Profeta Elias |
Por Dom Murilo S.R. Krieger
SALVADOR, segunda-feira, 12 de setembro de 2011 (ZENIT.org)
– A Bíblia, nos capítulos dezoito e dezenove do Primeiro Livro dos
Reis, nos apresenta uma extraordinária experiência de Deus, tendo como
protagonista o profeta Elias. O fato ali narrado ocorreu cerca de nove
séculos antes da era cristã.
Elias não se conformava com o comportamento
do povo escolhido, que havia abandonado o culto ao Deus verdadeiro para
seguir as idéias dos profetas dos povos vizinhos, adoradores do deus
Baal. Tendo percebido que, sem algum gesto dramático, não conseguiria
levar seu próprio povo à conversão, propôs um desafio aos profetas de
Baal:
eles escolheriam um novilho, o preparariam para o sacrifício e o
colocariam sobre a lenha, mas sem pôr fogo. Ele, por sua vez, faria o
mesmo. Em seguida, cada um invocaria o nome de sua divindade: ela é que
deveria acender o fogo, para que a oferta fosse queimada. Conforme a
resposta obtida, saberiam do lado de quem estava o Deus verdadeiro.
Aceito o desafio, os seguidores de Baal
dispuseram tudo de acordo com o que fora combinado e iniciaram as
súplicas. Multiplicaram as orações e nada conseguiram. Vendo-os e
escutando-os, Elias fez um comentário irônico: “Gritai mais alto, pois
sendo deus, Baal pode estar ocupado. Quem sabe ausentou-se ou está de
viagem; ou talvez esteja dormindo e seja preciso acordá-lo”. Os profetas
de Baal passaram das súplicas aos gritos; em seguida, se autoferiram
até o sangue escorrer. Nada conseguiram.
Ao chegar sua vez, Elias mandou que
derramassem água tanto sobre a lenha como sobre a oferenda que
preparara. Pediu, então, que Deus se manifestasse: “Ouve-me, Senhor,
ouve-me, para que este povo reconheça que tu, Senhor, és Deus, e que és
tu que convertes os seus corações”. A resposta foi imediata: veio fogo
sobre o altar, consumindo a oferta, a lenha e as próprias pedras do
altar. Tirando proveito de seu sucesso e querendo exterminar o mal pela
raiz, Elias mandou que fossem degolados todos os profetas de Baal.
Depois disso, foi ameaçado de morte e perseguido. Para piorar a
situação, teve o desgosto de ver que, mesmo depois disso tudo, seu povo
não se converteu ao Deus verdadeiro. Desanimado e com vontade de morrer,
foi socorrido por um anjo e partiu em direção ao Monte Horeb. Ali fez a
experiência de Deus a que me referi no início.
Sabendo que o Senhor passaria em seu
caminho, o profeta o esperou, de pé. Viu então, sucessivamente, o
desenrolar de vários fenômenos grandiosos. Ficou atento, pois Deus
poderia se manifestar através deles. Mas Deus não estava nem no furacão
violento, nem no terremoto, nem no fogo. Finalmente, ouviu-se o murmúrio
de uma brisa suave. O Senhor estava nela.
Também hoje, em nossa vida, Deus se
manifesta muitas vezes e de maneiras diferentes. Por vezes serve-se de
acontecimentos extraordinários, como são os desequilíbrios da natureza,
as grandes decepções, uma doença grave ou a morte de uma pessoa que nos é
querida. Normalmente, porém, manifesta-se em nossa vida por meio de
brisas suaves - isto é, de acontecimentos tão simples que não
valorizamos; tão rotineiros que nem percebemos; tão frequentes que nem
lhes damos valor. Contudo, cada passagem sua é especial, irrepetível e
única.
O episódio envolvendo Elias nos ensina que é o Senhor que escolhe a
maneira de se manifestar a nós. Mesmo assim, muitos preferem ir atrás de
experiências exóticas ou envolvidas pelo misticismo superficial, já que
elas não exigem qualquer mudança de vida. São preferidas as
experiências que mais agradam aos sentidos e as que acalmam a
consciência com pensamentos vagos e que, por isso mesmo, não geram
nenhum compromisso ou responsabilidade. Sem perceber, imitam-se, hoje,
os antigos pagãos, que costumavam criar deuses à sua própria imagem e
semelhança – isto é, com as limitações e os defeitos humanos.
Enquanto isso, o Deus vivo e verdadeiro
passa em nossos caminhos como uma brisa suave e amena, para
possibilitar-nos experiências marcadas pelo amor, pela alegria e pela
paz. Só O perceberemos se formos capazes de valorizar o sorriso de uma
criança, a beleza de uma flor à beira do caminho ou a onda do mar que se
desmancha na areia da praia.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj, é arcebispo de São Salvador da Bahia
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