domingo, 10 de abril de 2011

CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO - Parte 22

CAPÍTULO V
O conselho de Ambrósio

  Terminadas as férias, informei aos milaneses que providenciassem para seus estudantes outro vendedor de palavras, visto que determinara consagrar-me a teu serviço; e mesmo porque não podia mais exercer aquela profissão pela dificuldade de respirar e pelas dores que sentia no peito.

  Também comuniquei por escrito a teu bispo  e santo bispo Ambrosio, os meus antigos erros, minha intenção atual, para que me indicasse o que deveria ler de preferência em tuas Escrituras, a fim de me preparar e dispor melhor para receber tão grande graça.   Ele me indicou o profeta Isaías, creio que porque anuncia mais claramente que os demais o Evangelho e vocação dos gentios. Contudo, nada tendo compreendido na primeira leitura, e julgando que toda a obra era assim, decidi voltar a ela quando estivesse mais familiarizado com a palavra do Senhor. 

CAPÍTULO VI
Batismo de Agostinho. Seu filho Adeodato

  Chegado o tempo em que convinha nos inscrever para receber o batismo, deixamos o campo, e voltamos para Milão. 
  Alípio também quis renascer em ti comigo, já revestido de humildade tão conforme a teus sacramentos. Era tão enérgico domador do seu corpo, que caminhava com os pés descalços, com insólita coragem, sobre o chão gelado da Itália.
  Juntamos também a nós o jovem Adeodato, filho carnal de meu pecado; a quem dotaste de grandes qualidades. Tinha cerca de quinze anos, mas por seu talento ultrapassava já muitos homens maduros e doutos. Confesso-te que eram dons teus, meu Senhor e meu Deus, criador de todas as coisas, tão poderoso para corrigir nossas deformidades, pois este menino nada havia de meu, senão meu pecado. Se o criei em tua disciplina, foste tu, e mais ninguém, quem no-lo inspirou. Sim, confesso que eram dons teus.
  Há um livro meu que se intitula O Mestre, no qual Adeodato dialoga comigo. Tu sabes que todos os pensamentos ali manifestados são dele quando tinha dezesseis anos. Muitas outras qualidades maravilhosas notei ainda nele, admirado por sua inteligência. Mas quem, além de ti, poderia ser o autor dessas maravilhas? Cedo o arrebataste desta terra; e a lembrança dele se torna mais tranqüila, nada mais tendo a temer por sua infância, por sua adolescência ou por toda sua vida adulta. Associamo-lo a nós como irmão na graça, para educá-lo em tua lei. Fomos batizados, e os remorsos de nossa vida passada se afastaram de nós.
  Naqueles dias eu não me fartava de considerar a grandeza de teus desígnios para a salvação do gênero humano, pela inefável doçura que sentia. Quanto chorei ao ouvir, profundamente comovido, teus hinos e cânticos que ressoavam suavemente em tua Igreja! Penetravam aquelas vozes em meus ouvidos, e destilavam a verdade em meu coração. Acendia-se em mim um afeto piedoso, corriam-me lágrimas dos olhos, e o pranto me consolava. 

