Reflexões para não esquecer
ROMA, quarta-feira, 28 de setembro de 2011 (ZENIT.org)
– Apresentamos, a seguir, uma seleção de 17 das frases mais
significativas pronunciadas pelo Papa Bento XVI durante a sua viagem à
Alemanha, recopiladas pelo blog Il Sismógrafo (http://ilsismografo.blogspot.com).
* * *
Liberdade e solidariedade
1. A liberdade precisa duma ligação primordial a uma instância
superior. O facto de haver valores que não são de modo algum
manipuláveis, é a verdadeira garantia da nossa liberdade. O homem que se
sente vinculado à verdade e ao bem, estará imediatamente de acordo com
isto: a liberdade só se desenvolve na responsabilidade face a um bem
maior. Um tal bem só existe para todos juntos; por conseguinte, devo
interessar-me sempre também dos meus vizinhos. A liberdade não pode ser
vivida na ausência de relações.Na convivência humana, a liberdade não é
possível sem a solidariedade. Aquilo que faço a dano dos outros, não é
liberdade, mas uma ação culpável que prejudica aos outros e deste modo,
no fim de contas, também a mim mesmo. Só usando também as minhas forças
para o bem dos outros é que posso verdadeiramente realizar-me como
pessoa livre. E isto vale não só no âmbito privado mas também na
sociedade.
Berlim, 22 de setembro de 2011.
Direito razão e natura
2. Servir o direito e combater o domínio da injustiça é e permanece a
tarefa fundamental do político. Num momento histórico em que o homem
adquiriu um poder até agora impensável, esta tarefa torna-se
particularmente urgente(…)Foi na base da convicção sobre a existência de
um Deus criador que se desenvolveram a ideia dos direitos humanos, a
ideia da igualdade de todos os homens perante a lei, o conhecimento da
inviolabilidade da dignidade humana em cada pessoa e a consciência da
responsabilidade dos homens pelo seu agir. Estes conhecimentos da razão
constituem a nossa memória cultural. Ignorá-la ou considerá-la como mero
passado seria uma amputação da nossa cultura no seu todo e privá-la-ia
da sua integralidade. A cultura da Europa nasceu do encontro entre
Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a
razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este
tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da
responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da
dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou
critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento
histórico.
Berlim, 22 de setembro de 2011.
O horror nacional-socialista
3. Neste lugar, é igualmente necessário trazer à memória o pogrom
da «noite dos cristais», de 9 para 10 de Novembro de 1938. Poucas foram
as pessoas que perceberam toda a dimensão daquele acto de desprezo
humano como o percebeu o arcipreste da Catedral de Berlim, Bernhard
Lichtenberg, que, do púlpito da Catedral de Santa Edvige, gritou: «Fora o
Templo está em chamas; também isso é uma casa de Deus». O regime de
terror do nacional-socialismo baseava-se num mito racista, do qual fazia
parte a rejeição do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, do Deus de
Jesus Cristo e das pessoas que acreditavam n’Ele. (...) A mensagem de
esperança, que os livros da Bíblia hebraica e do Antigo Testamento
cristão transmitem, foi assimilada e desenvolvida de modo diverso por
judeus e cristãos. «Depois de séculos de contraposição, reconhecemos
como nossa tarefa fazer com que estes dois modos de nova leitura dos
escritos bíblicos – o cristão e o judaico – dialoguem entre si, para se
compreender retamente a vontade e a Palavra de Deus» (Jesus de Nazaré – Parte II: Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição,
p. 38). Numa sociedade cada vez mais secularizada, este diálogo deve
reforçar a esperança comum em Deus. Sem tal esperança, a sociedade perde
a sua humanidade.
Berlim, 22 de setembro de 2011.
Permanecer em Cristo
4. Alguns olham para Igreja, detendo-se no seu aspecto exterior.
Então ela aparece-lhes apenas como uma das muitas organizações presentes
numa sociedade democrática; e, segundo as normas e leis desta, se deve
depois avaliar e tratar inclusive uma figura tão difícil de compreender
como é a «Igreja». Se depois se vem juntar ainda a experiência dolorosa
de que, na Igreja, há peixes bons e maus, trigo e joio, e se o olhar se
fixa nas realidades negativas, então nunca mais se desvenda o mistério
grande e belo da Igreja.
