[IHU]
14/9/2011
Rowan Williams |
O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder espiritual dos
anglicanos, pretende renunciar no próximo ano. A notícia, que não foi
desmentida no Palácio de Lambeth, repercutiu no domingo em alguns meios
de comunicação ingleses que falam de conflitos internos na Igreja Anglicana.
A reportagem
é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider,
13-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em essência,
as fontes de divisão são as posições sobre os temas quentes da agenda da Comunhão
Anglicana, das ordenações de sacerdotes gays à bênção dos casamentos entre
homossexuais.
Há anos, a alma mais pura do anglicanismo contesta essa nova
linha "liberal" que, ao contrário, Williams parece apoiar.
Assim, por causa de uma situação interna que se tornou cada vez mais difícil,
ocorrerá a possível e clamorosa renúncia de Williams.
Para voltar
à vida acadêmica, o líder da Comunhão Anglicana poderia deixar o seu
posto quase uma década antes do prazo previsto. Williams, de 61 anos,
que se empenhou intensamente para conter os contragolpes das rupturas causadas
na Comunidade Anglicana mundial pelas questões da ordenação de mulheres e de
bispos homossexuais, seria esperado em um posto no corpo acadêmico da Universidade
de Cambridge.
Os rumores
provenientes da Grã-Bretanha repercutiram no Vaticano, onde Rowan
goza de uma boa reputação, especialmente depois da calorosa acolhida que ele
deu, em setembro de 2010, a Bento XVI, durante a sua viagem apostólica à
Escócia e à Inglaterra. Um ano e meio atrás, o chefe dos
anglicanos havia determinado que "a Igreja Anglicana não tem nenhum
problema em nomear bispos pessoas homossexuais, contanto que sejam respeitadas
as tradições e os padrões históricos que exigem que os padres gays permaneçam
célibes". O "sim" aos bispos gays havia levantado uma onda de
reações e de polêmicas dentro do mundo anglicano, tanto da parte liberal quanto
da conservadora. A intenção era a de manter unida a Igreja da Inglaterra, mas parece
ter tido o efeito oposto, a partir da ameaça de um cisma conservador depois da
nomeação a bispo de Jeffrey John, unido civilmente a um outro homem.
"O
custo para toda a Igreja seria muito alto se a tolerância aos gays tivesse que
ser levada até o ponto de aceitar padres e bispos com relações ativas",
afirmou Williams, em setembro de 2010, embora dizendo-se consciente,
desde a sua nomeação a bispo de Canterbury, que a questão homossexual é
"uma ferida para todo o ministério".
Apesar das
atuais dificuldades entre anglicanos e católicos sobre as questões de caráter
teológico e ético, Bento XVI promoveu com decisão o diálogo,
recebendo em audiência no dia 23 de novembro de 2010 o primaz da Comunhão
Anglicana, o arcebispo de Canterbury (acompanhado de sua esposa, Jane,
e do filho, Philip) em uma data fortemente simbólica: o 40º aniversário
do histórico encontro entre o então arcebispo de Canterbury, Michael
Ramsey, e o Papa Paulo VI. Um "face a face" de porte
epocal, que deu origem a uma nova era de relações depois da ruptura ocorrida no
tempo de Henrique VIII no século XVI.
O arcebispo Williams
falou abertamente ao Papa Ratzinger sobre a tensões e as dificuldades
que afligem a Comunhão Anglicana e, assim, sobre a incerteza do futuro
da própria Comunhão. Desdobramentos recentes, especialmente no tocante ao
ministério ordenado e a certos ensinamentos morais, afetaram não só as relações
internas da Comunhão Anglicana, mas também as relações entre a Comunhão
Anglicana e a Igreja Católica.
A decisão da
Igreja de Inglaterra de aprovar a ordenação sacerdotal de mulheres em
1992 tornou-se um dos problemas no caminho rumo à plena unidade entre as duas
Igrejas. Em 2003, bispos anglicanos da África, Ásia e América
Latina criticaram duramente a decisão da Igreja Episcopal dos Estados
Unidos (pertencente à Comunhão Anglicana) de nomear bispo um
homossexual de New Hampshire. A Igreja Episcopal dos Estados Unidos
também nomeou como presidente, pela primeira vez, uma mulher, Katharine
Jefferts Schori, até recentemente bispa de Nevada.
Há anos, na
verdade, a questão dos padres abertamente homossexuais promovidos a bispos
levanta em todo o mundo um ardente debate. Ainda em novembro de 2003, a
consagração de Gene Robinson, gay declarado, a bispo
coadjutor da diocese episcopal de New Hampshire (EUA), ameaçou
tornar real o cisma entre anglicanos e episcopais.
Rowan
Williams, galês, é considerado um dos homens mais cultos do
nosso tempo. Conhece e fala oito idiomas. Graduado em filosofia e em teologia,
passou a maior parte de sua vida como professor nas duas universidades inglesas
mais importantes, a de Cambridge e a de Oxford. Desde 1981, está
casado com Jane Paul, também teóloga e professora universitária,
com quem teve dois filhos.
"A
formação religiosa do arcebispo tem características muito especiais. É o fruto
do amor e do conhecimento das várias formas em que, ao longo dos séculos, se
dividiu a religião cristã", explica o escritor católico Renzo Allegri.
"Ele vem de uma família de luteranos-jansenistas, que deram as bases para
a sua fé religiosa. Mas, desde jovem, quis ser educado na tradição
anglo-católica e depois, como adulto, se apaixonou pelo estudo da tradição
russo-ortodoxa. O ecumenismo é, portanto, um elemento inato do seu espírito.
Uma característica muito surpreendente desse personagem é o fato de que ele é
também um dos grandes poetas do nosso tempo. É contado entre os clássicos
modernos, como Thomas Stearns Eliot, por exemplo".
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