quinta-feira, 7 de abril de 2011

A ira do Cardeal Zen sobre o “diálogo a qualquer custo” do Pe. Heyndrickx e Propaganda Fide.

Nosso sincero agradecimento a um grande amigo que fez a gentileza de traduzir este artigo para publicação no Fratres in Unum.
* * *
Card. Joseph Zen Zekiun, sdb
Card. Joseph Zen Zekiun, sdb
O “estado desastroso” da Igreja na China é causado pela Política de Pequim, mas também pela política vaticana, parecida por demais à política falida da Ostpolitik do Cardeal Casaroli. Dialogar, mas sem vender a nossa fé. Risco de cisma para aqueles bispos que estão “entusiasmados”  por obedecer o regime. Um espírito de penitência e conversão para todos.
 Hong Kong (AsiaNews) – A Igreja na China está num “estado desastroso” causado pela dureza do regime, mas também porque um “triunvirato” (o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, um minutante desta Congregação e o Padre Jerrom Heyndrickx, missionário de Scheut, seus conselheiros) continuam a induzir o Vaticano ao compromisso com o regime chinês, seguindo o mesmo modelo da Ostpolitik do Cardeal Casaroli. Esta atitude levou muitos bispos da Igreja oficial a participarem da ordenação ilícita de Chengde (20.11.2010 – Chengde: otto vescovi uniti al papa partecipano all’ordinazione illecita) e da Assembléia nacional dos representantes católicos (09.12.2010 – L’Assemblea patriottica cinese vota la sua leadership. Un grave danno per la Chiesa), em clara desobediência às indicações de Bento XVI. Segundo o bispo emérito de Hong Kong, é necessário que a Santa Sé dê indicações precisas à Igreja na China para evitar uma situação de cisma, na qual muitos bispos oficiais obedecem “entusiasmados” ao governo e não ao papa.
O Card. Zen desenvolve as suas argumentações no escrito que enviou, em resposta a uma reflexão do Pe. Jeroom Heyndrickx, publicada no n. de 16 de março de 2011 pela Ferdinand Verbiest Update. Nesta, o sacerdote belga, especialista sobre a Igreja na China, sublinha o fato de que, não obstante o “tapa” dado ao papa com as ordenações de Chengde e com a Assembléia de Pequim, convém prosseguir em diálogo com o governo chinês e não julgar de modo pesado os bispos, não deixando-se levar por “malentendidos” acerca de sua fidelidade “apesar das muitas violações às leis canônicas” (cf. Verbiest Update 16 – March 2011).
Eis o escrito do Cardeal Joseph Zen.
Resposta do Cardeal Zen ao N. 16 do Ferdinand Verbiest Update
Como já em outras vezes, o Pe. Jeroom Heyndrickx escolhe os Papas e os contrapõe uns aos outros. Neste caso, contrapõe o Papa Paulo VI ao Papa Pio XI: enquanto o Papa Paulo seria pelo diálogo, o Papa Pio XI amaria o confronto.
O diálogo
Quero recordar ao bom Padre Heyndrickx que há diálogo e diálogo: uma coisa é quando um Papa fala a todos sobre o grande princípio do diálogo, outra coisa é quando um Papa fala àqueles que estavam matando cruelmente seus filhos.
Pensando em nosso caso, me pergunto: devemos procurar palavras doces para falar àqueles que deram um tapa em nosso amado Santo Padre? O que significaram os fatos do fim de novembro e início de dezembro senão um tapa ao Papa?
O diálogo é certamente a “via mestra”, mas, infelizmente, alguém fechou as portas do diálogo na cara do interlocutor, que conciliador até demais.
Ostpolitik
O Padre Heyndrickx é um entusiasta da Ostpolitik do Cardeal Casaroli e afirma que o Papa Paulo VI a tinha sustentado fortemente. Não sei o quanto Paulo VI terá sustentado a política de Casaroli no Leste europeu, mas sei, de pessoa autorizadíssima, que quando João Paulo II se tornou Papa, disse “Basta!” a esta política.
O Cardeal Casaroli e os seus sequazes se enganavam pensando que tinham realizado milagres com uma política de compromisso até o fim; na verdade, fizeram as pazes, sim, com Governos totalitários, causando um desastroso enfraquecimento da Igreja. Basta escutar qualquer eclesiástico daqueles países. Um destes me contava que, um dia, o Cardeal Wyzinsky foi a Roma dizer a um oficial da Cúria Romana que tirassem as mãos da Igreja da Polônia.