(…)Permanecer em Cristo significa, como já vimos, permanecer na
Igreja. A comunidade inteira dos crentes está firmemente unida em
Cristo, a videira. Em Cristo, todos nós estamos conjuntamente unidos.
Nesta comunidade, Ele sustenta-nos e, ao mesmo tempo, todos os membros
se sustentam uns aos outros. Juntos resistimos às tempestades e
oferecemos proteção uns aos outros. Não cremos sozinhos, cremos com toda
a Igreja.
Berlim, 22 de setembro de 2011.
A dimensão pública da religião
5. Muitos muçulmanos atribuem grande importância à dimensão
religiosa. Às vezes, isto é interpretado como uma provocação, numa
sociedade que tende a marginalizar este aspecto ou, quando muito,
admiti-lo na esfera das opções privadas dos indivíduos.
A Igreja Católica empenha-se, firmemente, para que seja dado o justo
reconhecimento à dimensão pública da pertença religiosa. Trata-se de uma
exigência que não se torna irrelevante pelo facto de aparecer no
contexto duma sociedade maioritariamente pluralista. Nisso, há que estar
atento para que se mantenha sempre o respeito do outro. Este respeito
recíproco cresce somente na base de um entendimento sobre alguns valores
inalienáveis, próprios da natureza humana, sobretudo a dignidade
inviolável de cada pessoa como criatura de Deus. Tal entendimento não
limita a expressão das diversas religiões; pelo contrário, permite a
cada um testemunhar e propor aquilo em que crê, não se subtraindo ao
confronto com o outro.
Berlim, 22 de setembro de 2011.
As coisas importantes para o verdadeiro ecumenismo
6. A coisa mais necessária para o ecumenismo é primariamente que, sob
a pressão da secularização, não percamos, quase sem dar por isso, as
grandes coisas que temos em comum, que por si mesmas nos tornam cristãos
e que nos ficaram como dom e tarefa. O erro do período confessional foi
ter visto, na maior parte das coisas, apenas aquilo que separa, e não
ter percebido de modo existencial o que temos em comum nas grandes
diretrizes da Sagrada Escritura e nas profissões de fé do cristianismo
antigo. Para mim, isto constitui o grande progresso ecumênico dos
últimos decênios: termo-nos dado conta desta comunhão e, no rezar e
cantar juntos, no compromisso comum em prol da ética cristã face ao
mundo, no testemunho comum do Deus de Jesus Cristo neste mundo,
reconhecermos tal comunhão como o nosso comum e imorredouro alicerce.É
certo que o perigo de a perder não é irreal.
Erfurt, 23 de setembro de 2011.
O ecumenismo não se baseia em vantagens e desvantagens
7. Nas vésperas da minha visita, falou-se diversas vezes de um dom
ecumênico do hóspede que se esperava da visita em questão. Não é preciso
especificar os dons mencionados em tal contexto. A propósito, quero
dizer que isto – como na maioria dos casos se apresentava – constitui um
equívoco político da fé e do ecumenismo. Quando um Chefe de Estado
visita um país amigo, geralmente a sua vinda é antecedida por contatos
das devidas instâncias que preparam a estipulação de um ou mesmo vários
acordos entre os dois Estados: ponderando vantagens e desvantagens
chega-se a um compromisso que, em última análise, aparece vantajoso para
ambas as partes, de tal modo que depois o tratado pode ser assinado.
Mas a fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens
e desvantagens. Uma fé construída por nós próprios não tem valor. A fé
não é algo que nós esquadrinhamos e concordamos.
Erfurt, 23 de setembro de 2011.
No coração de Maria
8. Uma particularidade da imagem miraculosa de Etzelsbach é a posição do Crucificado. Na maior parte das representações da Pietà,
Jesus morto jaz com a cabeça virada para a esquerda. Deste modo, o
observador pode ver a ferida no lado do Crucificado; aqui em Etzelsbach,
ao contrário, a ferida está escondida, justamente porque o cadáver está
virado para o outro lado. Parece-me que, em tal representação, se
esconde um profundo significado, que só se desvenda numa atenta
contemplação: na imagem miraculosa de Etzelsbach, os corações de Jesus e
da sua Mãe estão voltados um para o outro; estão junto um do outro.