CAPÍTULO VII
O canto dos fiéis.
Os corpos de São Gervásio e de São Protásio

  Não havia muito tempo que a igreja de Milão começara a adotar essa prática consoladora e edificante do canto, com grande regozijo dos fiéis, que uniam em um só coro as vozes e o coração. Havia um ano, ou pouco mais, que Justina, mãe do imperador Valentiniano, ainda menor, seduzida pelos arianos, perseguia, por causa de sua heresia, teu servo Ambrósio. O povo fiel passava as noites na igreja, disposto a morrer com seu bispo.
  Nesse meio estava minha mãe, tua serva, uma das primeiras no zelo dessas inquietações e vigílias, não vivendo senão de orações. Nós, apensar de ainda frios, sem o calor de teu Espírito, nos sentíamos comovidos pela perturbação e consternação da cidade.
  Foi então que se fixou o costume de cantar hinos e salmos, como se faz no Oriente, para que os fiéis não se consumissem no tédio e na tristeza. Desde esse dia esse costume manteve-se, e no resto do mundo, quase todas as tuas comunidades de fiéis passaram a adotá-lo.
  Foi também nessa época que revelaste em sonho ao bispo Ambrósio o lugar em que jaziam ocultos os corpos dos mártires Gervásio e Protásio, que durante muito tempo, conservastes intactos no tesouro de teus segredos, a fim de revelá-los no momento oportuno para refrear o furor de uma mulher, embora imperatriz.
  Com efeito, depois de descobertos e desenterrados, ao serem transladados com as honras
convenientes para a basílica ambrosiana, alguns possessos, atormentados pelos espíritos imundos, foram curados, conforme confissão dos próprios demônios. Também um cidadão, cego havia muitos anos, e muito conhecido na cidade, perguntou a razão daquele alvoroço e alegria populares; informado, pediu a seu guia que o levasse até ás relíquias. Lá chegando, obteve permissão para tocar com um lenço o ataúde de teus santos, cuja morte havia sido preciosa a teus olhos. Feito isto, aplicou o lenço aos olhos, que imediatamente se abriram. 
  A noticia do milagre logo se propagou, e imediatamente se ouviram teus louvores com fervor, e o coração de tua inimiga, sem se converter à tua fé, reprimiu contudo o furor da perseguição.
  Graças te dou, meu Deus! De onde e para onde guiaste minha memória, para que também te confessasse estes acontecimentos que, embora grandes, eu já havia esquecido e omitido?
  Todavia, quando assim exalava o odor de teus perfumes, eu ainda não corria atrás de ti. Eis que redobrava minhas lágrimas ao ouvir teus cânticos. Outrora eu suspirava por ti, e enfim respirava o pouco ar de uma choça de feno (alusão ao profeta Isaias,40,6)

