sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo

Pe. Henrique Soares da Costa 

I - O mistério da Igreja 
O Cristo no qual acreditamos, adoramos e anunciamos ao mundo é aquele que resplandece na face da Igreja.
Ela é o
sacramento (sinal e instrumento) da união da humanidade com Deus e dos homens entre si. 
De onde vem a Igreja? Do sonho eterno do Pai!
Desde o princípio ele criou tudo para a amizade com ele, para a comunhão na sua vida divina e, mesmo quando o homem caiu pelo pecado, o Pai não o abandonou mas deu-lhe o auxílio em Jesus Cristo e predestinou eternamente toda a humanidade a ser conforme à imagem do Cristo Jesus, para que ele fosse o primogênito de muitos irmãos (cf. Rm 8,29).
Assim, o Pai quis reunir na santa Igreja todos os que acreditam no Cristo! 
Para isso, a Igreja foi prefigurada desde a origem do mundo. Por exemplo: a arca de Noé, a torre de Babel...
Foi
preparada na história de Israel e na antiga aliança: o povo em marcha, Jerusalém, o monte Sião, etc.
Foi
fundada nos últimos tempos pelo Senhor Jesus.
Foi
manifestada pela efusão do Espírito Santo.
No final dos tempos será
glorificada
Para realizar o seu plano de amor, o Pai enviou seu Filho:
ele veio para nos reconciliar com Deus e nos reunir no seu nome;
pregou a Boa Nova, que é o anúncio do Reino de Deus (reinado de Deus no coração do homem e do mundo); Cristo não só anunciou o Reino, mas também o instaurou;
e para difundi-lo fundou a
Igreja: escolheu Doze, colocando Pedro à frente, ensinou o Pai-nosso, mandou que seus discípulos batizassem e ordenou celebrar a Eucaristia até que ele volte. 
Ao terminar sua obra, enviou o Espírito Santo para santificar perenemente a Igreja e conservá-la unida a Cristo e vivendo nele e dele.
O Espírito habita na Igreja e no coração dos fiéis, suscita dons hierárquicos e carismáticos, ora nos fiéis e neles dá testemunho, impulsiona a Igreja a anunciar sempre o Evangelho. É ele a vida do Cristo ressuscitado, que nos ressuscitará no Último Dia. A Igreja vive no Espírito.
Nas Escrituras a Igreja foi apresentada com várias imagens:
o redil, do qual Cristo é a porta (cf. Jo 10,1-10);
o rebanho, do qual Deus é o Pastor através do Cristo (cf. Is 40,11; Ez 34,11;ss; Jo 10,11);
a lavoura, campo de Deus (cf. 1Cor 3,9);
a vinha eleita (cf. Mt 21,33-43; Is 5,1; Jo 15,1-5);
a construção de Deus (cf. 1Cor 3,9), cuja pedra angular é o Cristo. Esta construção tem como fundamento os apóstolos (cf. 1Cor 3,11);
a casa de Deus, a tenda de Deus entre os homens (cf. Ef 2,19-22; Ap 21,3);
o templo de Deus (cf. 1Pd 2,5)
a cidade de Deus, a nova Jerusalém, a esposa pronta para o Esposo (cf. Ap 21,1s; Gl 4,26; Ap 19,7; 22,17). 
Há uma imagem que é a mais bela e importante: a Igreja é o Corpo de Cristo!
Cristo ressuscitado, ao comunicar seu Espírito aos seus discípulos, fez deles membros do seu corpo, que é a Igreja.
Neste corpo difunde-se, pela ação do Espírito Santo, a Vida nova do Cristo ressuscitado através da celebração dos
sacramentos.
Este corpo, apesar de ser um só, tem vários membros, cada qual com sua função: é o Espírito quem torna este corpo sempre diversificado e sempre unido. Dentre todos os dons, destaca-se o ministério apostólico à cuja autoridade o próprio Espírito submete todos os carismas (cf. 1Cor 10,17; Rm 12,5; 1Cor 12,1-12; 1Cor 14).
A cabeça deste corpo é Cristo, que age no seu corpo dando-lhe a sua graça para que os membros vão se conformando a ele (cf. Cl 1,15-18; Ef 1,18-23; Gl 4,19).
Como o esposo e a
esposa são uma só carne, assim também Cristo e a Igreja, esposo e esposa, são uma só carne, um só corpo (cf. Ef 5,25-28).
Esta é a Igreja de Cristo:
uma comunidade de fé, esperança e amor,
ao mesmo tempo instituição visível e comunidade espiritual,
sociedade com órgãos hierárquicos e corpo místico de Cristo,
divina e ao mesmo tempo humana.
É esta Igreja que professamos una, santa, católica e apostólica,
que o Senhor confiou a Pedro e aos demais apóstolos para apascentar.
Esta Igreja de Cristo permanece na Igreja católica,
governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele.