Trocam entre si o seu amor. Sabemos que o coração é também o órgão de
uma sensibilidade mais delicada pelo outro, bem como o órgão da
compaixão íntima. No coração de Maria, há o espaço para o amor que o seu
divino Filho quer dar ao mundo.
Erfurt - Etzelsbach, 23 de setembro de 2011.
Crer junto aos outros
9. Essencialmente, a fé é sempre também um acreditar junto com os
outros. Ninguém pode crer sozinho. Recebemos a fé, diz-nos Paulo,
através da escuta. E a escuta é um processo que requer o estar juntos de
modo espiritual e físico. Somente na grande comunhão dos fiéis de todos
os tempos que encontraram a Cristo e foram encontrados por Ele, posso
crer. O fato de poder crer devo-o, antes de mais nada, a Deus que Se
dirige a mim e, por assim dizer, «acende» a minha fé. Mas, de um modo
muito concreto, devo a minha fé àqueles que vivem ao meu redor e que
acreditaram antes de mim e acreditam juntamente comigo. Este grande
«com», sem o qual não pode haver qualquer fé pessoal, é a Igreja. E esta
Igreja não se detém diante das fronteiras dos países; demonstra-o as
nacionalidades dos Santos que mencionei: Hungria, Inglaterra, Irlanda e
Itália. Daqui se vê como é importante a permuta espiritual, que se
dilata através da Igreja inteira. Sim, para o desenvolvimento da Igreja
no nosso País foi, e continua a ser, fundamental que acreditemos juntos
em todos os Continentes e aprendamos uns dos outros a acreditar. Se nos
abrirmos à fé integral ao longo de toda a história e nos seus
testemunhos em toda a Igreja, então a fé católica tem um futuro, mesmo
como força pública na Alemanha. Ao mesmo tempo as figuras dos Santos, de
que falei, mostram-nos a grande fecundidade de uma vida com Deus, a
fecundidade deste amor radical a Deus e ao próximo. Os Santos, mesmo
onde são poucos, mudam o mundo.
Erfurt, 23 de setembro de 2011.
Deus e o futuro do homem
10. «Onde há Deus, há futuro»: assim diz o lema destas jornadas. Como
Sucessor do Apóstolo Pedro, a quem o Senhor – no Cenáculo –
precisamente deu o encargo de confirmar os irmãos (cf. Lc 22,
32), de boa vontade vim ter convosco, nesta bela cidade, para rezarmos
juntos, proclamar a palavra de Deus e celebrarmos juntos a Eucaristia.
Peço a vossa oração para que estes dias sejam frutuosos, para que Deus
confirme a nossa fé, revigore a nossa esperança e aumente o nosso amor.
Oxalá nos tornemos de novo, nestes dias, cientes de quanto Deus nos ama e
que Ele é verdadeiramente bom. E assim, devemos ser colmados pela
confiança de que Ele é bom para connosco, que tem um poder benévolo e
que Ele nos leva, com tudo o que faz mover o nosso coração e é
importante para nós, nas suas mãos. E queremos nos colocar
conscientemente nas suas mãos. N’Ele, o nosso futuro está assegurado;
Ele dá sentido à nossa vida e pode levá-la à plenitude. Que o Senhor vos
acompanhe na paz e torne a nós todos mensageiros da sua paz!
Freiburg, 24 de setembro de 2011.
