ao qual há-de se acrescentar uma palavra de modo a lhe dar um sentido inteligível);
- Enfim, como vimos, não corresponde ao modo como se lia amiúde antes da vinda do Cristo.
Quanto à versão “Traspassaram minhas mãos e meus pés”:
- Justifica-se qual seja a consoante final35;
- Apresenta sentido perfeito e claro;
- Corresponde à leitura tradicional dos judeus do Antigo Testamento (como prova a tradução da Septuaginta).
Deve admitir o observador imparcial que a verossimilhança nesta questão não pende para o lado do rabino Simmons.
3. O homem das dores, anúncio de Isaias (cap. 53)
O capítulo 53 de Isaias é uma das culminâncias do Antigo Testamento, não apenas por causa da força emotiva com que anuncia a paixão do Messias, mas sobretudo devido à explanação doutrinal dada.
Antes de discutir a lição, releia-se o capítulo:
Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor? Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados. [Is 53, 1-12]
O rabino Simmons contesta, é claro, e nega que se trate de uma profecia messiânica:
O cristianismo considera que o capítulo 53 de Isaias acerca do “homem das dores” se refere a Jesus. Em realidade constitui o capítulo 53 a seqüência do capítulo 52, o qual descreve o exílio e a redenção do povo judeu. As profecias são escritas no singular porque os Judeus (“Israel”) são considerados como unidade.
A Torá formiga de exemplos em que designam no singular a nação judaica.
Pela terceira vez o rabino Simmons opõe-se à interpretação cristã, e mais ainda, sem o dizer, à de muitos judeus. Muitos deveras hão admitido que esta profecia anunciava o Messias, ainda que depois a submetessem à uma exegese mais que acrobática para eliminar os aspectos que os desagradavam.
Caso significativo é o do targum36 de Jônatas, que o padre Lagrange oferece como “exemplo típico e até divertido dos disparates que podem acarretar o cuidado de permanecer fiel às palavras de um texto, retirando-se tanto quanto possível de seu espírito37”. O capítulo 53 inteiro é interpretado deste modo. Quando diz Isaias que Deus chama para si a iniqüidade do mundo, interpreta-o Jônatas como o Templo (mas o texto não diz palavra!): isso significa que o Templo foi profanado devido aos pecados de Israel. Quando diz o texto que o servo do Senhor não abriu a boca, entende Jônatas: “O seu pedido foi atendido antes que abrisse a boca para rezar”. Em seguida, em vez de tratarem-no como um cordeiro em direção ao matadouro, ele é que conduz os povos à carnificina! E por aí vai. Jônatas interpreta sempre às avessas todas as passagens que indicam o sofrimento do Messias. Mas, conforme a conclusão de pe. Lagrange:
Os que se defrontem com o texto de Isaias possuem um método mais simples que o de Jônatas para fugirem à sua evidência: não por disparates nos detalhes, antes um disparate generalizado que só deixasse ver no servo do Senhor o grupo de justos ou o povo de Israel como um todo. Aos antigos rabinos era mais cara a primeira maneira; desde Raschi, prevaleceu a segunda [...]38.
Raschi é o nome do rabino de Troyes (1040-1105) que impusera a idéia de que Isaias 53 aplicava-se não ao Cristo, mas ao povo judeu. Oferecera por argumento o fato de a expressão “servo do Senhor” designar o povo de Israel em outras passagens de Isaias.
Mas Isaias designa sem enganos que o “servo do Senhor” descrito nestas passagens é o Servo-Israel, o qual é pecador empedernido (Is 43, 24-28 etc.), punido com as próprias iniqüidades (Is 43, 27-28 etc.), e cego às obras de Deus (Is 42, 19-20).
Ao contrário, Isaias 53 apresenta o “homem das dores” como isento de toda culpa, obediente à estrita vontade Deus, levando consigo os pecados alheios. Não é possível com isso designar o povo de Israel, pois que aquele homem foi esmagado por causa dos pecados do povo.
