[IHU]
21/9/2011
Christoph Schönborn |
O risco existe e foi denunciado pelo cardeal de Viena, Schönborn, em rota de colisão com o clero
dissidente que quer o casamento dos padres e a comunhão aos divorciados.
A reportagem
é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider,
19-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Áustria
infelix. Ainda há confrontos entre o cardeal Christoph Schönborn e
os dissidentes. No último final de semana, o arcebispo de Viena
denunciou publicamente o risco de cisma na Igreja austríaca. O líder do
episcopado reiterou ao movimento de oposição interna do clero que violar a
regra do celibato eclesiástico e admitir os divorciados em segunda união à
comunhão coloca os sacerdotes dissidentes fora da Igreja.
Os
promotores do manifesto reformador Apelo à desobediência, advertiu o
cardeal, não conseguirão fazer com que a arquidiocese de Viena entre em rota de
colisão com a Santa Sé. "Todas as possibilidades estão abertas, e
eu conto com o diálogo e a cooperação", afirmou o arcebispo, que, porém,
exclui a ruptura com Roma. Os dissidentes, liderados pelo pároco Helmut
Schüller, invocam uma série de reformas radicais ao Vaticano, em
estreita colaboração com o movimento ultraprogressista Nós Somos Igreja,
de Hans-Peter Hurka.
O Nós
Somos Igreja é o verdadeiro motor propulsor da dissidência na Áustria.
É um movimento importante em número e influência no país. O movimento nasceu
das cinzas do caso de Hans Hermann Groër, o antecessor de Schönborn
em Viena. Foi depois das acusações de pedofilia contra Groër que, em Innsbruck
e em Viena, alguns católicos quiseram reagir e lançar o célebre Apelo
do Povo de Deus, uma agenda para a hierarquia da Igreja composta de pontos
específicos.
Desde 1995
até hoje, o Apelo foi assinado por mais de dois milhões e meio de
pessoas. Inicialmente, também houve o apoio de muitos bispos austríacos.
Depois, os prelados foram chamados à ordem pelo Vaticano e retiraram sua
adesão. A partir desse dia, com as hierarquias, pelo menos oficialmente, não
houve nenhum contato. E é provável que ainda hoje Roma tema que, de
algum modo, tudo aquilo que lembra esse apelo se manifeste e se evidencie hoje
em todas as suas formas. É um sinal claro de que o cardeal e aluno predileto do
papa dá para a Áustria e também para Roma.
O conflito nas dioceses
austríacas é uma constante dos últimos anos, entre abusos litúrgicos (como o
"Corpus Domini" espetado e içado em procissão, na foto),
irregularidades disciplinares, violações do celibato eclesiástico. Em junho de
2009, Bento XVI chamou a Igreja austríaca novamente à ordem, indicando
"a urgência do aprofundamento da fé e da fidelidade integral ao Concílio
Vaticano II e ao magistério pós-conciliar da Igreja".
Dois anos
atrás, o papa se confrontou com os bispos austríacos, que, nos últimos meses,
haviam protestado no Vaticano contra a revogação da excomunhão aos
lefebvrianos e contra a nomeação em Linz do intransigente Gerhard Wagner, que havia definido a saga de Harry
Potter de "satânica", o furacão Katrina de "castigo
divino" e os gays de "doentes psiquiátricos".
O
catolicismo austríaco está passando por uma grave crise: queda das vocações e
de fiéis, forte polarização entre conservadores e progressistas, crescente
sentimento antirromano. Mais de uma vez, os ministros vaticanos contestaram a
Igreja austríaca por causa de uma série de escândalos nas dioceses, dos padres
concubinos aos fracassados procedimentos de bispos progressistas contra a
rebelião dos sacerdotes que tinham reivindicado a convivência com uma
companheira.
Na primavera
de 2009, a nomeação de Wagner quase causou uma revolta contra Roma.
O papa foi obrigado a dar "meia-volta" ao aceitar a sua renúncia ao
cargo, enquanto no Vaticano se multiplicavam as denúncias de casos de
concubinato referentes a alguns sacerdotes que se opunham à nomeação. O que
aumenta o escândalo é a investigação de 40 mil imagens e filmes de pornografia
infantil encontrados no seminário de Sankt Pölten, incluindo
paródias nazistas, celebrações de casamentos gays falsos entre seminaristas,
atos sexuais de sacerdotes com menores.
Quem havia
trazido novamente à ordem do dia, há dois anos, a questão da abolição do
celibato eclesiástico havia sido justamente o líder da Igreja austríaca e da
associação dos ex-alunos de Ratzinger. De acordo com o arcebispo de Viena,
Christoph Schönborn, o celibato dos padres, "peculiaridade da
Igreja Católica", explica em parte os casos de pedofilia cometidos por
sacerdotes. Em maio de 2010, o cardeal colocou em questão "tanto a
educação dos padres, quanto as consequências da revolução sexual de 1968, e o celibato
no desenvolvimento pessoal", convidando a "uma mudança de
visão".
Há algum
tempo, Schönborn apresentou à Cúria um apelo de proeminentes católicos
austríacos pela abolição da obrigação do celibato, pelo retorno à atividade dos
padres casados, pela abertura ao diaconato também para as mulheres e pela
ordenação dos chamados viri probati. O "memorando",
acompanhado de uma nota de Schönborn, foi entregue ao ministério
vaticano do Clero, com o pedido de "lê-lo atentamente" para que
"alguém em Roma saiba o que uma parte dos nossos leigos pensa sobre
os problemas da Igreja".
Para os
promotores da ação, o cardeal Schönborn havia prometido explicar no Vaticano
as suas motivações, "mesmo não as compartilhando todas", junto com os
relatórios sobre as consequências que a carência de padres está provocando em
46 paróquias diferentes, sobretudo nas áreas rurais.
E, no ano
passado, o cardeal Schönborn abriu a assembleia diocesana de Viena
exigindo um mea culpa geral: "A Igreja só pode sair dessa crise
devastadora purificando-se com um arrependimento verdadeiro, senão tudo será
inútil".
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