[IHU]
25/9/2011
"Não devemos ignorar o fato de que o mal existe. Na Alemanha
Oriental, o nazismo e o comunismo foram duas chuvas ácidas sobre a
fé", disse o papa na missa celebrada na praça da Catedral de Erfurt,
diante de 30 mil fiéis, antes de voar para Friburgo, a última etapa
dessa sua terceira visita à sua terra natal, depois da
viagem a Colônia em 2005 e à Baviera em 2006.
A reportagem
é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider,
24-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Antes do
início da cerimônia, de acordo com a imprensa local, um homem disparou vários tiros contra um posto de bloqueio a cerca
de 500 metros da catedral, ferindo levemente um policial. O homem foi detido
pela polícia. Os fiéis na catedral não perceberam nada.
Uma das
leituras da missa foi feita por um homem cego, que leu uma passagem das
Escrituras utilizando o sistema Braille. "Aqui na Turíngia e na
então RDA, eu tive que suportar uma ditadura 'marrom' (nazista) e uma
'vermelha' (comunista), que, para a fé cristã, tinham o efeito da chuva
ácida", destacou o papa teólogo e pastor. "Muitas consequências
tardias desse tempo ainda devem ser digeridas, especialmente no âmbito
intelectual e religioso", continuou o papa na homilia. "A maioria das
pessoas nesta terra já vivem longe da fé em Cristo e da comunhão da
Igreja".
O pontífice
ressaltou, no entanto, as "experiências positivas" das últimas duas
décadas, depois da queda do Muro, questionando, contudo, se a liberdade
reencontrada também pode ter levado a um "crescimento na fé".
"Não é preciso, talvez, buscar as raízes profundas da fé e da vida cristã
em outro lugar que não na liberdade social?", perguntou. "Muitos
católicos resolutos permaneceram fiéis Cristo e à Igreja precisamente na
difícil situação de uma opressão exterior. Aceitaram desvantagens pessoais, a
fim de viver a própria fé".
Especialmente
em Eichsfeld, o papa, que havia celebrado ontem à noite as Vésperas nessa
área da antiga RDA, observou que "muitos cristãos católicos
resistiram à ideologia comunista. Que Deus recompense abundantemente a
perseverança na fé".
Segundo Bento
XVI, além disso, "as mudanças políticas de 1989 no seu país não foram
motivadas apenas pelo desejo de bem-estar e de liberdade de movimento, mas
também, decisivamente, pelo desejo de veracidade". Esse desejo "foi
mantido desperto, dentre outras coisas, por pessoas que estavam totalmente ao
serviço de Deus e do próximo, e estavam dispostas a sacrificar a sua própria
vida", pela sua "coragem de tirar proveito da nova situação. Não
queremos nos esconder em uma fé somente privada", concluiu o papa,
"mas queremos gerir de modo responsável a liberdade alcançada".
Em Friburgo,
no católico Baden-Wuerttemberg, depois da saudação aos cidadãos, o
pontífice se encontrará, à tarde, com o idoso ex-chanceler Helmut Kohl,
protagonista do processo de reunificação alemã. Assim, no seminário da cidade,
ele verá os representantes das Igrejas Ortodoxas, os jovens seminaristas e o Conselho
do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZDK), organização que
representa os laicato católico que tem uma sólida tradição na vida social
alemã.
Às 19h, o
encontro final do dia, nos espaços da Feira, com a vigília de oração com os
jovens. Ao todo, seis discursos que o papa irá pronunciar nos vários encontros.
A condenação do nazismo e do comunismo como "ditaduras ímpias" já
estava contida na homilia pronunciada diante de 90 mil fiéis em Etzelsbach,
santuário mariano da ex-RDA. "Não é a autorrealização que realiza o
verdadeiro desenvolvimento da pessoa, o que hoje é proposto – disse ele em sua
homilia – como modelo da vida moderna, mas que pode facilmente se transformar
em uma forma de egoísmo refinado", defendeu o papa.
"A
nossa confiança na intercessão eficaz da Mãe de Deus e a nossa gratidão
pela ajuda sempre novamente experimentada trazem consigo – acrescentou –, de
algum modo, o impulso de levar a discussão para além das necessidades do
momento". Deus "é a fonte de todo o bem e não quer nada mais do que a
nossa verdadeira felicidade. Ele tem o direito de exigir de nós uma vida que se
abandone sem reservas e com alegria à sua vontade e se esforce para que os
outros também façam o mesmo".
De acordo
com o Papa Ratzinger, é verdade que "onde há Deus, há futuro",
porque "onde deixamos o amor de Deus aja plenamente em nossas vidas, lá o
céu está aberto. Lá é possível moldar o presente, de modo que corresponda
sempre mais à Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. Lá as pequenas coisas da
vida cotidiana têm o seu sentido, e lá os grandes problemas encontram a sua
solução".
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