sábado, 30 de julho de 2011

Peregrinos voltam à fonte do Messias

[IHU]



Nos próximos meses, na piscina baptismal em forma de cruz, são esperados milhares de turistas. Por trás da restauração, também está uma disputa nacionalista: para os jordanianos, o batismo de Jesus aconteceu na outra margem do rio.
A reportagem é de Pietro Del Re, publicada no jornal La Repubblica, 27-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há dois mil anos, essa curva do Jordão não devia se assemelhar à poça lamacenta que se tornou, onde João Batista batizou o Cristo de 30 anos, purificando o seu espírito e marcando o início da sua pregação. Na semana passada, esse lugar sagrado foi reaberto ao público pelo Ministério israelense de Desenvolvimento das Aéreas Periféricas, Silvan Shalon, e desde então, apesar do calor e da umidade infernais, centenas de fiéis, em sua maioria cristão-ortodoxos e protestantes batistas, se amontoam desde a manhã até a noite para receber a mesma água santa que banhou a cabeça do Messias.
A localidade se chama Qasr al-Yahud, que em árabe significa "castelo dos judeus", distante apenas poucos quilômetros do Mar Morto e que ficou fechada nos últimos 44 anos, ou seja, desde os tempos da Guerra dos Seis Dias, quando o exército do Estado judeu, depois de ter invadido o Vale do Jordão, a minou e a cercou com arame farpado.
Depois que a Igreja da Natividade de Belém e o Santo Sepulcro de Jerusalém, este é o terceiro lugar mais venerado da cristandade. Por isso, ao redor da fonte batismal, surgiram uma vez inúmeros mosteiros, mas dos quais os seus monges foram forçados a fugir por causa dos combates.
Os batismos só foram retomados nos anos 1980, quando as forças de segurança israelenses começaram a deixar passar para esse lugar – depois de esgotantes esperas e infinitas lentidões burocráticas – poucos peregrinos de cada vez, apenas durante os feriados de Natal. Depois da sua restauração e sobretudo depois da remoção das minas das terras que o circundam, o "castelo dos judeus" tornou-se finalmente acessível todo o ano, das 9h da manhã às 15h, e além disso grátis: um alimento espiritual para os discípulos das Igrejas Orientais que acreditam mais na ressurreição de Jesus do que na Imaculada Conceição, e que, até agora, como alternativa, iam se batizar em Yardenit, perto do lago de Tiberíades.
No próximo dia 6 de janeiro, para a Epifania, em Qasr al-Yahud, são esperados milhares de peregrinos, aos quais a densa presença de soldados e os quilômetros de arame farpado que ninguém nunca havia removido, no entanto, evocarão, no entanto, o passado turbulento da região. Ainda em 2010, apesar de o lugar ainda não estar oficialmente reaberto, 60 mil fiéis se dirigiram para lá.
A piscina batismal por que retarda por um instante o fluxo quase asfixiante do rio Jordão e onde essa multidão de fiéis se imergirá é, aliás, em forma de cruz. As escadas de pedra que permitem o seu acesso foram esculpidas provavelmente há 14 séculos, e também são embelezadas por inúmeras pequenas cruzes que, com o tempo, foram escavadas pelos visitantes do lugar, onde, para os cristãos, nasceu o espírito de Cristo, depois que o seu corpo havia se materializado em Belém.
Mas, como tudo o que acontece na Terra Santa, também para a restauração desse lugar altamente simbólico, produziu-se uma rixa entre políticos. Quem presenciou a inauguração foi o ministro Shalon, que apoiou fortemente a restauração da área. Nesse meio tempo, no entanto, os custos dos trabalhos – cerca de um milhão de euros – foram financiados por outro ministério, o do turismo, que não foi representado por nenhum funcionário na cerimônia de abertura, talvez porque não foram convidados por Shalon. Rumores relatam uma furiosa discussão entre Shalon e o seu colega do Turismo.
Embora o "castelo dos judeus" se encontre território palestino, ele faz parte de uma chamada área "C", ou seja, administrada pelas autoridades israelenses, o que permite que tanto os palestinos quanto os israelenses visitem livremente a fonte, que também é embelezada pelas esplêndidas ruínas de igrejas paleocristãs do século V e por preciosos mosaicos recentemente exumados.
Mas há uma outra disputa, desta vez mais nacionalista, ou melhor, bairrista do que a anterior. De fato, se os israelenses defendem que o batismo de Cristo ocorreu na sua margem do rio, os jordanianos afirmam, ao contrário, que ele ocorreu nas águas a poucos metros da sua margem. Em 2009, quando o Papa Bento XVI visitou a fonte (na Jordânia), como bom hóspede, ele preferiu não tomar partido nem por uma tese nem por outra.

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