terça-feira, 13 de setembro de 2011

As Virgens humildes que obtiveram a coroa


[IHU]


13/9/2011  

Numa mostra em New Haven estão as imagens de Maria de centenas de santuários da Europa e da América. Veneradas desde há séculos, dispensadoras de graças, e por isso coroadas pelo Vaticano. Enquanto na Alemanha, uma Virgem mais célebre antecede a chegada do Papa.
A análise é de Sandro Magister, publicada em seu sítio Chiesa, 08-09-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
A poucos dias de sua terceira viagem à Alemanha, Bento XVI fez um grande presente aos seus compatriotas. Autorizou o envio a Dresden de uma obra mestra de Rafael que antes jamais havia saído dos Museus Vaticanos: a Virgem de Foligno.

Junto à ainda mais famosa “Virgem Sixtina”, conservada precisamente em Dresden desde meados do século XVIII, as duas pinturas de Rafael são o coração de uma mostra preparada na cidade alemã, com o título: Esplendor celeste. Rafael, Durero e Grünewald pintam a Virgem.
A mostra foi inaugurada dia 6 de setembro e permanecerá aberta aos visitantes até o dia 8 de janeiro de 2012.
A “Virgem Sixtina” é há dois séculos o mais celebrado ícone da Mãe de Deus no mundo ocidental, também fora do espaço cristão. Inspirou músicos e escritores. Foi identificada com a visão salvífica que conclui o Fausto de Goethe. Vasilij Grossman intitulou um genial relato seu “A Virgem Sixtina”.
Porém ambas as Virgens de Rafael haviam sido pintadas não como objeto de museu, senão como painéis. E o foram durante todo o seu primeiro período de vida: uma sobre o altar mor da basílica romana de Santa Maria em Araceli e em seguida da Igreja de Santa Ana em Foligno, a outra sobre o altar mor da igreja de São Sixto em Placência
Além de objeto de arte, a Mãe de Jesus tem sido e é primariamente sujeito de culto. É incompreensível à margem da história religiosa cristã. Com Ela representada sobre o altar, a missa expressa de modo ainda mais eloquente o que ela celebra e atualiza: o Verbo que se faz carne para a salvação do homem e do mundo.
* * *
Porém não estão somente os veios artísticos de um Rafael na imensa iconografia mariana.
Também estão as humildes Virgens de inumeráveis igrejas e santuários de todo o mundo. Veneradas século após século por infinitos batalhões de fiéis. Dispensadoras de graças a pessoas e cidades: Como a reproduzida acima, venerada numa ilhota de nome Barbana, numa laguna de Grado, não longe de Veneza.
Também para uma centena destas Virgens “populares” tem sido dedicada uma mostra, paralela à de Dresden.
Leva por título: Cheia de Graça: as Virgens Coroadas da Basílica Vaticana. E tem lugar nos Estados Unidos, em New Haven, em Connecticut, a poucos passos da prestigiosa Universidade de Yale, no quartel general dos Caballeros de Colón, que são também os promotores da mostra.
Prepararam-na, desde Roma, Pietro Zander e Sara Magister. O primeiro, arqueólogo, dirige no Vaticano a secção necrópoles e antiguidades clássicas da “Fábrica” de São Pedro. A segunda, historiadora de arte e principal autora do catálogo da mostra, estudou a fundo, entre outras coisas, a atividade em campo artístico do Papa Júlio II, precisamente o que comissionou a Rafael a “Virgem Sixtina”.
Prepararam-na desde Roma porque é daqui – da Basílica papal de São Pedro – que as Virgens expostas na mostra receberam a “coroa”, embora se encontrem dispersas em dezenas de países da Europa e das Américas.
Entre elas encontra-se a Virgem de Czestochowa, na Polônia, coroada poucas horas antes da morte de João Paulo II em 2005.
Primeira e única em seu gênero, a mostra de New Haven permanecerá aberta ao público, como a de Dresden, até o próximo dia 8 de janeiro. Após essa data se transladará a Washington e em seguida, talvez, à Itália.
Mas, para saber mais de dita mostra, damos a palavra a uma pessoa que a visitou recentemente, o padre Robert Imbelli, sacerdote da diocese de Nova York e professor de teologia no Boston College, além de ser um fino entendedor da arte cristã.
* * *
Virgens Coroadas
por Robert Imbelli
O Concílio Vaticano II, como é sabido, propôs sua reflexão teológica sobre a Virgem no contexto da Constituição sobre a Igreja Lumen gentium. Maria é venerada como a primeira discípula de Cristo, Ela que com seu fiat é o modelo e o exemplo do discipulado cristão.
