quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Religiosos debatem discipulado e serviço


[IHU]

18/8/2011  

Discipulado e serviço foram dois temas-chave abordados durante a assembleia da Congregation of Major Superiors of Men [CMSM, Congregação dos Superiores Maiores Masculinos], em Orlando, entre os dias 3 a 6 de agosto.
A reportagem é do sítio Catholic News Service, 16-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"A celebração de Jesus da Última Ceia, no Evangelho de João, se torna a ocasião para Jesus explicar e apresentar a vida de discipulado como participação e identificação com a vida de Jesus", disse o cardeal ganês Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", em seu discurso na assembleia da CMSM.
O cardeal Turkson descreveu como os líderes das ordens religiosas masculinas e os padres e irmãos sob seus cuidados podem exercer melhor o discipulado.
"Comecem com uma atitude realista, aproximando-se das dificuldades do tempo presente com discernimento", aconselhou o cardeal, com base em algumas ideias do Papa Bento XVI. "Fundamentem o trabalho em valores fundamentais, uma nova visão para o futuro. Com confiança, em vez de resignação, assumam as novas responsabilidades. Estejam abertos a uma profunda renovação cultural, com confiança e esperança", continuou o cardeal. "Comprometam-se com novas regras, novas formas de compromisso, com coerência e consistência".
O cardeal Turkson reconheceu o desafio. Mas, acrescentou, "como um bispo amigo meu do noroeste dos EUA diria, 'precisamos parar de ser cristãos-católicos complacentes e começar a ser cristãos-católicos convertidos".
O padre jesuíta Thomas Massaro, professor de teologia moral no Boston College, ofereceu suas percepções sobre o encorajamento da ação.
"Simplesmente não é razoável esperar impactar vidas da forma mais profunda por meio de atividades em sala de aula apenas", disse o Pe. Massaro, em seu discurso do dia 6 de agosto. "Se vocês querem mudar o mundo, terão que contribuir para transformar as pessoas, não apenas rearranjando as ideias em suas cabeças".
E acrescentou: "A verdadeira conversão para a justiça social brota da experiência pessoal e da exposição a problemas sociais e do engajamento nos esforços para resolvê-los. Vocês não podem obter êxito sem algumas ideias e compromissos intelectuais, mas os princípios só os levarão até certo ponto. Correndo o risco de cair em um clichê, é uma questão de coração e de mãos, e não apenas de cabeças".
Ao ler as encíclicas do Papa Bento XVI Deus Caritas Est (Deus é amor) e Caritas in veritate (Caridade na Verdade), disse o padre Massaro, "passagens um tanto ambíguas em ambos os documentos levaram eticistas de diversos matizes aos seus teclados, que usaram citações e frases isoladas e fora de contexto, pretendendo revelar a verdadeira mente do atual pontífice no que se refere ao que a Igreja deveria ou não estar fazer na esfera social".
O que está questão, segundo ele, são "várias questões não resolvidas sobre a melhor forma de servir aos pobres e de apelar junto aos poderosos a fim de implementar os princípios do ensino social católico. As agências humanitárias católicas cresceram de forma muito profissional e mundana nesse sentido? Elas perderam sua distinção religiosa devido aos excessivos envolvimentos com governos e organizações seculares? Quais são as formas mais apropriadas e eficazes para servir aos pobres e para transformar o mundo para fomentar uma maior justiça social?".
"Não podemos responder a essas questões, hoje", disse o padre Massaro, mas fica claro que a Igreja Católica "continuará compreendendo a sua missão incluindo o amplo engajamento com as esferas política e econômica. [...] Continuará havendo um papel crucial para que religiosos e religiosas desempenhem na linha de frente do trabalho pela caridade e pela justiça".
A irmã dominicana Barbara Reid, vice-presidente e reitora acadêmica da Catholic Theological Union, de Chicago, apresentou algumas questões para que os conferencistas da CMSM levassem em consideração.
"Como os líderes das comunidades religiosas masculinas ajudam seus membros no estudo contínuo do Evangelho que leva a uma pregação, ensino e evangelização libertadores?", perguntou ela em seu discurso no dia 5 de agosto. "Que práticas ajudam os líderes religiosos a discernir o momento correto para a ação profética? Que tempo é este?".
Além disso, perguntou a irmã Reid: "O que os seus estilos de colaboração com leigas e leigos como parceiros iguais em seus ministérios oferecem ao restante da Igreja, em um momento em que alguns delineiam uma delimitação mais rigorosa entre os ministérios ordenado e o não ordenado?".
Suas perguntas, observou ela, estavam na mesma linha de um dos focos da assembleia – compreender "mais profundamente qual é o exemplo que Jesus, ao lavar os pés dos discípulos, nos deu, e o que é a liderança exemplar hoje, com base na vida de Jesus voltada aos demais".
O padre do Sagrado Coração Thomas Cassidy, presidente cessante da CMSM, emitiu um apelo à ação aos padres e irmãos: "Tenho certeza que vocês já ouviram a expressão: 'Se realmente pregássemos o Evangelho, esvaziaríamos as igrejas'. Certamente, há alguma verdade nesse sentimento", disse o padre Cassidy, que foi sucedido na presidência pelo abade Giles P. Hayes, da Abadia de St. Mary em Morristown, Nova Jérsey, no encerramento da assembleia.
"Tentem pregar sobre reforma da imigração e o respeito que deveríamos e devemos mostrar pelos imigrantes ilegais e vejam o que acontece. Ou falem às pessoas sobre os direitos que devem ser organizados em torno do trabalho e vejam o que acontece com muitas pessoas sentadas nos bancos", disse o padre Cassidy. "Ou levantem a questão do sistema de saúde como um direito que é devido a todo o ser humano. Ou falem às pessoas sobre o dever dos governos de promover o bem comum, e, sim, isso significa impostos, e vejam até onde isso vai lhes tornar benquistos pelas pessoas sentadas nos bancos".
O padre Cassidy acrescentou: "É verdade que o segredo mais bem guardado da Igreja são os seus ensinamentos sociais. O que é realmente triste é que os mantivemos em segredo diante do nosso próprio povo. Imagine como eles seriam uma força de mudança se todas as pessoas sentadas nos bancos da igreja realmente entendessem e acreditassem na rica tradição dos ensinamentos sociais da Igreja. Especialmente se pudessem ver a ligação entre a Eucaristia dominical e a vida vivida nos outros seis dias".

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