quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aspectos psicológicos dos participantes da JMJ

Fala a psicóloga especialista em jovens e famílias Mercedes Palet
BARCELONA, quarta-feira, 17 de agosto de 2011 (ZENIT.org) – Psicóloga e psicoterapeuta na Suíça, onde nasceu e reside, e professora universitária na Espanha, onde ministra cursos, Mercedes Palet de Fritschi é uma firme defensora das contribuições tomistas oferecidas à Psicologia.
Em sua última viagem por ocasião dos cursos de verão na Universidade Abat Oliba CEU (www.uao.es), pudemos conversar com esta renomada psicóloga sobre os jovens que participam da Jornada Mundial da Juventude.
ZENIT: A família desses jovens continua sendo o que era?

Mercedes Palet: Sem dúvida alguma. A família continua sendo o que era: “célula primária e vital da sociedade”, “igreja doméstica”, “útero espiritual”, “educadora do ser humano”, “comunidade de amor e vida fundada no casamento indissolúvel entre um homem e uma mulher”.
A família, no entanto, é a instituição que com mais força sofreu e sofre os ataques e ameaças de uma cultura e de uma sociedade que se afastam de Deus. Por isso, hoje em dia, é certamente interessante comprovar uma situação de completa contradição.
Há várias décadas, afirma-se, por um lado, a necessidade da família e os bens que ela comporta, mas, ao mesmo tempo, afirmam-se e sustentam-se atitudes e realidades que são absolutamente contrárias à família.
Há alguns anos, ainda se entendia a família tradicional, fundada no casamento entre um homem e uma mulher para o amor e a ajuda mútuos e a recepção da vida, como célula básica da sociedade e como algo “bom e desejável”. Ao mesmo tempo, no entanto, no âmbito das atitudes pessoais, eram defendidas posturas contrárias à própria formação da família: divórcio, uniões de fato, liberdade sexual, contracepção etc.
Hoje em dia, a ameaça contra a família adquiriu uma nova dimensão, porque ela não é atacada somente como instituição, mas – inclusive no campo legislativo – é entendida como “a origem de todo conflito” e, por isso mesmo, como uma instituição digna de abolição.
O homem, sem família, fica desorientado, desconcertado. Na prática cotidiana da Psicologia, podemos comprovar isso quase diariamente. Adultos e crianças que carecem de um “lugar de vida”; que desconhecem, mas anseiam pela experiência da “pertença mútua”; que ignoram, mas desejam a experiência da “filiação”.
E o que é mais triste: homens e mulheres, crianças e jovens incapacitados para compreender que é precisamente a família tradicional o lugar original e insubstituível destas “experiências” profundamente vitais e conformadoras da personalidade.
ZENIT: Os jovens de hoje não dão o mesmo valor a conceitos como sacrifício, espera, austeridade. Por que se perdeu essa consideração?
Mercedes Palet: Pela falta de exemplos vivos e atraentes destas virtudes; pelo fracasso educativo da cultura ocidental; pela mentalidade consumista fácil; por uma erotização sem precedentes na história da vida pública e privada; e também pela perda do sentido transcendente da vida.
Como já advertiaFrancisco Canals, a entrega do homem contemporâneo à busca de um sentido da vida independente de todo valor transcendente, ordenado primeiramente ao prático, no sentido do que é útil e prazeroso, lançou o homem de hoje ao desassossego de um círculo vicioso no qual a própria dimensão ética chega a ser esquecida em sua essência (parece que só existe o que é bom subjetivamente, “para mim”), para ser assumida só como eficácia técnica através do desenvolvimento, pela educação científica, das possibilidades criadoras, entendidas como capacidades de domínio e produção.
O bom é somente o tecnicamente útil e o que de alguma maneira causa prazer. Por isso, para o homem contemporâneo – e não somente para os jovens da nossa época –, atitudes como o sacrifício, a espera e a austeridade são posturas que carecem de conteúdo ético ou moral e que, quando muito, só têm sentido em relação a “algo” que se percebe como socialmente útil, economicamente vantajoso ou, em última instância, como fonte de prazer sensível.
ZENIT: Não está na moda, mas você defende São Tomás como precursor de uma Psicologia saudável. O que quer dizer com isso?
Mercedes Palet: Na Psicologia contemporânea, é necessário defender uma linha de pensamento que permita uma consideração integral de todas as dimensões da pessoa, a partir da qual se descubra que a razão e a vontade são o centro diretivo da personalidade e da conduta humanas.
Todas as dimensões da vida emocional e afetiva estão feitas para serem guiadas a partir da razão e da vontade, e não precisamente para serem anuladas, e sim para serem ordenadas e colocadas ao serviço do mais elevado que há no homem: o bem da razão. Não se pode conhecer o homem concreto sem entender a inteligência, a vontade, a alma humana, suas potências sensitivas, em suma, o verdadeiro ser e funcionamento “profundo” – a verdadeira Psicologia profunda – da personalidade humana.
Por isso, qualquer psicologia digna desse homem deve fundar-se em um adequado conhecimento da natureza humana do sujeito concreto que pretende conhecer e ajudar. Os claros princípios da antropologia filosófica tomista devem desempenhar um papel capital na reconstrução de uma autêntica psicologia no âmbito cristão.
Como exemplo, posso referir-me a uma das partes e a alguns pontos dessa obra de São Tomás, dizendo que toda a segunda parte da Suma Teológica é um autêntico tratado de psicologia fundamental, tanto teórica como prática. Partindo das riquíssimas descrições que se encontram nos tratados dedicados às virtudes morais, o psicólogo pode encontrar e elaborar um magnífico e preciso instrumento de diagnóstico e terapia.
Partindo de uma fundamentação antropológica segundo os ensinamentos de São Tomás de Aquino, seria possível livrar a Psicologia da sua projeção de ser uma Psicologia modelada principalmente sobre a patologia, e formular uma Psicologia da plenitude pessoal, social e espiritual do homem.
ZENIT: As Jornadas Mundiais da Juventude costumam dar destaque aos testemunhos. Que tipo de testemunho que você gostaria de ouvir?
Mercedes Palet: Eu gostaria de ouvir o testemunho de gratidão de algum jovem que, com simplicidade e alegria, desse testemunho da fé recebida e vivida no seio da família cristã; dando graças a Deus e aos seus pais pelo dom da vida, agradecendo aos seus pais pelo exemplo de amor e entrega da vida cotidiana familiar, pelo exemplo de amor esponsal, pelo exemplo e pela entrega na paternidade e na maternidade.
Eu gostaria muito de ouvir o testemunho de um jovem dando graças a Deus e aos seus pais pela educação cristã recebida e pela incorporação à Santa Mãe Igreja.
(Miriam Díez i Bosch)

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