Tudo estava claro o bastante para que, durante séculos, ninguém tivesse dúvidas: somente após a vinda de Jesus Cristo, remeteram – contraJesus – o texto de Isaias 53 ao povo judeu. Hoje em dia querem ver nisso a predição do que os judeus apelidaram de “Shoah”. Todavia, em plena Segunda Guerra Mundial, o grão-rabino de Roma, cuidadoso em proteger seu pequeno rebanho de judeus, cada vez que lia o capítulo de Isaias referia-se sem cessar ao Messias, e não a seu povo. Durante sua infância na Ucrânia, avistara ele de uma feita na casa de seu colega um crucifixo, imagem que não lhe saía da cabeça cada vez que lia o cântico do homem das dores. Convertido após ao cristianismo, Israel Zolli (eis seu nome) contara como o texto de Isaias ajudara-o na sua trilha até ao Cristo Jesus39.
Conclusão
O rabino Simmons invoca outros argumentos contra o cristianismo, mas sem ligações com as profecias, e de tal forma caricaturais que não valem o esforço de uma refutação detalha. Afirma que “a idéia católica da Trindade transforma Deus em três partes distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo”, o que parece indicar que nunca se dera ao trabalho de abrir um catecismo, nem pelo menos o Símbolo de Santo Atanásio. Parece também que não entendeu mais o significado do mistério da encarnação, visto que ele acha razoável contradizê-lo ao afirmar que Deus é incorporal, infinito, para além do espaço, e que “Deus não é mortal” (Nm 23, 19). Confunde também catolicismo e maniqueísmo, afirmando que “a doutrina católica trata amiúde o mundo físico como um mal a se evitar.”
Por outro lado, seria interessante recensear as profecias messiânicas que o rabino Simmons cala em seu estudo (por exemplo, nada diz acerca da época em que o Messias deveria nascer, não obstante se predissesse de muitas formas distintas40). Mas um estudo como esse nos levaria longe demais.
Parece-nos que só o exame das profecias que o rabino invocou contra Jesus Cristo basta para fundamentar que Jesus Cristo cumprira as profecias, e que por isso é o Messias enviado de Deus.
Que o Senhor se digne a precipitar o dia em que seu povo finalmente o reconhecerá!
Tradução: Permanência. Originalmente publicado em Le Sel de la Terre
1.       1.Jacob LIBERMANN (1802-1852), citado por Maurice BRIAULT C.S.Sp., Le vénérable père F.M. Libermann, Paris, Gigord, 1946, p. 17-18.
2.      2.Théodore RATISBONNE (1802-1884), citado na obra Le T.R. Père Marie-Théodore Ratisbonne, fondateur de la société des prêtres et de la congrégation des religieuses de Notre-Dame de Sion, d’après as correspondance et les documents contemporains, t. 1, Paris, 1905, p.62.
3.      3.O segundo templo de Jerusalém – edificado após o retorno do cativeiro em Babilônia, a partir de 516 a.C., e totalmente renovado por Herodes em 19 a.C. – só será destruído em 70 d.C., por obra dos romanos. – Ao entrar ali, cumprira Nosso Senhor o oráculo do profeta Ageu, segundo o qual a gloria do segundo templo excederia a do primeiro (ag 2, 9). O derradeiro profeta, Malaquias, também anunciava a vinda do Messias ao segundo templo: “Vou mandar o meu mensageiro para preparar o meu caminho. E imediatamente virá ao seu templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais. Ei-lo que vem - diz o Senhor dos exércitos.” (Ml 3, 1)
4.      4.Pe. Vicent-Toussaint BEURIER (eudista, 1715-1782), “L’aveuglement de ceux qui ont tué Jesus-Christ”, texto reproduzido em Le Sel de la terre 40, p.216-228.
5.       5.“Quando Nabucodonosor conduziu o povo ao cativeiro, já haviam predito que seria breve e se reestabeleceriam. Consolaram-nos sempre os profetas, e seus reis ainda se sucediam uns após os outros. Mas na segunda destruição não houve promessa de reestabelecimento, nem profetas, nem reis, nem consolação, nem esperança, pois que o cetro desaparecera para sempre. Não existe cativeiro quando há certeza de libertação para daí a setenta anos. Mas agora realmente são cativos, e sem esperança alguma.” Blaise PASCAL, Pensamentos.
