[IHU]
19/9/2011
A associação dos sacerdotes, defendida por um bispo
emérito, pede a abolição do celibato. Um assunto discutido há muitos anos.
A reportagem
é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider,
16-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um outro
grupo de sacerdotes, desta vez irlandês, pede a abolição do celibato. A Associação
dos Padres Católicos assumiu publicamente a favor da abolição do
celibato obrigatório, recebendo o apoio do bispo emérito de Derry, Edward Daly. "O que nos leva a essa
direção é tanto a crise das vocações, quanto um compromisso de fundo",
explica o padre Brendan Hoban, fundador da associação. "Nos próximos 10-15
anos, haverá uma drástica redução no número de sacerdotes e não existe um
"plano B". Se o Vaticano cria uma nova prelazia pessoal para
os padres anglicanos casados, por que não estende essa possibilidade a todo o
clero?".
O celibato
eclesiástico é um assunto muito discutido não só na Irlanda. Em junho de
2009, quando Bento XVI se confrontou por dois dias com os bispos
austríacos que haviam protestado no Vaticano para a revogação da
excomunhão aos lefebvrianos e para a nomeação em Linz do intransigente Gerhard
Wagner, surgiram os mesmos problemas: a queda das vocações e dos fiéis, a
forte polarização entre conservadores e progressistas, crescente sentimento
antirromano, uma série de escândalos nas dioceses: dos párocos concubinos aos
procedimentos fracassados de bispos progressistas contra a revolta dos
sacerdotes que tinham reivindicado a convivência com uma companheira. A Igreja
tem tempos longos, mas cresce em seu interior o desejo de abolir o celibato
eclesiástico.
Até agora,
os padres que pediam a dispensa das obrigações sacerdotais deviam ter pelo
menos 40 anos e declarar que se equivocaram ao se tornar padres, denunciando a
invalidade da sua própria ordenação. A tendência era adiar as coisas e manter
tudo em silêncio. Alguma coisa, gradualmente, está se movendo. A questão da
ordenação de padres casados "pode ser discutida", declarou em
novembro de 2007 o cardeal francês Roger Etchegaray, presidente emérito
do Pontifício Conselho Justiça e Paz e vice-decano do Sagrado Colégio,
abrindo aos sacerdotes casados.
Do Vaticano,
chegaram nos últimos anos importantes sinais sobre um dos temas mais espinhosos
e controversos. "A questão pode ser posta, como ocorre na Igreja
greco-católica", afirmou o purpurado em uma entrevista ao jornal Le
Parisien. "Mas deve ficar claro que essa não é a solução ao problema
da crise vocacional".
Palavras bem
ponderadas que há quatro anos reacenderam as esperanças das siglas que lutam
contra o celibato eclesiástico. Quase simultaneamente ao cardeal Etchegaray,
havia sido o ministro do Clero, Cláudio Hummes, que refletiu
sobre a abolição do celibato eclesiástico. Depois, porém, a maioria da Cúria se
opôs, intencionada a manter a antiga norma disciplinar.
Inclinados
em favor dos padres casados, estavam alguns líderes progressistas do Sagrado
Colégio como o primaz da Bélgica. "O celibato é uma regra da
Igreja que pode mudar", considera o cardeal Godfried Danneels.
Grande parte da hierarquia eclesiástica, no entanto, combate o fim do celibato.
"A proibição do contrair matrimônio é uma prática tão antiga que é
impossível de ser retocada", advertiu o cardeal "conservador" Julian
Herranz, do Opus Dei, um dos máximos juristas do Vaticano e
presidente da comissão disciplinar da Cúria. "Certamente, uma coisa são os
dogma, e outra, as leis. As normas também podem ser modificadas, mas isso não
significa que seja oportuno ou conveniente fazê-lo. A abolição do celibato
empobreceria tremendamente a vida da Igreja. As pessoas gostam mais de um
sacerdote que fez da sua vida uma doação completa. O mundo não é todos eros e
sexo".
O celibato
continua sendo um "grande valor espiritual e pastoral" da Igreja,
como foi reafirmado na reunião dos presidentes de dicastérios de um ano atrás,
afirmou a Sir, a agência da Conferência dos Bispos da Itália:
"A castidade pelo Reino dos Céus faz parte dos 'conselhos evangélicos'
indicados por Jesus aos seus discípulos. E o 'conselho' amadureceu lentamente
ao longo do tempo como prática crescente até que a Igreja do Ocidente fez com
que se tornasse norma positiva para os sacerdotes de rito latino. Ao contrário
das normas que regem a vida dos sacerdotes de rito oriental, também os
católicos". Certamente, "a disciplina da Igreja sempre pode ser
rediscutida pela própria Igreja, ao contrário das verdades da fé".
A luz do sol
é uma quimera para os Priests in Love (8 mil "depravados"
apenas na Itália, além de 50 mil no mundo) e para as mulheres a eles
ligadas sentimentalmente. "Também somos famílias, mas negadas. Em nome do
respeito pelos direitos humanos e da caridade evangélica, temos três pedidos
para o pontífice", protesta a associação Vocatio. Primeiro, que a
dispensa seja facilmente concedida aos sacerdotes que queiram se casar,
"sem humilhações e tempos bíblicos de espera". Segundo, que os padres
casados possam continuar desempenhando o ministério sacerdotal, "de acordo
com a Escritura e por motivos pastorais, ou seja, por causa da atual carência
de sacerdotes". Terceiro, a democratização da gestão da Igreja com uma
descentralização operacional e um maior papel da mulher. "Somos a Igreja
do silêncio", lamentam os sacerdotes italianos que abandonaram o sagrado
hábito pelo matrimônio. "Um padre casado é afastado do seu ministério e
deve recomeçar a sua vida do início, procurando casa e trabalho, banidos das
comunidades eclesiais ou mal tolerados à sua margem".
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