CAPÍTULO VIII
Mônica

  Tu, que fazes morar na mesma casa os que têm coração unânime, trouxeste pra junto de nós Evódio, jovem de nosso município que, militando como agente de negócios do imperador, se convertera e recebera o batismo antes de nós, abandonara a milícia do século, alistando-se na tua. 
  Estávamos juntos, e juntos pensávamos viver nosso santo propósito. Buscávamos um lugar onde nos pudéssemos instalar mais comodamente para te servir e juntos rumávamos para a África quando, chegando a Óstia, na foz do Tibre, faleceu minha mãe. 
  Muitas coisas passo em silêncio, porque tenho pressa. Recebe minhas confissões e ações de graças, meu Deus, pelas inúmeras bondades que não menciono aqui. Mas não quero calar o que brota de minha alma a respeito desta tua serva, que me gerou na carne para a luz temporal, e no coração para a luz eterna. Não referirei suas qualidades, nem a si mesma se havia educado. Foste tu quem a educaste, nem seu pai, nem sua mãe sabiam o que viriam a ser aquela a quem geraram. A disciplina de teu Cristo, a doutrina de teu Filho único educaram-na em teu temor em uma família fiel, digno membro de tua Igreja.
  Nem ela mesma enaltecia o zelo da mãe em educá-la, quanto o de uma velha serva, que carregara seu pai quando menino, como hoje as meninas maiores costumam carregar as crianças, às costas. 
  Estas recordações, sua idade avançada e hábitos exemplares lhe asseguravam naquela casa cristã o respeito de seus amos. Ela própria cuidava solicitamente das meninas que lhe haviam sido confiadas, ora repreendendo-as quando fosse o caso, com santa e enérgica severidade, ora instruindo-as com discreta prudência. Afora do horário em que tomavam uma sóbria refeição à mesa de seus pais, ainda que tivessem muita sede, nem água permitia que elas bebessem, precavendo com isso um mau costume.  E acrescentava este sábio aviso: “Agora bebeis água, porque não tendes como beber vinho; mas quando estiverdes casadas, donas da despensa e da adega, deixareis a água, mas continuará o hábito de beber”.
  E unindo assim o conselho à autoridade, refreava os apetites daquela tenra idade, e acostumava aquelas jovens à temperança, para que não tivesse desejo do que não lhes convinha. 
  No entanto – como tua serva me contou a mim, seu filho – insinuou-se nela certo gosto pelo vinho. Julgando-a menina sóbria, seus pais a escolheram, como era costume, para tirar o vinho do tonel. Mergulhava a caneca pela parte superior do recipiente e, antes de passar o vinho para a garrafa, sorvia com a ponta dos lábios um pouquinho; era-lhe impossível beber mais, porque o vinho lhe repugnava. Não fazia isto movida pela inclinação à embriaguez, mas pela exuberância juvenil, que se manifestava em movimentos, em brincadeiras, e que na meninice costumam ser reprimidos pela autoridade severa dos mais velhos. Mas, acrescentando todos os dias uns goles àqueles goles – pois quem descuida das coisas pequenas pouco a pouco cai nas maiores – acostumou-se a esvaziar avidamente copos quase cheios de vinho puro.
  Onde estava então a prudente anciã, e sua severa proibição? Mas que remédio curaria um mal oculto se tua medicina, Senhor, não velasse sobre nós? Na ausência do pai, da mãe e das amas, estavas lá tu que nos criaste, que nos chamas, e que por meio dos que nos educam fazes o bem para a salvação das almas. Que fizeste então, meu Deus? Como a socorreste? Como a curaste? Fizeste sair de outra pessoa, segundo tuas secretas providências, um sarcasmo duro e pungente como ferro medicinal, para curar de um só golpe aquela gangrena. 
  A criada que costumava acompanhá-la à adega, discutindo com sua jovem senhora, como às vezes acontece, estando as duas a sós, lançou-lhe em rosto sua intemperança, chamando-a insultuosamente de bêbada. Ferida por esse sarcasmo, a jovem reconheceu a fealdade daquele hábito, reprovou-o, e no mesmo instante o abandonou.
  Assim como muitas vezes as lisonjas dos  amigos nos pervertem, assim os insultos dos inimigos nos corrigem. Mas não é o bem que nos fazem por seu intermédio que retribuis, mas a intenção com que o fazem. Aquela criada zangada pretendia ofender sua jovem senhora, e não corrigi-la; e se o fez às escondidas foi só por força da circunstância do lugar e tempo, ou para que não viesse a sofrer por denunciar tão tarde o costume de sua senhora.
  Mas, tu, Senhor, governador do céu e da terra, que desvias para teus desígnios as águas da torrente e regulas o curso turbulento dos séculos, curaste a loucura de uma alma com a insânia de outra. Por isso ninguém, ao considerar o caso, atribua a seu poder pessoal o mérito de ter corrigido com suas palavras a alguém cuja emenda deseja conseguir. 