6.      6.P. Vicent-Toussaint BEURIER, ibid.
7.       7.Théodore RATISBONNE, citado na obra Le T.R. Père Marie-Théodore Ratisbonne, t. 1, Paris, 1905, p. 60-61. – O irmão caçula de Théodore, Alphonse, converteu-se também ao catolicismo, só que mais tarde, após uma aparição da Santa Virgem na igreja de Saint-André-delle-Fratte em Roma. (20 de janeiro de 1842). Um pouco antes aceitara carregar consigo a medalha milagrosa de Nossa Senhora da rue de Bac.
8.      8.Is 11, 6-8.
9.      9.Vários santos realizaram milagres análogos em relação a animais ferozes ou daninhos: os Padres do Deserto, São Jerônimo (e seu leão), São Martinho de Porres O.P. etc.
10.   10.Revelou São Francisco de Sales o trabalho realizado para vencer a cólera numa pequenina frase com que respondeu um dia a um amigo, que se espantou de sua brandura para com um ímpio: “Temi desperdiçar num quarto de hora o exíguo licor de mansuetude que tratei de juntar em vinte e dois anos como um rocio no vaso de meu coração.” – Outro amigo também foi testemunha do resultado desses esforços: “Parece-me que toda a mansidão que se pode encontrar em homens estava nele: nunca pude me saciar de vê-lo e escutá-lo, tão dócil era ele, jamais se dignando a agir ou a proferir palavra que não fosse determinada pela brandura de Nosso Senhor...”. Citado pelo cônego F. VIDAL, na obra Aux sources de la joie avec le saint François de Sales (Paris, 3ª ed., 1974, p. 163 e 133).
11.    11.Citado por A. RICCIARDI, Maximilien Kolbe, prêtre et martyr, Sources historiques, Paris, Médiaspaul, 1987 (traduzido do italiano), p. 347. – Testemunha o doutor Rodolphe Diem: “Fiquei no campo de Auschwitz de janeiro de 1941 a janeiro de 1945, e não conheci nenhum caso semelhante, nem ato de amor heróico do próximo como o de Maximiliano Kolbe.” (Ibid., p. 344).
12.   12.Citado por A. RICCIARDI, P. 348-349.
13.   13.Escravidão, superstição, sacrifícios humanos, tirania dos potentados, supressão das crianças indesejáveis, exploração das mulheres etc – tudo males de que o cristianismo diligenciou livrar a humanidade. É o caso de lembrar que a vida humana quase nada valia sob o Império Romano (pelo menos a dos recém-nascidos, dos escravos ou dos gladiadores)? Que nenhuma autoridade religiosa era capaz de impor limites às fantasias do imperador – que chegara ao ponto de se fazer adorar como um deus?
14.   14.TERTULIANO, Contra Gnosticos 13.
15.    15.Objetar-se-á sem dúvida à tal afirmação os lugares comuns habituais acerca da Inquisição, das cruzadas, da conquista do novo mundo etc.. É suficiente responder aqui que nem a Inquisição, nem as cruzadas tinham por finalidade a conversão ao cristianismo. A primeira dedicava-se à proteção da fé dos cristãos já batizados; a segunda, à libertação da Palestina – terra cristã invadida pelo Islã – a fim de que os peregrinos pudessem dirigir-se para ali sem obstáculos. Nem uma nem outra foram empreitadas de conversões forçadas. No caso da América Latina, é fora de dúvida que se conquistara à mão armada de Espanha e Portugal, mas não pela Igreja. Esta espalhara o cristianismo por meio da predicação, dos exemplos e dos milagres, como era de praxe por onde estivesse. Era pelos milagres – sem se valer da violência jamais – que Louis Bertrand (1526-1581) converteu milhares na Colômbia; eram as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe (1531) que converteram o povo mexicano etc.
