[IHU]
11/9/2011
Mychal Judge, Frei franciscano |
No dia 11 de setembro de 2001, a coberta marcada
com a inscrição “Vítima 0001” continha o cadáver do padre Mychal Judge,
um capelão católico do Departamento de Bombeiros de Nova York. A sua foi a
primeira morte registrada por causa dos atentados daquela manhã.
O trabalho que ele realizou em vida deveria estar no centro das comemorações do décimo aniversário dos atentados de 11 de setembro: paz, tolerância e reconciliação.
O artigo é de Amy Goodman, âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol.
Mychal Judge, era frei franciscano, nascido em 1933.
O artigo foi publicado por Carta Maior, 09-09-2011.
O trabalho que ele realizou em vida deveria estar no centro das comemorações do décimo aniversário dos atentados de 11 de setembro: paz, tolerância e reconciliação.
O artigo é de Amy Goodman, âncora de Democracy Now!, um noticiário internacional transmitido diariamente em mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em mais de 250 em espanhol.
Mychal Judge, era frei franciscano, nascido em 1933.
O artigo foi publicado por Carta Maior, 09-09-2011.
Irmãos na profissão, irmãos em Cristo |
Eis o artigo.
No dia 11 de setembro de 2001, a coberta marcada com a inscrição “Vítima
0001” continha o cadáver do padre Mychal Judge, um capelão católico do
Departamento de Bombeiros de Nova York. Quando ficou sabendo do desastre no
World Trade Center, o padre Judge colocou seu colarinho de sacerdote, o
traje de bombeiro e correu para o centro da cidade. Viu pessoas saltando dos
edifícios e encontrando a morte para evitar o inferno que acontecia a mais de 300
metros de altura. Às 9h59 da manhã, a Torre Sul veio abaixo e é provável que a
força da queda dessa massa de aço, concreto, vidro e humanidade e os escombros
que chegaram ao solo tenha provocado a morte do Padre Mychal. A sua foi
a primeira morte registrada por causa dos atentados daquela manhã. O trabalho
que ele realizou em vida deveria estar no centro das comemorações do décimo
aniversário dos atentados de 11 de setembro: paz, tolerância e reconciliação.
Uma das primeiras vigílias realizadas este ano foi em honra do padre Mychal. Cerca de 300 pessoas se reuniram no domingo em frente à Igreja de São Francisco onde o padre Judge vivia e trabalhava, na mesma quadra da estação de bombeiros Ladder 24/Engine. A marcha seguiu o caminho final do padre Mychal até a zona zero. O homem que organizou a comemoração é Steven McDonald, um ex-detetive da polícia de Nova York que recebeu um tiro em 1986. McDonald estava interrogando a Shavod Jones, um jovem de 15 anos de idade, no Central Park e Jones disparou contra ele, deixando-o paralítico para o resto da vida.
Falei com McDonald enquanto encabeçava a procissão em sua cadeira de rodas pela Sétima Avenida. Falou sobre o que o Padre Mychal significou para ele:
“O Padre Mychal foi um ser humano maravilhoso, muito carinhoso, compassivo, um verdadeiro testemunho da fé em Deus em sua vida. E é por isso que estamos hoje aqui reunidos”.
O Padre Mychal tinha conseguido com que Jones falasse por telefone com McDonald e sua esposa. Pediu desculpas a eles desde a prisão. McDonald o perdoou. Após aprender as lições da reconciliação, o ex-detetive agora em uma cadeira de rodas, acompanhou Judge em uma viagem a Irlanda do Norte onde trabalharam juntos para ajudar a por fim à violência que assolava o país.
O Padre Mychal era muito conhecido entre os pobres e os desvalidos da Cidade de Nova York e de Nova Jersey. Ajudava os sem teto e as pessoas portadoras do HIV. Como membro da ordem franciscana, vestia frequentemente o tradicional hábito marrom e sandálias. Mas havia um segredo sobre ele que não era muito conhecido: era homossexual. Em seus diários privados, o sacerdote católico escreveu: “Pensei em minha homossexualidade e em como as pessoas que me conhecem nunca chegam a me conhecer por completo”. Os diários foram entregues ao jornalista Michael Daly pela irmã gêmea de Judge, Dympna, e aparecem no livro de Daly “A Bíblia de Mychal: a surpreendente vida e a heroica morte do padre Mychal Judge”.
Brendan Fay é um ativista pelos direitos dos homossexuais de longa trajetória, de origem irlandesa-estadunidense, que era amigo de Judge. Ele realizou um filme sobre o padre franciscano em 2006 denominada “Santo do 11 de setembro” e está terminando outro denominado “Lembrando Mychal”. Fay falou esta semana de seu amigo: “Foi um dos sacerdotes que fez parte da Dignity New York, uma organização de homossexuais e lésbicas católicos. Foi nosso ministro durante a crise da AIDS, quando havia poucos padres dispostos a servir nossa comunidade.
A primeira vez que entrevistei Fay foi em outubro de 2001, logo depois da publicação de uma foto da Associated Press que mostrava uma bomba dos Estados Unidos que estava prestes a ser lançada no Afeganistão. A bomba carregava uma tarja com os dizeres “Sequestrem isso, putos”. A mensagem ofensiva obrigou as forças armadas a ordenar a seus homens que escrevessem mensagens mais “positivas” em suas bombas.