CAPÍTULO IX
Esposa e mãe exemplar

  Educada assim na modéstia e na temperança, mais sujeita a seus pais pela tua mão que por seus pais a ti, logo que chegou à idade núbil, foi dada em matrimônio a um homem, a quem serviu como a senhor. Procurou conquistá-lo para ti, falando0lhe de ti com suas virtudes, com as quais tu a tornavas bela e reverentemente amável e admirável ante seus olhos. Suportou suas infidelidades conjugais com tanta paciência, que jamais teve com ele a menor briga por isso, pois esperava que tua misericórdia viria sobre ele, e que lhe trouxesse, com a fé, a castidade.
  Seu marido, se de um lado era sumamente afetuoso, por outro era extremamente colérico, mas ela tinha o cuidado de não contrariá-lo nem com ações, nem com palavras, se o visse irado. Logo que o via calmo e sossegado, oportunamente, mostrava-lhe o que havia feito, se por acaso se tivesse irritado desmedidamente. 
  Muitas senhoras, embora tendo maridos mais calmos, traziam no rosto as marcas das pancadas que as desfiguravam. Conversando entre amigas, lamentavam a conduta dos maridos. Minha mãe reprovava-lhes a língua e, como por gracejo, lembrava-lhes que, desde a leitura do contrato matrimonial, deviam considerá-lo como documento que as tornava servas, e portanto proibia-lhes de serem altivas com seus senhores. Essas senhoras, que conheciam o mau gênio de seu marido, admiravam-se de que jamais  ninguém tivesse ouvido ou percebido qualquer indício que Patrício maltratasse a mulher, nem sequer que algum dia tivessem brigado por questões domésticas. E como lhe pedissem confidencialmente a razão disso, minha mãe expunha-lhes seu agir habitual, como acima mencionei. Algumas, após experimentar, punham-no em prática e davam-lhe graças; as que não a imitavam continuavam a sofrer humilhações e violências. 
  Sua sogra, a princípio irritara-se contra ela por causa dos mexericos de criadas malévolas. Mas conseguiu conquistá-la  com respeito, contínua tolerância e mansidão, que ela mesma, espontaneamente, denunciou ao filho as línguas intrigantes das criadas, que perturbavam a paz doméstica entre ela e a nora, e pediu que as castigasse. Ele, em obediência à mãe, para manter a disciplina familiar e a harmonia entre os seus, mandou açoitar as acusadas, segundo a vontade da acusante; e esta prometeu-lhes ainda que esse era o prêmio que devia esperar quem, querendo agradá-la, lhe dissesse mal da nora. E ninguém mais se atreveu a fazê-lo, e viveram as duas em doce e memorável harmonia. 
  A esta tua boa serva, em cujo seio me criaste, ó meu deus, minha misericórdia, dotaste de outra grande virtude: a de intervir como pacificadora, sempre que podia, nas discórdias e querelas. Daquilo que ouvia de queixas amargas, vomitadas com animosidade ressentida, quando na presença de uma amiga os ódios mal digeridos se desafogam em amargas confidencias a respeito de uma amiga ausente, ela nada referia uma à outra, senão o que poderia servir para a reconciliação.
  Este dom me pareceria de pouca monta se uma triste experiência não me houvesse mostrado grande número de pessoas – por não sei que horrível contagio de pecados, espalhados por toda parte – que não só revelam as palavras pesadas de inimigos irados, mas que ainda acrescentam coisas que não foram ditas. Quem fosse realmente humano, deveria ter em pouca conta ou não excitar nem fomentar as inimizades dos homens, e melhor ainda procurar extingui- las com boas palavras.
  Assim era minha mãe, ensinada por ti, mestre interior, na escola de seu coração.
  Por fim, conquistou para ti o seu marido, já no fim da vida, não tendo que lamentar no cristão o que havia tolerado no infiel.
  Ela era verdadeiramente a serva de teus servos, e todos os que a conheciam te louvavam, honravam, te amavam em sua pessoa, porque  percebiam tua presença em seu coração, confirmada pelos frutos de uma vida santa. 
  Havia sido mulher de um só homem, cumprira sua dívida de gratidão com os pais, governara sua casa piedosamente e dava testemunho com suas boas obras. Educara os filhos, dando-os à luz tantas vezes quantas os via apartarem-se de ti. 
  E de nós, que nos chamamos teus servos por liberalidade tua, nós que vivemos em comum na graça de teu batismo, antes de adormecer em tua paz, ela cuidou de nós como se todos fôssemos seus filhos, e de tal modo nos serviu como se fosse filha de cada um de nós. 