16.   16.Acerca das origens judaico-nazarenas do islã, pode-se remeter à tese de Edouard Marie GALLEZ, Le Messie et son prophète. Aux origines de l’islam. Editions de Paris, 2005 (recensão em Le Sel de la terre 55, p.282-293). Mas independente destes trabalhos históricos, a dependência do islã para com o messianismo temporal dos judeus salta aos olhos.
17.    17.“A Nova Jerusalém será em qualquer lugar em que triunfe a idéia francesa da Revolução”, declarava Maurice Bloch (citado por Marie-Joseph LAGRANGE O.P., Le Messianisme ches les juifs (150 a.C. a 200 d.C.), Paris, Gabalda, 1909, p. 331).
18.   18.Sobre o papel dos judeus no comunismo, ver sobretudo Alexandre SOLJENITSYN, Deux siècles ensemble, t.2, Paris, Fayard, 2003.
19.   19.Ver Hervé RYSSEN, Les espérance planétariennes, Ed. Baskerville (14 rue Brossolette 92300 Levallois), 2005. Esta obra mostra à evidência como a utopia do messianismo temporal, subtenda-se aqui o comunismo e atualmente a ideologia mundialista, mas falta-lhe o espírito cristão. As críticas voltairianas contra a Bíblia (p.204-208) são particularmente desagradáveis.
20.  20.“World full of Christian ideas gone mad” (G.K. CHESTERTON, Orthodoxy, 1908).
21.   21.At 10 e 11.
22.  22.Cônego Augustin LÉMANN, Histoire complète de l’ídée messianique, Gand, 1974, p. 268. Ver também a profecia do oitavo capítulo de Zacarias: “Virão muitos povos e poderosas nações buscar o Senhor dos Exércitos em Jerusalém, e implorar a face do Senhor.”
23.  23.Enquanto todas as demais sociedades religiosas se põem a serviço com maior ou menor presteza dalgum poder político (Igrejas cismáticas orientais, ditas ortodoxas, anglicanos, protestantes, muçulmanos...), a Igreja Católica sempre conseguira livrar-se dos poderes que tentavam seviciá-la.
24.  24.Blaise PASCAL escreveu sobre o assunto: “Deus suscitou profetas durante mil e seiscentos anos; e no correr de quatrocentos anos dispersou as profecias junto com os judeus que se dirigiam para todos os cantos do mundo. Eis qual fora a preparação para o nascimento de Jesus Cristo, em cujo Evangelho dever-se-ia acreditar por toda parte, cumprindo não apenas que houvesse profecias para acreditá-lo, mas também que essas profecias fossem espalhadas em todo o mundo, para que assim tudo estivesse compreendido nele”
25.   25.Ver Pe. EMMANUEL-MARIE O.P. “Les génealogie de Notre-Seigneur”, em Le Sel de la terre 34, p. 3-33.
26.  26.Só em São Mateus, pode-se citar: 1, 22; 2, 15 e 17; 2, 23; 4, 14; 8, 17; 12, 17; 13, 14 e 35; 21, 4; 26, 54 e 56; 27, 9 e 35.
27.   27.Várias das discussões entre Jesus e os fariseus versão sobre esse assunto. Ver sobretudo Mc 2, 24-28 e 3, 1-6. “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; eis porquê o Filho do Homem é mestre até do sábado.”
28.  28.Erudito judeu não convertido ao cristianismo, Bernard LAZARE (1865-1903) notou com acurácia: “Pode-se dizer que o verdadeiro mosaísmo, purificado e engrandecido por Isaias, Jeremias e Ezequiel, dilatado em todo universo pelos judaico-helenistas, haveria de conduzir Israel ao cristianismo se o esraísmo, o farisaísmo e o talmudismo não estivessem ali presentes para reter a maioria dos judeus nas fronteiras da estrita observância e das práticas rituais estreitas.” (L’Antisémitisme, son histoire et ses causes, Paris, 1894, p. 16.) “Se os judeus ainda observassem o mosaísmo puro, ninguém duvidaria que, num dado momento de sua história, modificariam o mosaísmo de modo a só deixarem intactos os preceitos religiosos ou metafísicos; talvez mesmo, se seu único livro sagrado fosse a Bíblia, fundir-se-iam à Igreja nascente, que encontrara os primeiros adeptos entre os saduceus, os essênios e os prosélitos judeus: mas a elaboração do Talmude, o domínio da autoridade dos doutores ensinavam-nos uma suposta tradição [...].” (Bernard LAZARE, ibid., p. 14-15.).