Ela existe não para buscar a própria glória, mas para anunciar o Cristo, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, até que o seu Esposo e Senhor venha para consumar todas as coisas em glória. 
II - O povo de Deus 
Aprouve a Deus santificar e salvar os homens não individualmente, sem nenhuma ligação uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na verdade e santamente o servisse. Assim, Deus, no Antigo Testamento, escolheu Israel - figura do povo que devia vir - e, no Novo Testamento, a Igreja, povo de Deus da nova aliança. 
Este povo, que é a Igreja, tem como cabeça Cristo, tem por condição a liberdade dos filhos de Deus, por lei o mandamento do amor e por meta o Reino de Deus. Este povo peregrino é para a humanidade sinal de unidade, esperança e salvação.
Pelo Batismo, este é um povo sacerdotal, se bem haja no meio dele o sacerdócio ministerial.
Este povo exerce seu sacerdócio na celebração dos sacramentos, na construção do mundo e no exercício das virtudes na vida cristã de cada dia. 
O povo de Deus participa da função profética de Cristo e da unção do seu Espírito, de modo que jamais pode enganar-se na sua fé... Por isso a Igreja é infalível na sua fé católica e apostólica. 
Este povo é ainda sustentado pelo Espírito que nele reparte seus dons para a utilidade comum. O juízo último sobre a autenticidade e exercício de tais dons compete aos pastores da Igreja. 
Todos os homens são chamados a pertencer ao povo de Deus, para que Cristo seja cabeça de toda a humanidade. Este povo é, por isso, católico, chamado a penetrar em todas as culturas, assumi-las e purificá-las.
Este povo não somente é formado por vários povos, e exprime-se como único povo nas chamadas Igrejas particulares que gozam de suas tradições. Em cada uma dessas Igrejas está presente a Igreja una santa, católica e apostólica, pois aí os cristãos se reúnem na santa Eucaristia para escutar a Palavra sob a presidência do Bispo, sucessor dos apóstolos e do seu presbitério. 
A este povo são chamados todos os homens e a ele se ordenam de modos diversos, já que o único mediador entre Deus e os homens é Cristo, que se torna presente pelo seu Corpo, que é a Igreja. Assim, a Igreja é necessária para a salvação e não pode salvar-se aquele que sabendo que a Igreja católica foi fundada por Cristo não quiser nela entrar ou nela perseverar. 
É católico quem é batizado na Igreja católica, aceita a totalidade de sua fé e organização, bem como seus sacramentos. Contudo não se salva quem, permanecendo na Igreja, não persevera na caridade: permanece com o corpo e não com o coração. 
Alguns pontos de comunhão com os evangélicos: o batismo, a Escritura, a Trindade, a fé em Jesus salvador, alguns sacramentos, a unidade do Espírito Santo e, com os Orientais, o culto à Virgem Maria. 
Alguns pontos em comum com os judeus: a crença num único Deus, a mesma história de salvação, a mesma Escritura de Israel, os Patriarcas, a promessa, as alianças, a mesma esperança no messias. 
Alguns pontos em comum com os muçulmanos: a fé no único Deus, justo e misericordioso, a esperança no paraíso. 
Com todos os crentes: a abertura para o sobrenatural, a consciência que o homem sozinho não se basta. 
IV - A estrutura do Povo de Deus 
O povo de Deus é um povo de servidores, uma comunidade unida pelo Corpo eucarístico de Cristo, que vive na comunhão de fé e de amor, na diversidade dos ministérios e dos dons.
Na Igreja todos são ministros (=servidores). Há, no entanto, alguns ministérios que são chamados ordenados, instituídos pelo próprio Senhor ou pelos apóstolos: são o episcopado, o presbiterato e o diaconato. 
Os Bispos são os legítimos sucessores dos Doze que o Senhor colocou à frente de sua Igreja. Como Pedro era o cabeça do grupo dos Doze, assim também o sucessor de Pedro na Igreja de Roma é o cabeça do colégio dos Bispos. Cada Bispo diocesano é verdadeiramente vigário de Cristo na sua Igreja e torna presente o Cristo pastor, profeta e sacerdote no meio do seu povo. No seu ministério o Bispo é auxiliado pelo presbitério e pela ordem dos diáconos.
Jamais o Bispo pode exercer seu ministério isoladamente: deve estar em comunhão de fé e caridade com os outros membros do Colégio episcopal e com o seu cabeça, o Bispo da Igreja particular de Roma. No entanto o Bispo não é o representante do Papa na sua Igreja, mas o vigário do próprio Cristo! 
Quanto ao Bispo de Roma, ele é o sinal visível da unidade da Igreja católica, que é uma comunhão de Igrejas particulares. Por ser o pastor supremo da Igreja o Papa é infalível quando ensina ex cathedra sobre fé em costumes. Além do mais ele tem poder sobre toda a Igreja e sobre cada uma das Igrejas particulares, se for preciso utilizar sua autoridade. 
