08 Aug 2011
Em sua Teologia da Perfeição Cristã, o Pe Royo Marín (1968, p 273) salienta que :
Cada alma segue seu próprio caminho rumo à santidade sob a direção e o impulso supremo do Espírito Santo. Não há duas fisionomias inteiramente iguais no corpo nem na alma. Contudo, os mestres da vida espiritual tem tentado diversas classificações atendendo às disposições predominantes das almas, que não deixam de ter sua utilidade ao menos como ponto de referência para precisar o grau aproximado de vida espiritual em que se encontra uma determinada alma. (…)
São três, parece-nos, as principais classificações que foram propostas ao longo de toda a história da espiritualidade cristã: a clássica das três vias: purgativa, iluminativa e unitiva; a do Doutor Angélico, baseada nos três graus de principiantes adiantados e perfeitos; e a de Santa Teresa de Jesus em seu genial Castelo interior ou livro das Moradas.
A obra de Santa Teresa de Jesus, Castelo interior ou Moradas, é tomada como exemplo pela maioria dos autores de vida espiritual, pois explica de modo excelente as fases da vida cristã rumo à santidade, baseando-se nos graus de oração. Esta Doutora da Igreja compara a alma a um castelo e os diversos graus da vida espiritual, aos aposentos desse castelo: “consideremos nossa alma como um castelo, feito de um só diamante ou de limpidíssimo cristal. Neste castelo existem muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas” (1981, p. 19).
Santa Teresa divide o desenvolvimento da vida espiritual em sete moradas:
a) Primeiras Moradas (ibidem, p. 19-37) – considera a beleza de uma alma em estado de graça e lamenta aquelas almas que jamais entram no castelo, ficam ao redor dele, obstinadas no pecado. Afirma ainda que a porta de entrada desse castelo é a oração. Trata da hediondez de uma alma em estado de pecado mortal e da importância da humildade e do conhecimento de si mesmo, através do conhecimento de Deus. Adverte também sobre as artimanhas do demônio para impedir que as almas progridam dessas primeiras moradas para as seguintes. Nesse estágio, as almas desejam não ofender a Deus e praticar boas obras, no entanto, estão ainda absorvidas pelo mundo.
b) Segundas Moradas (ibidem, p. 41-49) – aqui as almas já se preocupam em servir a Deus, fogem das distrações fúteis e buscam uma vida de oração e recolhimento, embora com muitas quedas e falhas. Têm aversão ao pecado mortal, porém, pouco cuidado em evitar as ocasiões. Sofrem por sentirem cada vez mais claro o chamado de Deus e não terem ânimo suficiente para se entregarem inteiramente. Nesta fase, a Santa encoraja-as a não desanimarem diante dos ataques do demônio mas serem humildes e se confiarem à Misericórdia Divina, a fim de perseverarem.
c) Terceiras Moradas (ibidem, p. 53-68) – nestas moradas as almas passam a ter mais oração e recolhimento, evitam os pecados veniais e fazem penitência. Quando são provadas pelo Senhor com securas e aridezes, desanimam porque ainda são débeis. Aconselha a estas almas a fuga das ocasiões e a perseverança na humildade e na oração, sem fazer caso de provações ou de consolações.
d) Quartas Moradas (ibidem, p. 71-95) – é nesta etapa que ocorre a transição da ascética para a mística. As tentações trazem benefícios e são ocasião de mérito. Tem-se o início das orações contemplativas. Santa Teresa ressalta a importância de crescer no amor, condição para progredir às moradas seguintes.
e) Quintas Moradas (ibidem, p. 99-130) – a Santa Doutora descreve longamente a união da alma com Deus na oração contemplativa. A experiência mística é intensificada e aumentam as purificações passivas. As almas experimentam grande amor ao próximo e têm necessidade de muita vigilância para não cair nas sutilezas do demônio.
f) Sextas Moradas (ibidem, p. 133-224) – nesta fase as almas recebem grandes favores e padecem terríveis provações; Deus opera maravilhas naqueles que alcançam estas moradas. O amor a Deus é levado até o esquecimento de si mesmo. Os fenômenos místicos se multiplicam. As almas têm desejo de unir-se intimamente a seu Senhor, abandonando esta vida.
g) Sétimas Moradas (ibidem, p. 227-260) – Perfeição – dá-se o “matrimônio espiritual”, a união transformante em que a alma se faz uma com Deus, sente em si a inabitação da Santíssima Trindade. As almas atingem um estado de paz e tranqüilidade inalteráveis, preocupam-se unicamente com a glória de Deus.
Diante dessa impressionante descrição de Santa Teresa de Jesus, um dos luminares da mística experimental, percebe-se o belo mas árduo caminho a percorrer para alcançar a santidade, uma vez que é preciso arrancar da alma todo o apego às coisas terrenas e o apego a si mesmo para poder seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo (Lc 9, 23): “se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (BÍBLIA SAGRADA, 1996). Sem um constante auxílio de Deus, que com sua graça atrai as almas, sustenta-as e faz avançar nas vias da santidade, não seria possível ao homem chegar à perfeição por suas próprias forças.
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