[Do blog bibliacatolica]
22 setembro 2011
Fonte: Encontro com o Bispo
Na parábola dos dois filhos, escutada na proclamação do Evangelho de
hoje, somos confrontados com posições muito reais que devemos encarar de
frente, pois podemos descobrir nesta parábola nossas próprias
incoerências.
Descobrimos três pessoas: um pai e dois filhos. Naturalmente
identificamos o pai com Deus; o primeiro filho com Israel, o povo
eleito; o segundo com os gentios, os não pertencentes ao povo israelita,
mas que se converteram e foram os primeiros a labutar na «vinha».
Na parábola, o pai indica aos filhos que se dediquem ao trabalho da
vinha. O primeiro diz que irá trabalhar,mas não vai. O segundo diz que
não irá trabalhar, mas depois, vai. E jesus termina perguntando qual dos
dois cumpriu a vontade do pai…
A parábola inicialmente pode parecer-nos perturbadora. Todavia, Jesus
vem avaliar a nossa franqueza e a nossa lealdade. Ainda hoje Deus
continua a ter dois filhos: na Igreja, nas nossas comunidades cristãs,
no mundo… subsistem sempre os dois filhos. Uns solicitam o Batismo,
dizem «sim», mas, logo, na vida real, o seu «sim» é mudado em muitos
«nãos». Porém, existem muitas pessoas que nunca aceitaram claramente a
Deus, mas na sua experiência diária amam o irmão, dedicam-se aos outros,
praticam desprendidamente a caridade, tem até mesmo em suas vidas u
sentido de Deus.
Sob uma fictícia teimosia, pode existir um verdadeiro amor que no
instante próprio se exterioriza francamente. No oposto, certas formas de
obediência podem constituir apenas desinteresse, por falta de amor
autêntico. É o fato das pessoas que pronunciam sempre «sim», porque não
são capazes de dizer «não»: verdadeiramente nunca passam das palavras às
obras, não sentem necessidade de conversão.
Jesus, como desfecho da parábola, pôs em confrontação a disposição
dos filhos do Povo Eleito com a dos pagãos. De igual modo, o profeta
Ezequiel – como escutamos na primeira leitura – comparou o modo de
julgar do povo israelita com a maneira como Deus procede. Pelo brado do
profeta, Deus pretende repreender os esquemas simplistas com que, às
vezes, classificamos sem recurso as pessoas, ou as fazemos joguetes das
desgraças. Para Deus todo o homem, mesmo grande pecador, tem capacidade
de se converter, como também aquele que se acha bom e justo, pode cair. O
Senhor conhece-nos bem e espera que empreguemos conscientemente a nossa
autonomia.
As palavras do profeta, confirmadas pelas sentenças de Jesus no final
da parábola, são palavras fortes, que encerram uma denúncia sempre
atual. Devemos pensar séria e autenticamente sobre elas, para ver qual é
a nossa forma de agir: se copiamos os que se pensam bons e não fazem
nenhuma tentativa por se converterem, ou se respeitosamente nos
identificamos pecadores e com mansidão nos convertemos ao Senhor,
consoante o apelo de S. Paulo.
A segunda leitura vem fortalecer as duas leituras antecedentes. A
comunidade de Filipos era admirável e São Paulo vangloriava-se dela. Mas
lá, como também acontece nas nossas melhores comunidades, havia a
dificuldade da inveja entre cristãos. Existia quem desejasse
distinguir-se, pretendendo ter o encargo de alguma função a seus olhos
relevante (a proclamação da Palavra durante as celebrações litúrgicas, a
administração dos bens da comunidade, a organização da vida
comunitária, a responsabilidade pelos cânticos…). É verdade que
aspiravam a tais incumbências para ajudar os irmãos, mas também para
afirmação própria, para mandar, para se exibirem. Ou seja, havia algo de
podre por baixo da intenção de servir.
São Paulo, que sempre guardara muito afeto pelos Filipenses,
pede-lhes que lhe dêem a imensa alegria de conviverem sem interesse, sem
espírito de preponderância, mas unidos em efetiva caridade, não
pretendendo o próprio proveito, mas o dos outros. O Apóstolo não se
apraz em aconselhar: indica o modelo, Jesus Cristo, e pede que nas
relações recíprocas procurem retratar a sensibilidade e as maneiras de
agir de Jesus.
Tomara que com a reflexão destes textos, escritos há mais de dois mil
anos, mas atuais, consigamos corrigir alguma postura menos correta que
em nós ainda persista, a fim de sermos verdadeiras testemunhas de Jesus
Cristo, presente através de cada um de nós, no mundo de hoje.
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