segunda-feira, 18 de abril de 2011

Doutrina da Igreja Católica sobre o Diabo

Para quem não acredita no Diabo, a Igreja católica esclarece esta verdade contida nas Sagradas Escrituras. Uma das armas de Satanás utilizada por ele é fazer-se desacreditado por quem se deixa ser enganado, no entanto...
A nossa pregação não provém de erro, nem de intenções fraudulentas, nem de engano.
Mas, como Deus nos julgou dignos de nos confiar o Evangelho, falamos, não para agradar aos homens, e sim a Deus, que sonda os nossos corações. (I Tes 2, 3-4)





Segundo a tradição bíblico-patrística, o diabo não é a personificação das paixões, mas uma pessoa, criada por Deus como anjo e, tendo perdido a comunhão com Ele, converteu-se em espírito obscuro, o diabo. Como pessoa, o diabo tem livre arbítrio, isto é, tem liberdade e esta liberdade não é violada por Deus.

O mistério do pecado atua na história porque o diabo continua gerando o mal e fazendo sua obra catastrófica como desde o início. A Tradição bíblica e patrística, fora de toda consideração teórica e ética do bem e do mal, fala sobre o rival astuto de Deus e do inimigo do homem. Este inimigo é o diabo que tem a intenção é destruir toda a autêntica vida, pois ele é um espírito de morte.Ele é uma personalidade concreta, um ser concreto. Introduz-se com a injúria, com a arrogância e o engano na história, com a pretensão de destruir a Deus e aos homens. O pecado, os sofrimentos, a morte são gerados por ele, pois espalha a ruína e o ódio, exercendo seu poder e domínio. O mal não é uma soma de ações puramente humanas; suas raízes se encontram na autoridade diabólica. É uma força que está fora do homem e de sua natureza, a quem, exercendo seu livre arbítrio, pode aceitar ou rechaçar.

O diabo originou-se a partir da vontade e ação de Deus. Os demônios não foram criados maus, pois Deus não criou o mal; tudo o que Deus cria é bom. Foram criados sem maldade em sua essência, e, em sua natureza, livres, independentes e com o livre arbítrio, exatamente como aconteceu com os anjos. Após sua voluntária queda, de seres puros se converteram em seres sombrios, impuros e violentos.

As legiões demoníacas são numerosas, distinguindo-se, umas das outras, por grupos ou classes. A multidão dos demônios e sua distinção em grupos ou classes é baseada em suas diferentes obras e nos diversos nomes que recebem. Sendo, pois inúmeros e recebendo variados nomes, lutam continuamente para frustrar a obra redentora de Cristo.


Incapazes de prejudicar diretamente a Deus, se dirigem aos homens para, com seus poderes maléficos, travarem uma luta com eles, confundindo suas vontades, criando tentações, nos envolvendo em paixões, nos deixando confusos e obstruindo nosso tempo de oração. Para tanto, usa de várias faces e máscaras, gerando toda espécie de conflitos.

A tentação e a luta do diabo não estão acima das forças dos homens, não viola o livre arbítrio e não danifica a sua essência natural. A força do diabo não é imperativa dependendo sempre de nossa liberdade. Se sucumbirmos à tentação é porque nossa vontade assim o permitiu. Os Padres da Igreja ressaltam que o homem nunca fica só. Se a Graça de Deus deixa o homem, ele se torna um ser completamente vulnerável, permeável às influências do demônio. São Simeão, o Novo Teólogo, diz que "se não é Deus quem dirige os homens, o diabo é quem os manipula, com o consentimento e colaboração do próprio homem".

Por isso, o homem fiel a Deus é chamado a estar sempre vigilante e em oração, pois Satanás não cessa de esconder-se e mascarar-se, com o intuito de enganar e corromper a alma humana. É mestre em perverter as palavras do Evangelho e a linguagem da Cruz, prometendo aos insensatos, facilidades e comodidades. Existe o perigo de que cheguemos à degradação total se nos entregarmos às tentações e seduções satânicas.

Se o diabo tem a possibilidade de transformar-se em qualquer coisa, até mesmo em "anjo", podemos imaginar quão ardiloso ele é, usando de coisas inocentes e frágeis, para atrair os mais ingênuos. Tenta persuadir para destruir nos homens aquilo que lhe é mais caro: a liberdade.

Muitos dizem "não existe nem Deus e nem tão pouco o diabo". A negação da existência dos demônios equivale a descartar a Economia Divina da Santíssima Trindade. Cristo humilhou e despojou as autoridades das trevas. A negação de sua existência facilita muito o trabalho e a ação destas forças do mal. Muitos homens modernos crêem que não existe satanás. Por causa disso, temos que nos preparar para assistirmos surpreendentes sinais dos prodígios do demônio. Pois tudo o que ele quer, é que creiamos que não exista para que, assim, possa agir mais livremente, nos corações desprevenidos. Temos que nos preparar para fazer frente a uma época de enganos e escuridão pela qual o mundo passará, inevitavelmente, se a maioria dos homens crerem na sua inexistência. Mas devemos confiar, sobretudo, na Onipotência Divina.

