[IHU]
2/9/2011
Certamente, para famílias cada vez mais
frequentemente desestruturadas, é muito difícil ensinar uma moral sexual que
não seja testemunhada pelos pais e pelo ambiente onde os jovens vivem. É
preciso enfrentar a questão a ele subjacente: o clamoroso fracasso da utopia da
revolução sexual e o consequente desmoronamento da primeira instituição de
educação moral, a família.
A análise é de Lucetta Scaraffia, membro do Comitê
Italiano de Bioética e professora de história contemporânea da Universidade
La Sapienza de Roma. O artigo foi publicado no jornal L’Osservatore
Romano, 31-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Agora coube a Nova York: o responsável pelos
estudos Dennis Walcott determinou que, com o novo ano escolar, os
estudantes entre 11 e 18 anos deverão frequentar um curso de educação sexual pelo menos um semestre. O novo
curso faz parte das iniciativas lançadas pelo prefeito Bloomberg para
salvar da miséria à qual parecem destinados os jovens negros e
latino-americanos. Para evitar polêmicas religiosas, entre os métodos
anticoncepcionais, também será citada a castidade, e os professores deverão
falar sobre sexo com alguma cautela. Mas isso não foi suficiente para o arcebispo
Timothy Dolan, que criticou a iniciativa,
afirmando que, "assim, as autoridades permitem que o sistema escolar se
sobreponha aos valores dos pais, para substituí-los por aqueles dos que
governam".
Mais uma vez, vemos se repetir um modelo já
experimentado em muitos outros países: o Estado decide incluir cursos de
educação sexual obrigatórios nas escolas, e a Igreja Católica se opõe,
conquistando na mídia a imagem de força obscurantista, cruel por ser
indiferente às consequências que a sua rejeição pode ter entre os jovens, isto
é, gravidezes indesejadas e doenças. Ao contrário, as coisas não são assim.
Não se entende como as instituições públicas
ocidentais continuam alimentando uma confiança mágica na eficácia da educação
sexual. Depois de anos de cursos, naturalmente centrados nos métodos
contraceptivos, vimos como em muitos países – o exemplo mais conhecido é o Reino
Unido – os jovens continuam tendo relações sexuais precoces sem nenhuma
proteção, e se multiplica as gravidezes entre as adolescentes e os abortos. Já
está claro que não basta absolutamente explicar-lhes como podem usar os
contraceptivos e onde encontrá-los facilmente para evitar essas tragédias, mas
sim que o problema está antes, na educação e, portanto, na família.
No fundo, a Itália – onde não existe
educação sexual escolar obrigatória – é um dos países que se encontra melhor a
partir desse ponto de vista: aqui, os jovens têm menos risco de doenças e
gravidezes precoces. Isso ocorre por mérito da família, do controle afetuoso
dos pais sobre os filhos adolescentes, do fato de que os jovens não são
abandonados a si mesmos com uma caixa de anticoncepcionais como única defesa
contra as suas paixões e os seus erros.
E, em parte, também é mérito da Igreja Católica,
que continua ensinado que as relações sexuais são muito mais do que uma
ginástica agradável a ser praticada sem freios e sem correr riscos. A Igreja,
de fato, considera a vida sexual dos seres humanos como uma das provas mais
significativas da sua maturidade humana e espiritual, uma prova a ser
enfrentada com preparação e seriedade, isto é, que deve estar ligada a escolhas
de vida fundamentais como o matrimônio e, portanto, aos fundamentos de uma
família em que a procriação constitui um dos fins principais.
A Igreja ensina o respeito pelo próprio corpo, o
que significa dar importância e peso aos atos que são feitos com ele, a não
considerá-los só como possibilidades de diversão ou de satisfação narcisista: e
isso é justamente o contrário do que dizem os seus críticos.
Para a tradição católica, o corpo é
importantíssimo, desempenha um papel central na experiência humana e espiritual
de toda pessoa. Os católicos, portanto, não podem aceitar que a vida sexual
seja considerada como matéria de ensino como uma atividade qualquer, pois
apresenta perigos que seria melhor evitar. Como bem se sabe, além disso, os
jovens são muitas vezes atraídos pelos perigos e só se comprometem a evitá-los
se forem educados para as razões profundas de um comportamento moral diferente.
Certamente, para famílias cada vez mais
frequentemente desestruturadas, é muito difícil ensinar uma moral sexual que
não seja testemunhada pelos pais e pelo ambiente onde os jovens vivem. E,
assim, parece mais fácil renunciar a qualquer forma de ensinamento moral,
deixar o problema para a escola que substitui a educação moral com informações
técnicas. Se, depois, os resultados forem desastrosos, finge-se que não houve
nada: é mais fácil ignorar o problema, fingindo que ele é resolvido com cursos
escolares inúteis, ou melhor, prejudiciais, do que enfrentar a questão a ele
subjacente. Isto é, o clamoroso fracasso da utopia da revolução sexual e o
consequente desmoronamento da primeira instituição de educação moral, a
família.
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