[IHU]
9/9/2011
Eles não se reconhecem mais na sua Igreja e deixam
isso claro. Párocos, vigários, diáconos, a maior parte com idade avançada,
alguns aposentados, mas não menos determinados "a mover as águas"
dentro da Igreja Católica. No total, 337 membros do clero austríaco – que contra com
4.000 padres – defendem um "convite à desobediência" promovido por
uma associação de padres diocesanos, para os quais "a recusa de Roma
de realizar reformas tão esperadas e a inércia dos bispos não apenas permite,
mas também exige que se siga a própria consciência e se aja em
consequência".
A reportagem
é de Sébastien Maillard, publicada no jornal francês La Croix,
07-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Publicado no
dia 19 de junho, por ocasião da Festa da Santíssima Trindade, o
"protesto" proveniente da base da Igreja austríaca, teve depois um
vasto eco midiático em todo o país. De acordo com uma pesquisa realizada pelo
instituto Ökonsult, mais do que 71% dos austríacos consideram
"justa e adequada" a iniciativa promovida pelo Pe. Helmut Schüller,
ex-vigário-geral de Viena e diretor da Cáritas Austríaca.
Conhecido pela sua personalidade decidida, é hoje responsável por uma paróquia
do interior, perto da capital austríaca. O seu manifesto rompe, em sete pontos,
muitos temas-tabu da Igreja.
O convite a
desobedecer, em particular, informa em preto e branco que os padres signatários
irão dar a comunhão aos divorciados em segunda união e aos membros de outras
Igrejas cristãs. Que deixarão leigos competentes pregarem, "incluindo
professoras de religião". E que irão aproveitar todas as oportunidades
para falar publicamente em favor da ordenação de mulheres e de pessoas casadas.
Há o
suficiente para constranger o episcopado austríaco e, em primeiro lugar, o
cardeal Christoph Schönborn, do qual o Pe. Schüller foi estreito
colaborador. O arcebispo de Viena publicou no dia 7 de julho uma longa
resposta ao manifesto na revista da diocese. Dizendo-se "chocado" com
o convite dos padres dissidentes, o cardeal austríaco, próximo de Bento XVI,
se mostra aberto ao diálogo no "sinal de estima recíproca", mas
também avisa: "Aquele que, com uma consciência examinada, tem a convicção
de que 'Roma' está em um caminho errado, que contradiz gravemente a
vontade de Deus, deveria, ao contrário, tirar a conclusão de que não caminha
mais junto à Igreja Católica Romana".
O cardeal Schönborn
se recusa a tirar a conclusão da desobediência aberta, latente, nos fatos que
ocorrem desde 2006, data da criação da associação desses padres reformadores.
Depois de ter recebido no dia 10 de agosto passado, em um café da manhã, os
quatro protagonistas da atual rebelião, entre os quais o Pe. Schüller, o
arcebispo de Viena irá continuar a discussão no outono [europeu]. Uma
reunião a portas fechadas havia sido prevista para sábado, mas a diocese de
Viena, ontem, não a confirmou, reconhecendo, porém, que a iniciativa dos padres
encontrava um amplo apoio entre inúmeros leigos assalariados e voluntários da
Igreja austríaca. A partir de fontes internas à diocese, não existem, por
enquanto, "nem ultimatos nem sanções" contra os padres, salvo
"casos flagrantes e extremos de desobediência". E se lembra que já
existem exceções para dar a comunhão aos divorciados em segunda união.
Para o
cardeal dominicano, o apelo dos padres convida sobretudo a uma maior pedagogia
com relação aos 5,5 milhões os católicos que a Igreja Católica conta
oficialmente nesse país, em uma população de 8 milhões de habitantes. Ainda
ferida pelo caso de Dom Groër – controversa nomeação em Viena desse
arcebispo que teve que renunciar no final – e mais recentemente pelo escândalo
dos abusos sexuais, a Igreja austríaca registrou no ano passado 80 mil
abandonos. "O diálogo não deve ocorrer só entre o arcebispo e os padres,
mas com o conjunto do povo dos fiéis", insiste Hans Peter Hurka,
presidente do movimento reformador leigo Wir sind Kirche (Nós Somos
Igreja).
"O
cardeal (Schönborn) não pode resolver esse problema sozinho. Todos,
bispos, abades, padres, representantes da iniciativa dos padres, devem discutir
juntos o problema", afirmou Dom Martin Felhofer, influente abade na
Áustria, que não hesitou em evocar o "risco de um cisma" no país. O
teólogo Paul Zulehner, próximo tanto ao cardeal Schönborn quanto ao
movimento Nós Somos Igreja, declarou-se disponível para uma eventual
mediação. Porque, se Roma quer se mostrar inflexível sobre o conteúdo
das reivindicações dos padres em revolta, a palavra de ordem é preservar a
unidade.
Imediatamente,
a rebelião poderia atrasar uma remodelação prevista para o outono [europeu] das
4 mil paróquias, com vistas a reduzir o seu número.
"É uma
ampla reforma para tornar a Igreja mais missionária", disse, em defesa, um
porta-voz do cardeal Schönborn, Michael Prüller, que reconhece,
no entanto, o forte desejo dos católicos austríacos de manter uma missa
dominical em cada cidade. Nesse sentido, o movimento liderado pelo Pe.
Schüller se opõe a "reunificar as paróquias" e promete, no seu
manifesto, a solução alternativa das assembleias eucarísticas sem padres e de
confiar a direção de cada paróquia a um "homem ou mulher, casado ou não,
de tempo integral ou parcial".
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