Ortodoxos: nossa proximidade
11. Sinto grande alegria por nos encontrarmos hoje aqui juntos. De
coração vos agradeço a todos pela presença e a possibilidade desta
partilha amiga. De modo particular, agradeço-lhe, caro Metropolita
Augoustinos, pelas suas palavras profundas. Chamou-me a atenção
particularmente o que o senhor disse sobre a Mãe de Deus e sobre os
Santos que abraçam e unem todos os séculos. E, neste contexto, apraz-me
repetir aqui o que disse noutro lugar: sem dúvida, de entre as Igrejas e
as Comunidades cristãs, a Ortodoxia é teologicamente a que está mais
próxima de nós; católicos e ortodoxos conservaram a mesma estrutura da
Igreja dos primórdios. Neste sentido, todos nós somos «Igreja dos
primórdios», que entretanto está sempre presente e sempre é nova. E
deste modo, não obstante as dificuldades que de um ponto de vista humano
não cessam de aparecer, ousamos esperar que não esteja demasiado longe o
dia em que poderemos de novo celebrar juntos a Eucaristia (cf. Luz do Mundo. Uma conversa com Peter Seewald,
pp. 91-92).Com interesse e simpatia, a Igreja Católica – e eu
pessoalmente – acompanhamos o desenvolvimento das comunidades ortodoxas
na Europa ocidental, que têm registado um crescimento notável.
Freiburg, 24 de setembro de 2011.
Conjugar fé e razão
12. A preparação para o sacerdócio, o caminho para ele requer, antes
de mais, também o estudo. Não se trata de uma eventualidade académica
que se deu na Igreja ocidental, mas é algo de essencial. Todos
conhecemos estas palavras de São Pedro: «Estai sempre prontos a dar, em
resposta a todo aquele que vo-lo peça, o logos da vossa fé» (cf. 1 Ped
3, 15). Hoje, o nosso mundo é um mundo racionalista e condicionado pelo
carácter científico, embora este seja muitas vezes só aparente. Mas
este espírito científico de querer compreender, explicar, de poder
saber, da rejeição de tudo o que não seja racional é predominante no
nosso tempo. Nisto há também algo de grande, apesar de frequentemente se
esconder por detrás muita presunção e insensatez. A fé não é um mundo
paralelo do sentimento, que possamos permitir-nos como um extra, mas é
aquilo que abraça o todo, que lhe dá sentido, interpreta-o e lhe dá
também as orientações éticas interiores, para que seja compreendido e
vivido apontando para Deus e a partir de Deus. Por isso é importante
estar informados, compreender, manter a mente aberta, aprender.
Freiburg, 24 de setembro de 2011.
Insídias do relativismo subliminar
13. Vivemos num tempo caracterizado em grande parte por um
relativismo subliminar que penetra todos os âmbitos da vida. Às vezes,
este relativismo torna-se combativo, lançando-se contra pessoas que
dizem saber onde se encontra a verdade ou o sentido da vida.
E notamos como este relativismo exerce uma influência cada vez maior
sobre as relações humanas e a sociedade. Isto exprime-se também na
inconstância e descontinuidade de vida de muitas pessoas e num
individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem capazes de
renunciar de modo algum a determinada coisa ou de fazer um sacrifício
pelos outros. Também o compromisso altruísta pelo bem comum nos campos
sociais e culturais ou então pelos necessitados está a diminuir. Outros
já não são capazes de se unir de forma incondicional a um consorte.
Quase já não se encontra a coragem de prometer ser fiel a vida toda; a
coragem de decidir-se e dizer: agora pertenço totalmente a ti, ou então,
de comprometer-se resolutamente com a fidelidade e a veracidade, e de
procurar sinceramente as soluções dos problemas.
Freiburg, 24 de setembro de 2011.
Cristo, a luz verdadeira
14. Ao nosso redor pode haver a escuridão e as trevas, e todavia
vemos uma luz: uma chama pequena, minúscula, que é mais forte do que a
escuridão, aparentemente tão poderosa e insuperável. Cristo, que
ressuscitou dos mortos, brilha neste mundo, e fá-lo de modo mais claro
precisamente onde tudo, segundo o juízo humano, parece lúgubre e sem
esperança. Ele venceu a morte – Ele vive – e a fé n’Ele penetra, como
uma pequena luz, tudo o que é escuro e ameaçador. Certamente quem
acredita em Jesus não é que vê sempre só o sol na vida, como se fosse
possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades, mas há sempre uma luz
clara que lhe indica um caminho, o caminho que conduz à vida em
abundância (cf. Jo 10, 10). Os olhos de quem acredita em Cristo vislumbram, mesmo na noite mais escura, uma luz e vêem já o fulgor dum novo dia.