Os membros do povo de Deus que foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação e nutrem-se do Corpo do Senhor na Eucaristia são chamados de leigos (= membros do povo de Deus). Atenção: leigo = estar por dentro! Assim, leigo é todo membro do povo de Deus, exceto aqueles que receberam as ordens sagradas.
Também os leigos participam das funções sacerdotal, real e profética de Cristo. Seu serviço deve ser realizado dentro da comunidade eclesial e em relação ao mundo, nas áreas onde atuam. Os leigos têm uma tarefa toda especial em relação ao mundo a ser evangelizado, sendo sal e luz no ambiente onde vivem e trabalham.
Sua missão de anunciar o Evangelho não decorre da autorização da hierarquia, mas dos sacramentos do Batismo e da Confirmação. 
Há ainda aqueles, ordenados ou leigos, que se consagram a Deus pelos votos de pobreza, castidade e obediência: são os religiosos. A vida religiosa é um carisma entre tantos outros na Igreja. Um carisma que a Igreja acolhe e cerca de um cuidado todo especial. Eles são um sinal da radicalidade do Evangelho e têm a missão de recordar a toda a Igreja que somos peregrinos: não temos aqui na terra cidade permanente. 
Assim, a Igreja, povo de Deus, é uma comunhão de ministérios e carismas: todos são ministros, todos recebem carismas para o crescimento do corpo de Cristo! 
V - Toda a Igreja é chamada à santidade enquanto peregrina para a Pátria 
A Igreja é indefectivelmente santa, porque Cristo, Filho de Deus, que com o Pi e o Espírito Santo é proclamado único Santo amou a Igreja como sua esposa e se entregou por ela para purificá-la (cf. Ef, 5,25s). Uniu-a a si como seu corpo e a vivificou com o seu Espírito. Isto somente pode ser percebido na fé.
Por isso, todos os membros da Igreja participam já agora da sua santidade, devem testemunhá-la com sua vida e crescer cada vez mais nesta santidade: somos santos e chamados a ser santos (cf. 1Ts 4,3; Ef 1,14). 
No entanto, é necessário também reconhecer que a Igreja é santa e pecadora: indefectivelmente santa pelo Espírito do Cristo que nela habita; pecadora, pela fraqueza de todos os seus membro. 
Instrumentos de santificação:
a vida sacramental, a vivência da Palavra de Deus,
a vida de oração,
a prática das boas obras,
a fidelidade ao estado de vida (a diversidade no modo de viver a santidade),
a vivência da caridade fraterna, sobretudo na comunidade eclesial,
a colaboração na construção e santificação do mundo.
Este povo santo e pecador é peregrino: seu destino é a Pátria eterna, a Glória de Deus, na comunhão com o Pai pelo Filho no Espírito, quando, então, Cristo levará sua Igreja à plenitude e haverá de  purificá-la completamente. 
Já agora Cristo vai conduzindo e atraindo sua Igreja na potência do Espírito, de modo que podemos dizer que o final dos tempos já chegou. Esta consciência empenha os cristãos a viverem na expectativa do Dia do Senhor, desejando-o ardentemente.
Saber que caminha para a Pátria faz a Igreja:
            auto-relativizar-se: ela não é fim em si mesma, mas humilde instrumento; não é senhora, mas serva;
            relativizar o mundo com suas grandezas: tudo é provisório quando comparado às promessas do Senhor; nada é perfeito, completo, eterno; tudo é sujeito à crítica e ao aperfeiçoamento;
            encher-se de esperança já agora, na certeza que Deus cumprirá as promessas. Assim, a Igreja colabora na construção de um mundo melhor esperando o mundo que há de vir. 
Até que o Senhor venha, alguns de seus discípulos peregrinam ainda na terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto outros ainda, já glorificados em Deus uno e trino, esperam somente a ressurreição final, quando nossos corpos serão glorificados no Corpo de Cristo, que é a Jerusalém celeste, a Igreja da Glória. Todos estes irmãos, seja em que estado se encontrem, estão unidos na mesma caridade do Pai, que é o Espírito Santo, difundido no Corpo de Cristo. A comunhão entre nós e os irmãos que já partiram de modo nenhum se interrompe, antes, é aprofundada e purificada... até que, no Último Dia, o Dia da ressurreição, estejamos todos com Cristo, na Igreja da glória, na Jerusalém celeste, num novo céu e nova terra. 
Esta Igreja peregrina contempla a Virgem Maria como sua prefiguração e a certeza do triunfo final da graça. Maria, membro supereminente da Igreja, perfeita redimida, é modelo da comunidade eclesial, virgem e mãe:
            como ela, a Igreja, crendo e obedecendo deve gerar, na potência do Espírito, pelo Batismo, os irmãos de Jesus neste mundo;
            como Maria a Igreja é virgem, pois guarda íntegra e pura a palavra dada ao Esposo;
            como Maria, a Igreja peregrina na fé e na esperança vai cantando seu magnificat, na esperança da Glória eterna.

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