A Onipotência de Deus, de acordo com sua santa Vontade, não suprime a liberdade dos seres racionais. Deste modo, permite que o diabo, usando de sua liberdade, persista na obra do mal, porque também ele é um ser livre. No entanto, limita seu agir destrutivo por sua amizade e grande amor pelos seres humanos. Quando o homem se arrepende, Deus o perdoa, e deste modo, fica limitado o reino do mal. O definitivo aniquilamento do poder do mal se dará no Juízo Final.

A obra de demônio é destrutiva, porque odeia infinitamente o homem e a Criação. Está possuído por uma exagerada misantropia mortífera. Inspira pensamentos contra Deus e contra o próximo, influencia a vontade do homem, atua na natureza ontológica do ser humano. Os Padres afirmam que, não podendo o homem compreender a existência e a fúria do diabo, que se manifesta nos ataques contra a alma, Deus permite que ele possua o corpo do homem, para que sua força seja conhecida.

Satanás conseguiu pelo engano e pela mentira submeter os homens às paixões e ao pecado. A causa que conduziu o homem ao pecado foi a  inveja. O diabo teve inveja de Adão, pois este habitava num lugar de delícias, o Paraíso, justamente de onde foi expulso.

A intenção de arrastar o homem ao pecado e ao sofrimento, acontece de modo gradual. São Gregório Palamás afirma que Satanás, muitas vezes, não age de forma direta, mas pouco a pouco vai engendrando astutamente a cilada para que o homem caia. Mas a sua grande intenção é destruir a Igreja. Ao atingir o homem, na verdade, quer atingir a Igreja, Corpo Místico de Cristo. Tenta introduzir no pensamento do homem que "de fato ele é livre e não precisa da Igreja ditando normas e leis, dizendo a ele o que pode e o que não pode fazer. Não é necessário obedecer aos padres para permanecer na virtude, basta deixar-se conduzir por si próprio." Quando o diabo consegue tirar o homem da vida eclesial, expulsando a graça de Deus de sua vida, este mesmo homem torna-se escravo das paixões e dos ditames do diabo.

Por que Deus permite que o diabo lute contra os homens?

São Máximo, o Confessor, cita cinco razões:

1. Para que nós cheguemos a distinguir a virtude do mal, através desta luta;

2. Para que, mediante esta luta, mantenhamo-nos firmes na prática da virtude.

3. Para que saibamos que a virtude é um dom de Deus;

4. Para que odiemos firmemente o mal;

5. Para que, cientes de nossa fragilidade, nos agarremos à força de Deus nos momentos de perigo.

Lamentavelmente, nossa educação e cultura ignoram esta realidade. Não só a combate como não permite que seja falado sobre o pecado e o demônio na sociedade. Por isso, com certeza, podemos dizer que o homem está cada vez mais vulnerável aos ataques demoníacos.

E nós Católicos, esquecemo-nos que pertencemos à Igreja de Cristo e entramos nela não para cumprir um dever formal e obter, com isso, nossa justificativa face aos preceitos religiosos, mas para a nossa salvação. Porque a Igreja é o lugar da salvação, onde entramos para nos libertar de doenças espirituais através da Palavra, dos Sacramentos e da Oração. Os Sacramentos foram dados à Igreja para a salvação do homem, para exorcizar o mal, combater e vencer a Satanás. Não podemos nos esquecer que ali onde está Cristo, não pode estar Satanás e, onde estão os demônios, tudo é corrupção e destruição, por isso Deus não pode estar lá.

Se vivermos nesta verdade, nos libertaremos mais facilmente da prisão que o demônio nos arma, conseqüência dos pecados que cometemos sob seu domínio. Mas, não temamos! Existe Cristo, existe a Igreja, existe a oração, existe a Sagrada Liturgia, existe a Confissão e a Eucaristia e, sobretudo existe o arrependimento. O demônio não quer o arrependimento do homem porque é ele que inicia a abertura das portas da prisão.

Uma comunidade eclesial que se deixa vencer pelo demônio ou que teme sua presença, é porque não conhece a força de Deus e da sua Igreja. Somos chamados a dar testemunho através de nossa reta doutrina, reta consciência e reto agir, de que o senhor do Mundo é Jesus Cristo. E não há nenhum outro Senhor a não ser o nosso Deus! Se o demônio domina e estende este senhorio sobre alguns homens, nem por isso, ele é verdadeiramente senhor da humanidade.

Certa ocasião, o Senhor respondeu a seguinte questão: "Tu és aquele que devias vir ou devemos esperar outro? E Jesus disse: "Ide e anunciai o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são curados, os mortos ressuscitam e os pobres recebem a Boa Nova. Já está entre vós o Reino de Deus"

Oxalá vivêssemos de fato esta verdade: o Reino de Deus já está em nosso meio e não o reino das trevas. Se realmente crêssemos nesta palavra o mundo seria melhor para as crianças, para os jovens e para os adultos. Os anciãos não temeriam a morte.

Os filhos de Deus não temem o mal!
 Pe. Agathangelos K. Charamantidis
Trad.: Pe. Pavlos, Hieromonge

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