Freiburg, 24 de setembro de 2011.
O coração aberto
15. A Igreja na Alemanha possui muitas instituições sociais e
caritativas, onde se cumpre o amor do próximo de forma eficaz, mesmo
socialmente e até aos confins da terra. Quero exprimir, neste momento, a
minha gratidão e o meu apreço a todos quantos estão empenhados na Cáritas
alemã ou noutras organizações, ou então que disponibilizam
generosamente o seu tempo e as suas forças para tarefas de voluntariado
na Igreja. Tal serviço requer, primariamente, uma competência objectiva e
profissional; mas, no espírito do ensinamento de Jesus, exige-se algo
mais, ou seja, o coração aberto, que se deixa tocar pelo amor de Cristo,
e deste modo é prestado ao próximo, que precisa de nós, mais do que um
serviço técnico: o amor, no qual se torna visível ao outro o Deus que
ama, Cristo.
Freiburg, 25 de setembro de 2011.
Como, quando e por que transformar a Igreja
16. Uma vez alguém instou a beata Madre Teresa a dizer qual seria, segundo ela, a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi: tu e eu!
Este pequeno episódio evidencia-nos duas coisas: por um lado, a
Religiosa pretendeu dizer ao seu interlocutor que a Igreja não são
apenas os outros, não é apenas a hierarquia, o Papa e os Bispos; a
Igreja somos nós todos, os baptizados. Por outro lado, Madre Teresa
parte efetivamente do pressuposto de que há motivos para uma mudança. Há
uma necessidade de mudança. Cada cristão e a comunidade dos crentes no
seu todo são chamados a uma contínua conversão.
E esta mudança, concretamente como se deve configurar? Trata-se
porventura de uma renovação parecida com a que realiza, por exemplo, um
proprietário de casa mediante uma reestruturação ou a pintura do seu
imóvel? Ou então trata-se de uma correção para retomar a rota e
percorrer, de modo mais ágil e direto, um caminho? Certamente estes e
outros aspectos são importantes, mas aqui não podemos tratar de todos
eles. Mas, cingindo-nos ao motivo fundamental da mudança, este é a
missão apostólica dos discípulos e da própria Igreja(…)Por outras
palavras, podemos dizer: a fé cristã constitui sempre, e não apenas no
nosso tempo, um escândalo para o homem. Que o Deus eterno se preocupe
connosco, seres humanos, e nos conheça; que o Inatingível, num
determinado momento e num determinado lugar, se tenha colocado ao nosso
alcance; que o Imortal tenha sofrido e morrido na cruz; que nos sejam
prometidas a nós, seres mortais, a ressurreição e a vida eterna – crer
em tudo isto não passa, aos olhos dos homens, de uma real presunção.
Este escândalo, que não pode ser abolido se não se quer abolir o
cristianismo, foi infelizmente encoberto, mesmo recentemente, por outros
tristes escândalos dos anunciadores da fé. Cria-se uma situação
perigosa, quando estes escândalos ocupam o lugar do skandalon
primordial da Cruz tornando-o assim inacessível, isto é, quando escondem
a verdadeira exigência cristã por trás da incongruência dos seus
mensageiros.
Freiburg, 25 de setembro de 2011.
Rezo pela Alemanha
17. Desejo encorajar a Igreja na Alemanha a continuar, com força e
confiança, o caminho da fé, que faz as pessoas voltarem às raízes, ao
núcleo essencial da Boa Nova de Cristo. Haverá – e já existem –
comunidades pequenas de crentes que, com o seu entusiasmo, difundem
raios de luz na sociedade pluralista, fazendo a outros curiosos de
procurar a luz que dá vida em abundância. «Não há nada de mais belo que
conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele» (Homilia no início solene do Ministério Petrino,
24 de Abril de 2005). A partir desta experiência, cresce a certeza:
«Onde há Deus, há futuro». Onde Deus está presente, há esperança e
abrem-se perspectivas novas e, frequentemente, inesperadas que vão para
além do hoje e das coisas efémeras. Neste sentido, acompanho em
pensamento e na oração o caminho da Igreja na Alemanha.
Freiburg, 25 de setembro de 2011.
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