[unisinos]
22/10/2011
No próximo 27 de outubro,
representantes de todas as religiões do mundo (e não crentes) se reunirão na
cidade de Francisco, 25 anos depois do encontro desejado por João
Paulo II. Fazendo-nos guiar pelas recordações de quem participou da Jornada
de 1986, buscamos entender por que ela foi chamada de "histórica" por
muitos e duramente criticada por alguns. E em que o Assis de Bento XVI
será diferente.
Publicamos aqui o editorial da revista dos jesuítas italianos, Popoli,
29-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A Jornada Mundial de Oração pela Paz de
Assis de 1986 não foi considerada indene dos perigos do relativismo e do
sincretismo. Estes, na realidade, estão sempre presentes no caminho da Igreja,
e ela jamais teve medo deles. Temê-los significa ceder à tentação de se
encastelar em blindagens herméticas e identitárias, que – em última análise –
revelam a vontade de não dialogar de fato.
As palavras pronunciadas por João Paulo II durante o encontro de Assis,
no entanto, limparam o campo de equívocos: "O fato de termos vindo aqui
não implica nenhuma intenção de buscar um consenso religioso entre nós ou de
negociar as nossas convicções de fé. Nem significa que as religiões podem se
reconciliar no plano do compromisso comum em um projeto terreno que as
sobrepassaria todas. Nem é uma concessão a um relativismo nas crenças
religiosas, porque cada ser humano deve seguir sinceramente a sua reta
consciência na busca de obedecer à verdade".
Porém, 25 anos depois, em vista da comemoração desse evento que se
realizará no próximo 27 de outubro, surgiram novamente perplexidades
semelhantes, sempre centradas no binômio relativismo-sincretismo. Foi talvez
para conter esses temores que foram estabelecidas modalidades de
desenvolvimento da jornada significativamente diferentes das de 1986. […] Em
síntese, não se tratará tanto de uma jornada de oração – para a qual não estão
previstos momentos públicos –, mas sim, sobretudo, de reflexão, termo não
utilizado em 1986 e que agora aparece no título da Jornada.
Essa escolha tem uma vantagem indubitável: permitir um maior
envolvimento, até incluir até quem não professa nenhuma crença religiosa. Isto
é, a ênfase se desloca para a dimensão cultural do diálogo e da busca da paz.
No entanto, o crente tem a consciência de que a sua própria reflexão
jamais é apenas um exercício especulativo e que ela deve ser enriquecida pela
oração, ou seja, guiada pela ação do Espírito. Com maior razão, sem a oração,
não se pode ter paz: "Toda oração autêntica – lembrava o Papa Wojtyla
depois do evento de 1986, dirigindo-se à Cúria Romana – encontra-se sob
a influência do Espírito Santo. (...) Em Assis, vimos a unidade que
provém do fato de que cada homem e mulher são capazes de rezar. (...) A paz é
um dom de Deus e é preciso recebê-la dEle mediante a oração de todos".
Não gostaríamos, portanto, que a escolha de privilegiar a dimensão
intercultural acabasse despotencializando aqueles aspectos de diálogo
espiritual e de comunhão entre as fés que foram uma das mais belas heranças da
histórica Jornada de 25 anos atrás.
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