[IHU]
10/8/2011
O patriarca de Lisboa, José da Cruz Policarpo, que, em uma recente entrevista, havia declarado que não existe "nenhum obstáculo fundamental" do "ponto de vista teológico" para a ordenação de mulheres, teve uma conversa com o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, depois de ter recebido uma carta do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal William Levada, que o convidava a esclarecer a sua posição.Dom Policarpo é convocado ao Vaticano para explicar suas afirmações sobre o sacerdócio feminino
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal Vatican Insider, 09-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A afirmação é do jornal português Público, em um artigo assinado por António Marujo. O Vatican Insider também já havia falado sobre o caso, tendo também publicado o esclarecimento emitido pelo próprio cardeal português.
O patriarca de Lisboa, 75 anos, recém confirmado por mais dois anos à frente da diocese da capital portuguesa, durante uma longa entrevista com a revista Oa, a revista da Ordem dos Advogados de Portugal, havia afirmado, a respeito do sacerdócio feminino: "João Paulo II, a certa altura, pareceu dirimir a questão". A referência é à carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis (1994), um dos documentos mais curtos de Wojtyla, com o qual o papa, depois da decisão da Comunhão Anglicana de se abrir às presbíteras, reafirmava que a Igreja Católica jamais faria isso.
"Penso – dissera o cardeal Policarpo – que a questão não se dirime assim. Teologicamente, não há nenhum obstáculo fundamental [para a ordenação feminina]; há esta tradição, digamos assim... nunca foi de outra maneira".
À pergunta da entrevistadora, curiosa com a afirmação do purpurado de que não há razões teológicas contra as mulheres-padre, Policarpo respondera: "Penso que não há nenhum obstáculo fundamental. É uma igualdade fundamental de todos os membros da Igreja. O problema põe se noutra ótica, numa forte tradição, que vem desde Jesus, e na facilidade com que as igrejas reformadas foram para aí [permitindo o sacerdócio às mulheres]".
O cardeal, alguns dias depois, havia publicado uma carta na qual esclarecia o seu pensamento e afirmava nunca ter "tratado sistematicamente a questão": "As reações a essa entrevista obrigaram-me a olhar para o tema com mais cuidado e verifiquei que, sobretudo por não ter levado na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei lugar a essas reações".
Policarpo havia acrescentado: "Seria para mim doloroso que as minhas palavras pudessem gerar confusão na nossa adesão à Igreja e à palavra do Santo Padre".
Agora, o jornal português revela bastidores do que aconteceu nas últimas semanas, afirmando que o patriarca de Lisboa foi convocado para uma audiência pelo secretário de Estado, Tarcisio Bertone. A conversa ocorreu em Castel Gandolfo, na primeira metade de julho, enquanto o purpurado português estava em Roma para participar da plenária do recém-criado Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. O Público escreve que Policarpo foi bem tratado, "pois o Vaticano temia que D. José pudesse reagir mal a uma advertência severa".
Alguns dias antes do encontro com Bertone, no dia 2 de julho, Policarpo havia recebido, através do núncio apostólico em Lisboa, uma carta do cardeal William Levada, prefeito do ex-Santo Ofício. A carta o havia preocupado muito, segundo um testemunho recolhido pelo Público. Assim, no dia 6 de julho, o patriarca escreveu a declaração de esclarecimento.
O jornal português observou, no entanto, que não foi a primeira vez que Policarpo fez declarações semelhantes sobre o sacerdócio feminino: no entanto, era a primeira vez que as suas palavras foram citadas pela imprensa internacional.
Na nota de António Marujo, são citadas como exemplos diversas declarações do cardeal. Em 1999, um ano depois da sua nomeação para a sede patriarcal de Lisboa, Policarpo deixou entender que a questão do sacerdócio feminina não estava de fato encerrada, e que seria necessário um amadurecimento das comunidades e da Igreja, dado que hoje, "dentro da Igreja Católica, se aceitam mulheres em papéis que há 30 anos eram impensáveis".
Em maio de 2003, em Viena, o cardeal respondeu de modo semelhante a uma pergunta durante uma coletiva de imprensa, na qual se citavam a carta de João Paulo II de 1994 e o posterior esclarecimento da Congregação para a Doutrina da Fé.
Na entrevista agora em questão, Policarpo explicava que, em sua opinião, a questão "não se dirime assim; teologicamente, não há nenhum obstáculo fundamental; há esta tradição, digamos assim... Nunca foi de outra maneira".
Nessa mesma entrevista, o patriarca de Lisboa afirmava que, neste momento, não era oportuno levantar a questão, porque isso suscitaria "uma série de reações", mas concluía: "Se Deus quiser que aconteça, e se estiver nos planos Dele, acontecerá".
Nenhum comentário:
Postar um comentário