CAPÍTULO X
O êxtase de Óstia

  Estando já próximo o dia em que teria de partir desta vida – que tu, Senhor, conhecias, e nós ignorávamos – sucedeu, creio, por disposição de teus ocultos desígnios – que nos encontrássemos sós, eu e ela, apoiados em uma janela que dava para o jardim interior da casa em que morávamos. Era em Óstia, sobre a foz do Tibre, onde, longe da multidão, depois do cansaço de uma longa viagem, recobrávamos forças para a travessia do mar.
  Ali, sozinhos, conversávamos com grande doçura, esquecendo o passado, ocupados apenas no futuro, indagávamos juntos, na presença da Verdade, que és tu, qual seria a vida eterna dos santos, que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração do homem pode conceber. Abríamos ansiosos os lábios de nosso coração ao jorro celeste de tua fonte – da fonte da vida que está em ti – para que, banhados por ela, pudéssemos de algum modo meditar sobre coisa tão transcendente. 
  Nossa conversa chegou à conclusão que nenhum prazer dos sentidos carnais, por maior que seja, e por mais brilhante e maior que seja a luz material que o cerca, não parece digno de ser comparado à felicidade daquela vida em ti. Elevando nosso sentimento para mais alto, mais ardentemente em direção ao próprio Ser, percorremos uma a uma todas as coisas corporais, até o próprio céu, de onde o sol, a luz e as estrelas iluminam a terra.
  E subimos ainda mais em espírito, meditando, celebrando e admirando tuas obras, e chegamos até o íntimo de nossas almas. E fomos além delas, para alcançar a região da abundância inesgotável, onde apascentas eternamente a Israel com o alimento da verdade, lá onde a vida é a própria Sabedoria, por quem foram criadas todas as coisas, as que já existem e as vindouras, sem que ela própria se crie a si mesma, pois existe agora como antes existiu e como sempre existirá. Antes, nela não há nem passado, nem futuro: ela apenas é, porque éeterna; mas ter sido ou haver de ser não é próprio do ser eterno.
  E enquanto assim falávamos dessa Sabedoria e por ela suspirávamos, chegamos a tocá-la momentaneamente com supremo ímpeto de nosso coração; e, suspirando, deixando ali atadas as primícias de nosso espírito, e voltamos ao ruído vazio de nossos lábios, onde nasce e morre a palavra humana, em nada semelhante a teu Verbo, Senhor nosso, que subsiste em si sem envelhecer, renovando todas as coisas!
  E dizíamos: Suponhamos que se calasse o tumulto da carne, as imagens da terra, da água, do ar e até dos céus; e que a própria alma se calasse, e se elevasse sobre si mesma não pensando mais em si; se calassem os sonhos e revelações imaginarias e, por fim, se calasse por completo toda língua, todo sinal, e tudo o que é fugaz – uma vez que todas as coisas dizem a quem sabe ouvi-las: Não fizemos a nós mesmas; fez-nos o que permanece eternamente – se, dito isto, todas se calassem, atentas a seu Criador; e se só ele falasse, não por suas obras, mas por si mesmo, de modo que ouvíssemos sua palavra, não por uma língua material, nem pela voz de um anjo, nem pelo ruído do trovão, nem por parábolas enigmáticas, mas o ouvíssemos a ele mesmo, a quem amamos nas suas criaturas, mas sem o intermédio delas, como agora acabamos de experimentar, atingindo em um relance a eterna Sabedoria, que permanece imutável sobre toda realidade, e supondo que essa visão se prolongasse, que todas as outras visões cessassem, e unicamente esta arrebatasse a alma de seu contemplador, e a absorvesse e abismasse em íntimas delícias, de modo que a vida eterna seja semelhante a este momento de intuição que nos fez suspirar, não seria isto a realização do entrar em gozo de teu Senhor? Mas quando se dará isto? Por acaso quando todos ressuscitarmos? Mas então não seremos todos transformados?
  Tais coisas dizíamos, embora não deste modo, nem com estas palavras. Mas tu sabes, Senhor, que naquele dia, à medida que falávamos dessas coisas, quanto nos parecia vil este mundo, com todos os seus deleites – disse-me minha mãe: “Filho, quanto a mim, já nada me atrai nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem por que ainda estou aqui, se já se desvaneceram pra mim todas as esperanças do mundo. Uma só coisa me fazia desejar viver um pouco mais, e era ver-te católico antes de morrer. Deus me concedeu esta graça superabundantemente, pois te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-lo. Que faço, pois, aqui?”

(Continua...)

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