Desafortunadamente, não obstante as intenções do Concílio, o final dos anos sessenta e os anos setenta viram declinar a devoção mariana em muitas áreas da Europa e da América do Norte. Porém felizmente, com o renovado apreço da religiosidade popular e com o redescobrimento de Maria por parte de numerosos jovens, um novo florescimento da devoção à Mãe de Deus parece ser um sinal significativo dos tempos atuais. Quiçá esta renovada devoção seja particularmente visível entre os jovens peregrinos que participam das Jornadas Mundiais da Juventude.
Chega, pois, no momento preciso a original mostra de arte mariana que embeleza neste período o museu dos Cavaleiros de Colombo em New Haven, Connecticut: Cheia de graça: as Virgens Coroadas da Basílica Vaticana. A mostra está aberta em New Haven até o próximo dia 8 de janeiro, antes de transladar-se a Washington, D.C.
A mostra põe em linha quase uma centena de pinturas que recentemente tem sido restauradas esplendidamente. Elas pertencem ao Capítulo da Basílica de São Pedro em Roma, e nelas se guarda um fascinante período da história religiosa popular.
As pinturas são, por sua vez, cópias de obras de arte espalhadas na Europa e na América Latina. Foram feitas quando as comunidades eclesiais locais submeteram ao Capítulo da Basílica de São Pedro o pedido de “coroar” as imagens que há tempo eram objeto de devoção popular, ou meta de peregrinações de fiéis. As condições fixadas para ditas coroações incluíam:
  1. a antiguidade da imagem;
  2. a longa duração da devoção popular; e
  3. a freqüência de atos milagrosos de graça atribuídos a dita devoção popular.
Para a aceitação da solicitação de coração da imagem, estava estabelecido que uma cópia fiel da obra fosse enviada à basílica de São Pedro.
Mais que no superior valor artístico das pinturas enquanto tais, o grande interesse da mostra reside em seu precioso e variado testemunho da devoção à Virgem no conjunto da cristandade católica.
As obras de arte original sejam pinturas, esculturas, ícones ou mosaicos, abraçam muitos lugares e culturas particulares; são uma vívida antecipação da “globalização” que hoje é tão celebrada. Porém testemunham também as virtudes perenes que devem acompanhar cada verdadeira reforma e renovação espiritual da Igreja.
Gostaria aqui de realçar quatro virtudes: confiança, valor, compaixão e esperança.
Não surpreende que uma grande parte das imagens represente Maria que embala em seus braços o Menino Jesus. Da Itália ou da Polônia, da França ou da Espanha, de Malta ou Turquia, as imagens pintam a terna confiança do menino Jesus, que repousa seguro entre os braços de sua mamãe. Elas convidam os cristãos, progênie espiritual de Maria, a uma confiança igual em seus cuidados maternos.
Outro tema freqüente é o da “Virgem da Piedade”, tanto na famosa escultura de Miguel Ângelo como na representação da Virgem como “Santa Maria das Dores”: a Virgem das Dores. Aqui Maria que tem entre os braços seu filho morto ou comparte seus sofrimentos dá testemunho do valor que requerem os discípulos em seguir o caminho de Cristo, que é o caminho da Cruz.
A confiança em Maria e o valor produzem frutos de compaixão. As numerosas imagens Dela como “Virgem da Misericórdia” ou “Virgem da Graça” testemunham as inumeráveis graças e os favores concedidos àqueles que têm buscado sua intercessão ao longo dos séculos. Os que buscaram sua intercessão não têm ficado sem ajuda.
Enfim, as coroas colocadas nestas imagens do Capítulo da Basílica de São Pedro são uma concreta, física recordação da coroação espiritual de Maria como Rainha do Céu. Elas representam, portanto, a esperança que os discípulos de Cristo obterão, também eles, a coroa de glória prometida aos que fazem a vontade do Pai celeste.
Um excelente catálogo (disponível em italiano e em inglês) acompanha a mostra, preparado por seu curador, Pietro Zander. Cada pintura, esplendidamente reproduzia, tem um artigo que dá conta das investigações sobre os fatos históricos da imagem e proporciona dados e detalhes de sua coroação. A maior parte destes artigos tem sido escrita pela historiadora de arte Sara Magister, que tem desempenhado um papel-chave na preparação da mostra.
Visitar Cheia de Graça: as Virgens coroadas da Basílica Vaticana e meditar com o formoso catálogo pode guiar de maneira precisa a oração. Faz que volte à mente a amorosa oração do Papa Bento XVI à virgem como conclusão de sua primeira encíclica Deus caritas est:
“Mostra-nos Jesus. Guia-nos para Ele. Ensina-nos a conhecê-lo e amá-lo, para que também nós possamos chegar a ser capazes de um verdadeiro amor e ser fontes de água viva e meio de um mundo sedento”. 

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