No dia 20 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush pronunciou um discurso ante uma sessão conjunta do Congresso, onde realizou sua famosa declaração “Odeiam nossa liberdade”. Logo em seguida deu as boas vindas ao Capitólio a Lisa Beamer, viúva de Todd Beamer, o passageiro a bordo do voo 93 da United, cuja voz aparece dizendo “Ao ataque” antes de se lançar contra os sequestradores do avião. O companheiro de voo de Beamer, Mark Bingham, um jogador de rugby e consultor de relações públicas que também se somou à luta para que os sequestradores utilizassem o avião como arma, era homossexual declarado, assim como David Charlebois, o co-piloto do voo 77 da American Airlines, que explodiu contra o Pentágono.
Uma década mais tarde, Brendan Fay reflete acerca da vida de seu amigo: “Creio que, de alguma maneira, é muito importante que pensemos na humanidade de todas as pessoas que morreram no 11 de setembro. O que podemos aprender de Mychal Judge, em meio a este inferno de guerra, mal e violência, é que aqui há um homem que nos conduz por outro caminho possível do ser humano: podemos escolher o caminho da compaixão, da não violência e da reconciliação. Mychal Judge tinha um coração tão grande como Nova York. Nele, havia lugar para todos. E creio que esta é a lição que podemos aprender com ele”.
Uma das primeiras vigílias realizadas este ano foi em honra do padre Mychal. Cerca de 300 pessoas se reuniram no domingo em frente à Igreja de São Francisco onde o padre Judge vivia e trabalhava, na mesma quadra da estação de bombeiros Ladder 24/Engine. A marcha seguiu o caminho final do padre Mychal até a zona zero. O homem que organizou a comemoração é Steven McDonald, um ex-detetive da polícia de Nova York que recebeu um tiro em 1986. McDonald estava interrogando a Shavod Jones, um jovem de 15 anos de idade, no Central Park e Jones disparou contra ele, deixando-o paralítico para o resto da vida.
Falei com McDonald enquanto encabeçava a procissão em sua cadeira de rodas pela Sétima Avenida. Falou sobre o que o Padre Mychal significou para ele:
“O Padre Mychal foi um ser humano maravilhoso, muito carinhoso, compassivo, um verdadeiro testemunho da fé em Deus em sua vida. E é por isso que estamos hoje aqui reunidos”.
O Padre Mychal tinha conseguido com que Jones falasse por telefone com McDonald e sua esposa. Pediu desculpas a eles desde a prisão. McDonald o perdoou. Após aprender as lições da reconciliação, o ex-detetive agora em uma cadeira de rodas, acompanhou Judge em uma viagem a Irlanda do Norte onde trabalharam juntos para ajudar a por fim à violência que assolava o país.
O Padre Mychal era muito conhecido entre os pobres e os desvalidos da Cidade de Nova York e de Nova Jersey. Ajudava os sem teto e as pessoas portadoras do HIV. Como membro da ordem franciscana, vestia frequentemente o tradicional hábito marrom e sandálias. Mas havia um segredo sobre ele que não era muito conhecido: era homossexual. Em seus diários privados, o sacerdote católico escreveu: “Pensei em minha homossexualidade e em como as pessoas que me conhecem nunca chegam a me conhecer por completo”. Os diários foram entregues ao jornalista Michael Daly pela irmã gêmea de Judge, Dympna, e aparecem no livro de Daly “A Bíblia de Mychal: a surpreendente vida e a heroica morte do padre Mychal Judge”.
Brendan Fay é um ativista pelos direitos dos homossexuais de longa trajetória, de origem irlandesa-estadunidense, que era amigo de Judge. Ele realizou um filme sobre o padre franciscano em 2006 denominada “Santo do 11 de setembro” e está terminando outro denominado “Lembrando Mychal”. Fay falou esta semana de seu amigo: “Foi um dos sacerdotes que fez parte da Dignity New York, uma organização de homossexuais e lésbicas católicos. Foi nosso ministro durante a crise da AIDS, quando havia poucos padres dispostos a servir nossa comunidade.
A primeira vez que entrevistei Fay foi em outubro de 2001, logo depois da publicação de uma foto da Associated Press que mostrava uma bomba dos Estados Unidos que estava prestes a ser lançada no Afeganistão. A bomba carregava uma tarja com os dizeres “Sequestrem isso, putos”. A mensagem ofensiva obrigou as forças armadas a ordenar a seus homens que escrevessem mensagens mais “positivas” em suas bombas.
No dia 20 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush pronunciou um discurso ante uma sessão conjunta do Congresso, onde realizou sua famosa declaração “Odeiam nossa liberdade”. Logo em seguida deu as boas vindas ao Capitólio a Lisa Beamer, viúva de Todd Beamer, o passageiro a bordo do voo 93 da United, cuja voz aparece dizendo “Ao ataque” antes de se lançar contra os sequestradores do avião. O companheiro de voo de Beamer, Mark Bingham, um jogador de rugby e consultor de relações públicas que também se somou à luta para que os sequestradores utilizassem o avião como arma, era homossexual declarado, assim como David Charlebois, o co-piloto do voo 77 da American Airlines, que explodiu contra o Pentágono.
Uma década mais tarde, Brendan Fay reflete acerca da vida de seu amigo: “Creio que, de alguma maneira, é muito importante que pensemos na humanidade de todas as pessoas que morreram no 11 de setembro. O que podemos aprender de Mychal Judge, em meio a este inferno de guerra, mal e violência, é que aqui há um homem que nos conduz por outro caminho possível do ser humano: podemos escolher o caminho da compaixão, da não violência e da reconciliação. Mychal Judge tinha um coração tão grande como Nova York. Nele, havia lugar para todos. E creio que esta é a lição que podemos aprender com ele”.
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