Padre Heyndrickx tenta puxar o Papa João Paulo II para o seu lado, louvando a sua moderação; mas se esquece o fato de que foi o próprio Papa João Paulo II que impulsionou a canonização dos mártires da China, sabendo muito bem que isto suscitaria a ira de Pequim e, como o próprio Padre Heyndrickx reconhece, o Papa não pediu desculpas por tal canonização.
Mas voltemos à nossa Igreja na China, hoje.
A Igreja na China
A nossa Igreja na China foi reduzida a um estado desastroso exatamente porque, nestes últimos anos, alguém está fazendo cega e teimosamente a mesma política da Ostpolitik, contra a direção dada pelo Papa Bento XVI em sua Carta à Igreja da China, de 2007, e contra a opinião da grande maioria dos membros da Comissão que o Papa instituiu para o aconselhamento acerca dos modos de ajudar a Igreja na China.
O diálogo e o compromisso são necessários. Mas existe um limite. Não podemos, para agradar o Governo de Pequim, renunciar à nossa fé e à nossa disciplina eclesiástica, naquilo que tem de essencial.
Em 2007, o Papa Bento XVI julgou que tinha chegado o momento de esclarecer. E a Comissão para a China acreditava que tivéssemos chegado ao limite do compromisso e seria necessário parar por aí. Mas o triunvirato – o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, um minutante desta mesma Congregação e o Padre Heyndrickx – pensam que sabem mais que todos nós.
Certo, a Igreja da Polônia era mais forte e corajosa. A nossa Igreja da China não é assim. Mas a coragem não pode ser dada por quem não a tem. Os nossos bispos precisavam ser incentivados à coragem. Ao invés disso, alguém sempre lhes mostrou uma errada compaixão, que terminou por afundá-los ainda mais na lama da escravidão.
Alguém disse àqueles nossos irmãos: “Nós compreendemos as vossas dificuldades”. O que quer dizer “nós vos compreendemos, também se, pela pressão à qual estais sujeitos, obedeceis às ordens do Governo”. Mas, neste caso, obedecer o Governo quer dizer faltar gravemete contra a fidelidade devida ao Papa e à comunhão com a Igreja universal!
Depois da ordenação de Chengde e da Oitava Assembléia, algum bispo envolvido pediu perdão aos seus sacerdotes. Algum outro chorou amargamente. Mas existem alguns que, como diz o Padre Heyndrickx, são entusiastas da situação atual. Temo que estes não sejam mais dos nossos. É apenas a bondade do Papa que não lhe faz chamar de cismática a presente Igreja oficial na China, que declarou solenemente sua vontade de ser uma Igreja independente, com ordenações episcopais sem o mandato pontifício.
À procura dos culpados
O Padre Heyndrickx joga a responsabilidade sobre os não especificados “elementos conservadores do Partido Comunista Chinês”. Certamente o Partido é responsável. Mas todos vêem também que o grande artífice foi o Sr. Liu Bai Nian, que conseguiu colocar como chefes da Associação Patriótica e da Conferência Episcopal dois bispos a ele submissos, e agora, também como Presidente onorário, vai trabalhar todos os dias diligentemente.
Não entendo porque, quando se fala de desobediências e de merecidos castigos, o Padre Heyndrickx tenha de incluir igualmente a comunidade não oficial. Quais são os atos que justificam colocar no mesmo nível os nossos irmãos perseguidos com estes outros, honrados e exaltados pelo Governo?
Entre aqueles “políticos que tentam dividir a Igreja” e aqueles “de fora da China que se apressam a julgar”, encontra-se evidentemente o subcrito. Este é culpado de ter iniciado uma reunião de oração, em espírito de penitência e conversão. Faço questão de precisar, porém, que todos nós estávamos explicitamente incluídos entre aqueles que tinham necessidade de conversão e arrependimento.
Enquanto discutimos quem sejam os culpados, tudo permanece parado e os fiéis da China esperam em vão pelos esclarecimentos sobre como deve ser ainda a nossa Igreja. Cada dia que passa é uma eternidade para as suas dores. Quando o Senhor escutará, finalmente, as suas súplicas?

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...