segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O casamento marginalizado

Por que esta tendência ameaça a sociedade

Por padre John Flynn L.C.
ROMA, domingo, 18 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Conclusões de um relatório recente sobre o casamento desenham uma situação preocupante.
Em agosto, o Instituto Brookings de Washington publicou o estudo "A Marginalização do Matrimônio na América da Classe Média", sobre o estado civil de 51% dos adultos jovens que terminaram o ensino médio mas não têm estudos universitários.
O casamento goza de boa saúde entre os norte-americanos universitários mais ricos, que costumam casar antes do nascimento do primeiro filho. O informe indica que os divórcios neste grupo desceram a um patamar comparável ao do começo dos anos 70.

Os autores do estudo, W. Bradford Wilcox e Andrew J. Cherlin, observam que a história é bem diferente no grupo com menos estudos, que apresenta situações mais frequentes de uniões informais e divórcios. "O distanciamento do matrimônio, que começou nas comunidades de baixa renda nos anos 60 e 70, agora afeta a América de classe média".
Nos últimos anos, as mulheres norte-americanas com estudos médios tinham sete vezes mais probabilidades de ter um filho sem estarem casadas do que as mulheres com estudos universitários. Em geral, 44% das mães que cursaram só o ensino médio têm filhos sem estarem casadas.
O aumento dos nascimentos em casais unidos informalmente é motivo de preocupação, porque o estudo também aponta que as crianças crescem melhor em famílias casadas.
É que as relações informais são bem menos duradouras: 65% dos filhos destas relações assistem à ruptura entre os pais antes de chegarem aos 12 anos. Esta porcentagem cai a 24% entre as crianças nascidas no casamento.
Causas
O relatório cita como causas do fenômeno tanto fatores culturais quanto econômicos. O mercado de trabalho para homens com educação média se deteriorou de modo considerável, restando-lhes hoje cargos menos estáveis e salários mais baixos do que há uma geração.
Ao mesmo tempo, há uma percepção geral de que é necessário um bom trabalho e boa renda para casar, o que torna as uniões informais uma alternativa de “espera” enquanto se acha um trabalho adequado.
O estudo recorda que, durante a Grande Depressão dos anos 30, as penúrias econômicas não levaram a mudanças importantes da vida familiar. E dá então relevância a três grandes mudanças de tipo cultural.
Em primeiro lugar, mudou a atitude quanto ao sexo e aos filhos fora do casamento. Este comportamento é muito mais aceito hoje, o que, combinado aos anticoncepcionais, enfraquece enormemente os valores familiares tradicionais. As mulheres solteiras com renda baixa costumam ter filhos mesmo assim, em vez de esperarem uma situação melhor que poderia implicar o risco de não terem filhos. Esta mentalidade se estendeu às mulheres com educação média.
Em segundo lugar, houve uma queda significativa na participação religiosa entre os membros da classe média norte-americana. Em comparação com os anos 70, a prática religiosa semanal desceu de 40% para 28%.
Em terceiro lugar, o marco legal da vida familiar sofreu uma reorientação. Com a aprovação do divórcio sem causa, passou-se do apoio ao compromisso matrimonial à ênfase nos direitos individuais.
Mudança
Mudar a tendência às uniões informais e aos altos índices de divórcio não é tarefa simples, admite o relatório. Entre as medidas sugeridas para a América do Norte:
- Proporcionar melhor formação às pessoas com estudos médios, para terem acesso a trabalhos melhores e mais estáveis.
- Mudar a forma dos benefícios sociais, que hoje penalizam o matrimônio porque os casais unidos informalmente perdem a ajuda econômica depois que se casam.
- Aumentar os descontos de impostos para as famílias com mais filhos.
- Mudar as atitudes culturais com campanhas semelhantes às de combate ao tabagismo e ao uso de álcool por motoristas.
- Investir em programas educativos para crianças pobres em idade pré-escolar para aumentar as expectativas de emprego das gerações futuras.
- Reformar as leis do divórcio para mitigar as consequências do divórcio sem causa, incluindo programas de educação obrigatória e períodos de espera para os casais com filhos.
Casualmente, um dos autores do estudo Brookings trabalhou em outra publicação sobre o casamento, divulgada um pouco mais tarde. O diretor do National Marriage Project, W. Bradford Wilcox, junto com outros dezoito estudiosos da família, publicaram a terceira edição do informe "Por que o Casamento Importa: 30 Conclusões das Ciências Sociais".
Segundo o informe, a família biológica e casada continua sendo o marco privilegiado da sociedade, e o matrimônio traz benefícios à economia, à saúde e à educação.
A boa notícia deste relatório é que o divórcio caiu a níveis parecidos aos do começo dos anos 70. A notícia ruim é que esta melhora se deve em parte ao aumento das uniões informais. Isto significa que hoje é mais provável uma criança nascer de pais não casados do que vê-los divorciar-se.
Só 55% dos que tinham 16 anos na década de 2000 viviam com ambos os pais, em comparação com os 66% de vinte anos antes.
A falta de estabilidade dos casais de fato tem um impacto negativo nas crianças, segundo o relatório. As crianças têm o triplo de probabilidades de ser objeto de abuso nas famílias de fato do que em lares intactos, com seus pais biológicos casados. São também comuns o consumo de drogas, os problemas na escola e o mau comportamento.
Ásia
Estas mudanças na vida familiar não se limitam aos EUA. A capa de 20 de agosto da revista The Economist se dedicava ao “Voo do matrimônio” na Ásia.
No Japão, por exemplo, enquanto a porcentagem de mulheres em casais de fato era há 20 anos de um só dígito, atualmente alcança 20%. 
A porcentagem de divórcios, ainda que consideravelmente menor que no Ocidente, duplicou desde os anos oitenta.
Com o casamento em dificuldades, tanto no Ocidente como na Ásia, o custo de não fazer nada para remediar isso é muito alto, para deixar que esta tendência continue.

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