sexta-feira, 1 de julho de 2011

Tomás responde: Os sacramentos são necessários à salvação humana?

[sumateologica]

 
Rogier van der Weyden, Os Sete Sacramentos (1445)
Parece que os sacramentos não são necessários à salvação humana:
1. Com efeito, o Apóstolo diz: “O exercício corporal é de escassa utilidade”. Ora, os sacramentos implicam um exercício corporal, pois seu significado é expresso por realidades sensíveis acompanhadas de palavras. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
2. Além disso, na Carta aos Coríntios é dito: “A minha graça te basta”. Não bastaria, se os sacramentos fossem necessários à salvação. Logo, os sacramentos não são necessários à salvação humana.
3. Ademais, se a causa é suficiente, nada mais é preciso para produzir o efeito. Ora, a paixão de Cristo é causa suficiente de nossa salvação, pois diz o Apóstolo: “Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho, com muito maior razão, reconciliados, seremos salvos por sua vida”. Logo, não se requerem os sacramentos para a salvação humana.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, Agostinho afirma: “Não se podem congregar sob nenhuma denominação religiosa, falsa ou verdadeira, se não se unem pela participação em manifestações ou sacramentos visíveis”. Ora, é necessário à salvação que os homens se reúnam sob a égide da verdadeira religião. Logo, os sacramentos são necessários à salvação humana.
Os sacramentos são necessários à salvação humana por três razões. A primeira provém da condição da natureza humana. É-lhe próprio proceder do corporal e sensível ao espiritual e inteligível. Ora, cabe à divina providência prover a cada um segundo sua condição e modo próprios. A sabedoria divina age, pois, harmoniosamente quando atribui ao homem os auxílios necessários à salvação sob os sinais corporais e sensíveis que se chamam sacramentos.
A segunda razão é tomada do estado em que de fato se encontra o homem: tendo pecado, submeteu-se às realidades corporais, pondo nelas seu afeto. Ora, aplica-se o remédio no lugar onde se sofre a doença. Era, pois, conveniente que Deus se servisse de sinais corporais para administrar ao homem um remédio espiritual que, proposto de maneira puramente espiritual, seria inacessível a seu espírito, entregue às realidades corporais.
A terceira razão se propõe, tendo em vista que a ação humana se desenvolve predominantemente no âmbito da realidade corporal. Seria demasiado duro para o homem renunciar totalmente às ocupações corporais. Por isso, nos sacramentos foram-lhe propostos atividades corporais que o habituam salutarmente a evitar que se entregue a atividades supersticiosas – o culto aos demônios -, ou a qualquer ação nociva como são os atos pecaminosos.
Assim, pois, pela instituição dos sacramentos o homem é instruído mediante o sensível, de modo adaptado a sua natureza; humilha-se recorrendo às realidades corporais, às quais se reconhece assim submetido; enfim, é preservado de danos corporais pela atividade salutar que são os sacramentos.
Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. O exercício corporal, enquanto corporal, não é de grande utilidade. Mas os sacramentos não são puramente corporais; de certo modo são espirituais por seu significado e por sua causalidade.
2. A graça de Deus é causa suficiente da salvação humana. Mas Deus dá a graça aos homens segundo o modo adaptado a sua natureza. Por isso os sacramentos são necessários para obter a graça.
3. A paixão de Cristo é causa suficiente da salvação humana. Mas daí não se segue que os sacramentos não sejam necessários, pois atuam na força da paixão de Cristo que por eles como que se aplica aos homens, conforme diz o Apóstolo: “Nós todos, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados”.


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