[IHU]
21/8/2011
21/8/2011
Em janeiro de 2010, o padre jesuíta Klaus Mertes (foto), diretor do prestigiado colégio jesuíta Canisius de Berlim, enviou uma carta aos ex-alunos da escola informando-lhes que dois ex-padres haviam sido acusados de má conduta sexual com os estudantes. Na carta, ele escreveu que estava profundamente abalado e envergonhado, porque tinha tomado conhecimento de que um "abuso sistemático havia ocorrido na escola ao longo dos anos".
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada no sítio National Catholic Reporter, 19-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois de uma semana da publicação da carta, 20 outros estudantes se pronunciaram com histórias de abuso sexual por parte dos professores da escola. Quando a revista alemã Der Spiegel relatou a história, ainda mais ex-alunos se manifestaram a respeito.
Em pouco tempo, uma série de casos de abuso de outras escolas jesuítas e beneditinas bem conhecidas na Alemanha e em muitas dioceses alemãs veio à luz. Na primavera, revelações começaram a vir de instituições eclesiásticas austríacas e suíças.
Desde então, 180 mil alemães e 87 mil católicos austríacos abandonaram formalmente a Igreja. A Europa católica de língua alemã foi engolida – nas palavras do cardeal austríaco Christoph Schönborn – por um tsunami de abusos clericais.
Mertes, 56 anos, renunciou ao seu cargo no Colégio Canisius em junho. Em julho, ele conversou com a Der Spiegel sobre o abuso sexual do clero e a Igreja Católica.
A Alemanha está nas fases finais da preparação para a visita papal. Para a visita à sua terra natal entre os dias 22 a 25 de setembro, o Papa Bento XVI tem 28 eventos agendados e deve fazer 17 discursos públicos. Mertes afirmou que gostaria que o papa usasse o evento para se dirigir aos conturbados católicos alemães, mas ele não tem muitas esperanças disso.
Muitos católicos comprometidos e moderados estão "profundamente cansados", e a resignação se instalou, o que explica o êxodo em massa de católicos da Igreja, disse Mertes à Der Spiegel.
Algumas pessoas na Igreja não estão alarmadas com o êxodo, no entanto, disse ele. Alguns círculos realmente dão as boas-vindas ao fato de que milhares de pessoas estão deixando a Igreja formalmente na Alemanha. Eles consideram isso como uma "diminuição saudável", que permite a permanência dos "verdadeiros católicos" entre eles, disse.
Nos últimos 18 meses, disse Mertes, ele recebeu uma grande quantidade de mensagens e de cartas de ódio, acusando-o de ser desleal, de dividir a Igreja e de corromper o seu ambiente.
Ele expressou gratidão pelo fato de o cardeal Georg Sterzinsky, de Berlim, ter lhe dado total apoio desde o início, embora salientando que outros membros da hierarquia não haviam sido favoráveis (Sterzinsky morreu no dia 30 de junho aos 75 anos).
Ele recordou que o cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio dos Cardeais, havia chamado as histórias sobre abusos sexuais por parte do clero de "fofocas mesquinhas".
"Eu fiquei horrorizado pelo fato de alguém poder dizer isso e ainda estou profundamente envergonhado com essa declaração de Sodano", disse Mertes. Ele acrescentou que ficou imensamente grato que Schönborn contradisse Sodano abertamente.
Recentemente, um cardeal do Vaticano disse que Mertes deveria ser expulso da Igreja, disse Mertes à Der Spiegel.
"Devo tudo à Igreja – a minha fé, as orações que eu rezo, a liturgia que eu celebro e o Evangelho. Os valores que eu tento viver são os valores do Evangelho. Não vou permitir que tudo isso seja tirado de mim por um pequeno grupo de pessoas que, ao me difamar, pensam que estão fazendo um serviço à Igreja", disse.
"A Igreja Católica é mais do que apenas um círculo de católicos perturbados, que agem no escuro, que pensam que até a menor observação crítica é desleal e que denunciam as pessoas que questionam. [...] Minha maior preocupação é que a hierarquia lhes dê ouvidos".
"O fato mais amargo é que Roma aceita essas denúncias. Os informantes são protegidos por serem autorizados a permanecer no anonimato para que possam continuar agindo no escuro. Eles ganham o significado por causa dos poderes que lhes são dados".
Mertes disse que ele "pode viver com ataques pessoais, mas o que eu acho pior é que parte da hierarquia que se cala diante de tais atacantes com medo também será atacada da mesma forma".
"Existem oportunistas na hierarquia, que não dizem nada quando essa minoria vociferante e hipócrita na Igreja se pronuncia", disse ele.
A Igreja, afirmou Mertes, está pronta para mudar, mas a liderança da Igreja está com medo. "A liderança da Igreja teme que imediatamente não estará mais no comando da discussão. Ela está com medo de perder autoridade. [...] Nós, como Igreja, devemos aprender a olhar para a nossa Igreja de uma maneira nova. Devemos esclarecer por que há esse silêncio e o que leva a ele. Essa é a questão decisiva e a pergunta que as vítimas estão fazendo".
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