[bibliacatolica]
3 outubro 2011
Fonte: Veritatis Splendor
Ateu é o que não crê na existência de Deus.
Desta definição se vê que não devemos incluir no número dos ateus:
a)
Os indiferentes, que põem de parte o problema da origem do mundo e da
alma, e vivem sem preocupações acerca de seu destino. Ainda que esta
disposição de espírito conduza ao ateísmo, os indiferentes não são ateus
propriamente ditos.
b) Os agnósticos, para os quais Deus pertence ao domínio do incognoscível. Esta atitude equivale a um cepticismo religioso.
c)
Muito menos devem ser tidos por ateus aqueles que ignoram quase por
completo a religião e professam exteriormente o ateísmo, porque julgam
essa atitude própria dos espíritos fortes, ou porque têm interesse de
seguir a corrente do favoritismo oficial.
Portanto, devemos
somente considerar como ateus os homens de ciência e os filósofos que,
depois de ponderar maduramente as razões, pró e contra, da existência de
Deus, optam pela negativa. Embora pouco numerosos proporcionalmente, os
ateus têm um número crescente e geralmente atuam em conjunto com
agnósticos.
As causas do ateísmo podem ser intelectuais, morais e sociais.
Causas intelectuais
a)
A incredulidade dos homens de ciência, deve atribuir-se ordinariamente a
preconceitos e ao emprego de um método falso. É evidente que nunca
poderão ultrapassar os fenômenos e atingir as substâncias, se nesta
matéria empregam o método experimental, que só admite o que pode ser
objeto da experiência e ser observado pelos sentidos. Notemos ainda que
algumas fórmulas, por eles usadas, não são verdadeiras, pelo menos no
sentido em que tomam. Por exemplo, quando alegam que a matéria é
necessária e não contingente, invocam para o demonstrar a necessidade da
energia e das leis. Ora, é bem claro que a palavra necessária neste
caso é equívoca. A necessidade pode ser absoluta ou relativa. É
absoluta, quando a não-existência encerra contradição; relativa quando a
coisa em questão, na hipótese de existir, deve possuir tal ou tal
essência, esta ou aquela qualidade, por exemplo: uma ave deve ter asas,
sem elas já não seria ave.Como a energia e as leis são necessárias
somente no sentido relativo, os materialistas erram em concluir que a
matéria é o “Ser necessário no sentido absoluto”.
b) O ateísmo dos
filósofos contemporâneos tem a sua origem no criticismo de Kant e no
positivismo de Conte. Segundo os criticistas e os positivistas, a razão
não pode chegar à certeza objetiva, nem conhecer as substâncias que se
ocultam sob os fenômenos. Diminuindo assim o valor da razão, rejeitam
todos os argumentos tradicionais da existência de Deus. Pode pois
dizer-se que a crise de fé, na maioria dos filósofos contemporâneos, é
de fato uma crise da razão. Mas há de acontecer a esta o que acontece
aos que estão injustamente detidos: será um dia reabilitada e retomará
os seus direitos.
Causas morais
a) A falta
de boa vontade. Se as provas da existência de Deus se estudassem com
mais sinceridade e menos espírito de crítica, não haveria tanta
resistência à força dos argumentos. Também não se deve exigir dos
argumentos mais do que eles podem dar: é evidente que a sua força
demonstrativa, ainda que real e absoluta, não nos pode dar evidência
matemática.
b) As paixões. A fé é um obstáculo para as paixões.
Ora, quando alguma coisa nos incomoda, encontramos sempre motivos para
nos afastar. “Há sempre no coração apaixonado, motivos secretos para
julgar falso o que é verdadeiro…facilmente se crê o que muito se deseja;
e quando o coração se entrega à sedução do prazer, o espírito abraça
voluntariamente o erro que lhe dá razão” (Frayssinous, Defense du
christianisme. L´ incrédulité dês jeunes gens). P. Bourget (Essai de
psychologie contemporaine), refletindo sobre a realidade francesa, numa
análise penetrante que faz da incredulidade, escreve as seguintes
linhas: “O homem quando abandona a fé, desprende-se, sobretudo, duma
cadeia insuportável aos seus prazeres…Nenhum daqueles, que estudaram nos
nossos liceus e universidades, ousará negar que a impiedade precoce dos
livres pensadores de capa e batina começou por alguma fraqueza da
carne, seguida do horror de a confessar. Acode imediatamente a razão a
aduzir argumentos (!!!) em defesa duma tese de negação, que já antes
admitira por causa das necessidades da vida prática”.
c) Os
veículos de comunicação. Não aludimos aos que são claramente imorais,
mas aos que atacam disfarçadamente e continuamente os fundamentos da
moralidade e, em nome de um pretendido progresso e de uma suposta
ciência, querem fazer-nos crer que Deus, a alma e a liberdade são apenas
palavras a encobrir quimeras.
Causas sociais
a)
A educação. Não é exagero dizer que as escolas neutras são um terreno
excepcionalmente próprio para a cultura do ateísmo. A sociedade hodierna
em geral caminha para o ateísmo, porque assim o quer.
b) O
respeito humano. Muitos têm medo de parecer crentes porque a religião já
não é estimada em certos círculos influentes e temem cair no ridículo.
Conseqüências do ateísmo
O
ateísmo, pelo fato de negar a existência de Deus, destrói radicalmente o
fundamento da moral e dá origem às mais funestas conseqüências para o
indivíduo e para a sociedade.
Para o indivíduo:
a) O ateu
deixa-se arrastar pelas paixões. Se não há Deus, se não existe um Senhor
Supremo, que possa impor a prática do bem e castigar o mal, porque
razão não se hão de satisfazer todos os apetites e correr atrás da
felicidade terrena, por todos os meios que estiverem ao alcance de cada
um?
b) Além disso, o ateísmo priva o homem de toda a consolação, tão necessária nos reveses da vida.
Para a sociedade:
As
conseqüências do ateísmo são ainda mais prejudiciais à sociedade.
Suprimindo as idéias de justiça e de responsabilidade, o ateísmo leva os
Estados ao despotismo e à anarquia, e o direito é substituído pela
força. Se os governantes não vêem acima de si um Senhor que lhes pedirá
contas da sua administração, governarão a sociedade segundo os seus
caprichos. Mais ainda, os homens, na realidade, não são todos iguais nas
honras, nas riquezas, nas situações e nas dignidades. Ora, se não
existe um Deus para recompensar um dia os mais deserdados da fortuna,
que cumprem animosamente o seu dever e aceitam com resignação as provas
da vida, porque não haveriam de se revoltar contra um mundo e uma
sociedade injusta e reclamar para si, a todo custo, o seu quinhão de
felicidade e prazer?
Bibliografia: BOULANGER. Manual de Apologética.
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