[unisinos]
29/10/2011
Assis, mais uma vez, capital mundial da paz. "Violência nunca mais,
guerra nunca mais, terrorismo nunca mais! Em nome de Deus, que toda religião
traga sobre a terra justiça e paz, perdão e vida, amor". É com este apelo,
o mesmo do seu antecessor João Paulo II, que Bento XVI concluiu
nesta quinta-feira a Jornada de Diálogo e Oração
pela Paz e pela Justiça, realizada na cidade de São Francisco
a 25 anos do encontro desejado pelo Papa Wojtyla no dia 27 de outubro de
1986.
A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L'Unità,
28-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Foram 300 representantes das religiões mundiais que participaram da
"peregrinação" e, com eles, a novidade desejada pelo Papa
Ratzinger, também figuras significativas do mundo dos "não
crentes", partícipes dessa busca de verdade e de paz.
A primeira etapa dessa intensa jornada ocorreu de manhã, na Basílica
de Santa Maria dos Anjos. Foi lá que, com articulações diversas, foram
reiteradas as razões da paz e do diálogo entre as religiões. Os ortodoxos, com
o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, o
arcebispo de Canterbury e primaz anglicano, Rowan Williams,
o rabino-chefe David Rosen, e depois representantes do Islã,
do mundo budista, um líder religioso hindu, das religiões tradicionais
africanas, até uma agnóstica, a filósofa e psicanalista "humanista"
francesa Julia Kristeva.
A queda do Muro
Foi uma reflexão coletiva concluída por Bento XVI com um balanço
sobre esses 25 anos. Que começou com a queda do Muro de Berlim, símbolo
da divisão do planeta em dois blocos contrapostos, que decorreu "sem
derramamento de sangue" em 1989 – três anos depois da convocação de Assis
–, para enfatizar a importância da demanda de liberdade espiritual. Uma
demanda, observou, que foi mais forte do que o medo da violência e dos arsenais
de armas destrutivas. Não houve o grande conflito, mas quanta discórdia, quanto
violência, quanta falta de paz se seguiu.
"Certamente, não se pode dizer que a situação seja caracterizada
por liberdade e paz", afirmou. O pontífice destacou dois "novos
rostos da violência e da discórdia". Há o "terrorismo", que
também encontrou uma motivação religiosa, mas há também "a decadência do
homem". Um modelo cultural que leva à adoração do dinheiro e à ideologia
"do ter e do poder".
Bento XVI
apresentou-o como uma "contrarreligião, em que o homem não conta mais, mas
só a vantagem pessoal". Ele denunciou aquele desejo de felicidade que
degenera em "uma ganância desenfreada e desumana", que "se
manifesta no domínio da droga com as suas diversas formas".
É assim, observou, que a violência "se torna uma coisa normal e
ameaça destruir, em algumas partes do mundo, a nossa juventude". Assim
"destrói-se a paz", e "o homem destrói a si mesmo". É o
efeito daquela "ausência de Deus", que "leva à decadência do
homem e do humanismo".
No entanto, também houve na história uma violência exercida pelos
cristãos em nome de Deus. O Papa Ratzinger reconheceu isso com
"vergonha", quase como um convite aos outros líderes religiosos a
fazerem o mesmo. "Mas – pontualiza – foi uma utilização abusiva da fé
cristã, em evidente contraste com a sua verdadeira natureza". A religião
dos cristãos deve ser continuamente "purificada", para que seja
"verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo".
E foi precisamente com esse pedido de "purificação" que Ratzinger
explicou o seu convite aos "agnósticos". "Eles buscam a verdade.
Estão em busca de Deus. Sofrem com a sua ausência e buscam a verdade e o
bem". Ele os definiu como "peregrinos da verdade, peregrinos da
paz". Há mais uma razão. Eles estimulam os seguidores das religiões a não
considerar Deus "como uma propriedade que pertence a eles, de modo a se
sentirem autorizados à violência contra os outros". A dificuldade de
muitos a acreditar depende também dos maus crentes, que "deturpam
Deus".
Kristeva não deve
tê-lo decepcionado. "O encontro das nossas diversidades aqui em Assis
– afirmou ela em seu discurso – testemunha que a hipótese da destruição não é a
única possível", e "a refundação do humanismo não é nem um dogma
providencial, nem um jogo do espírito. É uma aposta".
Oração individual e depois peregrinação até a Praça de São Francisco,
em frente ao Sagrado Convento para as delegações dos religiosos. Lá, repetiu-se
a solene cerimônia da paz. A declaração conjunta, o acendimento das velas e a
troca do sinal da paz.
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