29.  29.Citado pelo pe. Théotime DE SAINT-JUST O.F.M., cap., Les Frères Lemann, juifs convertis, Paris, Librairie Saint-François, 1937, p. 372.
30.  30.Eugênio ZOLLI, Avant l’aube (tradução francesa de Judith Cabaud da obra autobiográfica intitulada Why I became Catholic), Paris, F.X de Guibert, 2001, p. 110.
31.   31.O termo parthénos entre os Setenta sempre designa uma virgem. Em grego clássico também a palavra designa, em seu sentido principal, uma virgem ainda jovem (ver, por exemplo, o dicionário de Bailly ou o Lexicon de Zorelli).
32.  32.Para os detalhes, consultar por exemplo P.F. CEUPPENS O.P., De Prophetis mesianicis in Antiquo Testamento, Roma, Collegium Angelicum, 1935, p. 192-196. – Ou também os padres LUSSEAU et COLLOMB, Manuel d’études bibliques, t. III, Paris, Téqui, 1934, p. 148-149.
33.  33.O rabino David DRACH (1791-1865), genro do grão-rabino do Consistório Central, Emmanuel Deutz, pediu o batismo católico em 1823. Alí recebeu os prenomes Paulo, Luís, Bernardo. Ele retomou e desenvolveu o estudo acerca de Isaias 7, 14 no segundo tomo de sua obra De l”Harmonie entre l’Église et la Synagogue (Paris, 1844, p. 1-383; reimpressão em 1978, em Gand na Bélgica).
34.  34.Para detalhes, ver por exemplo, P.F. CEUPPENS O.P., ibid., p. 363-364.
35.   35.Como vimos, há uma variante desta consoante final. As duas versões permitem a tradução “Traspassaram” (o sentido do verbo é o mesmo, tome-se o verbo ou como forma conjugada, ou como particípio plural). Em contrapartida, só uma das duas permite que se leia “como um leão”.
36.  36.[N. da P.] “Targum (plural targumim) é o nome dado às traduções em aramaico da Bíblia hebraica (Tanakh) escritas e compiladas em Israel e Babilônia, da época do Segundo Templo até o início da Idade Média, utilizadas para facilitar o entendimento aos judeus que não falavam o hebraico como língua mãe, e sim o aramaico. Os dois targumim mais conhecidos são o Targum Onkelos sobre a Torá e o Targum Jonatã ben Uziel sobre os Nevi'im (profetas).” Fonte: Wikipedia]
37.   37.Marie-Joseph LAGRANGE, O.P., Le Messianisme chez les juifs (150 av. J.C. à 200 ap. J.C.), Paris, Gabalda, 1909, p. 241. 38 ID., ibid., p. 243.
38.  38.Id., ibid., p. 243.
39.  39.Israel Zolli (1881-1956), batizado em Roma a 13 de fevereiro de 1945 (na mesma ocasião em que sua mulher), desejou receber o nome Eugênio, em honra ao papa Pio XII (Eugênio Pacelli), que ajudara-o a salvar e socorrer com muito proveito os judeus italianos durante a guerra.
40.  40.Blaise PASCAL nota em seus Pensamentos que a predição da época da vinda do Messias revela-se no estado do povo judeu, no do povo pagão, e nos números dos anos. No que respeita ao povo judeu, era mister de que o cetro fosse retirado de Judá (Gn 49, 10). No que respeita às nações pagãs, era mister da ascensão do quarto império, anunciado por Daniel (2, 31-45 e 7, 1-27), o Império Romano. Quanto ao número de anos, era mister de que se passassem setenta semanas de anos, conforme predição do mesmo Daniel (9, 24-27). Era sobretudo mister, sublinha Pascal, de “que todos esses sinais se dessem ao mesmo tempo”. Cumpriram-se todos à época de Jesus Cristo.

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