[unisinos]
28/10/2011
“O ‘não’ a Deus tem produzido crueldade e violência sem medida, porque o
homem já não reconhecendo qualquer norma ou qualquer juiz acima dele, tomou
como norma apenas a si mesmo (...) A ausência de Deus leva à decadência do
homem e do humanismo”. O comentário é do Papa Bento XVI e faz parte do
seu discurso proferido na Basílica de Santa Maria dos Anjos em Assis (Itália)
por ocasião do Encontro de Assis que
reune lideranças religiosas mundiais e não crentes. A reprodução do discurso se
encontra no sítio do Vaticano – www.vatican.va, 27-10-2011. A revisão é do Cepat.
Eis o discurso.
Queridos irmãos e irmãs,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,
distintos Chefes e representantes das Igrejas
e Comunidades eclesiais e das religiões do mundo,
queridos amigos,
Passaram-se vinte e cinco anos desde quando pela primeira vez o beato
Papa João Paulo II convidou representantes das religiões do mundo para
uma oração pela paz em Assis. O que aconteceu desde então? Como se encontra
hoje a causa da paz? Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo
provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si. O símbolo
daquela divisão era o muro de Berlim que, atravessando a cidade, traçava a
fronteira entre dois mundos.
Em 1989, três anos depois do encontro em Assis, o muro caiu, sem
derramamento de sangue.
Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos fatores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de caráter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e, sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.
Inesperadamente, os enormes arsenais, que estavam por detrás do muro, deixaram de ter qualquer significado. Perderam a sua capacidade de aterrorizar. A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência. A questão sobre as causas de tal derrocada é complexa e não pode encontrar uma resposta em simples fórmulas. Mas, ao lado dos fatores económicos e políticos, a causa mais profunda de tal acontecimento é de caráter espiritual: por detrás do poder material, já não havia qualquer convicção espiritual. Enfim, a vontade de ser livre foi mais forte do que o medo face a uma violência que não tinha mais nenhuma cobertura espiritual. Sentimo-nos agradecidos por esta vitória da liberdade, que foi também e, sobretudo uma vitória da paz. E é necessário acrescentar que, embora neste contexto não se tratasse somente, nem talvez primariamente, da liberdade de crer, também se tratava dela. Por isso, podemos de certo modo unir tudo isto também com a oração pela paz.
Mas, que aconteceu depois? Infelizmente, não podemos dizer que desde
então a situação se caraterize por liberdade e paz. Embora a ameaça da grande
guerra não se aviste no horizonte, todavia o mundo está, infelizmente, cheio de
discórdias. E não é somente o fato de haver, em vários lugares, guerras que se
reacendem repetidamente; a violência como tal está potencialmente sempre
presente e carateriza a condição do nosso mundo. A liberdade é um grande bem.
Mas o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não
poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a
violência. A discórdia assume novas e assustadoras fisionomias e a luta pela
paz deve-nos estimular a todos de um modo novo.
Procuremos identificar, mais de perto, as novas fisionomias da violência
e da discórdia. Em grandes linhas, parece-me que é possível individuar duas
tipologias diferentes de novas formas de violência, que são diametralmente
opostas na sua motivação e, nos particulares, manifestam muitas variantes.
Primeiramente temos o terrorismo, no qual, em vez de uma grande guerra,
realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do
adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas
inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas. Aos olhos dos
responsáveis, a grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma
de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e
sancionado como limite à violência no direito internacional. Sabemos que,
frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o
caráter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade
monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do «bem»
pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da
violência.
A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que
a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as
religiões. Que, no caso em questão, a religião motive de fato a violência é
algo que, enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente. De
modo mais subtil, mas sempre cruel, vemos a religião como causa de violência
também nas situações onde esta é exercida por defensores de uma religião contra
os outros. O que os representantes das religiões congregados no ano 1986, em
Assis, pretenderam dizer – e nós o repetimos com vigor e grande firmeza – era
que esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua
deturpação e contribui para a sua destruição. Contra isso, objeta-se: Mas donde
deduzis qual seja a verdadeira natureza da religião? A vossa pretensão por
acaso não deriva do fato que se apagou entre vós a força da religião? E outros
objetarão: Mas existe verdadeiramente uma natureza comum da religião, que se
exprima em todas as religiões e, por conseguinte, seja válida para todas?
Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo
realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se
uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser
novamente sublinhada por este encontro. Como cristão, quero dizer, neste
momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé
cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida,
tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua
verdadeira natureza. O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e
Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs
entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal
daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar
com o outro. O seu nome é “Deus do amor e da paz” (2 Cor 13,11). É tarefa de
todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar
continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que
– apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus
no mundo.
Se hoje uma tipologia fundamental da violência tem motivação religiosa,
colocando assim as religiões perante a questão da sua natureza e obrigando-nos
a todos a uma purificação, há uma segunda tipologia de violência, de aspeto
multiforme, que possui uma motivação exatamente oposta: é a consequência da
ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso.
Como dissemos, os inimigos da religião vêem nela uma fonte primária de
violência na história da humanidade e, consequentemente, pretendem o
desaparecimento da religião.
Mas o “não” a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que
foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz
superior, mas tomava por norma somente a si mesmo. Os horrores dos campos de
concentração mostram, com toda a clareza, as consequências da ausência de Deus.
Aqui, porém, não pretendo deter-me no ateísmo prescrito pelo Estado;
queria, antes, falar da “decadência” do homem, em consequência da qual se
realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do
clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma
contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O
desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se
manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí
estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam
seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência
torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a
nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica
destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.
A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde
está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à
humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos
brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção
e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência,
enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida retamente, é uma força de
paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação,
sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a
negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência.
Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no
mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais
não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à
procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar “Não existe nenhum
Deus”, mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem,
estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São “peregrinos da verdade,
peregrinos da paz”. Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus
combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não
existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à
procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e
devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os
membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de
tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais.
Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja
imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como
eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus
depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de
Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que
crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus
– se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro
grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de
instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a
verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de
assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói
o direito.
Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá
da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos
animados pelo desejo comum de ser “peregrinos da verdade, peregrinos da paz”.
xxx
jbpsverdade: Também é verdade que não se concerta um erro com outro erro, é como "querer tapar o sol" com uma peneira. Se a Igreja errou, como confirma o Papa Bento VXI (Como cristão, quero dizer, neste
momento: É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé
cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha.),
sou católico, leigo mas tem coisas que não consigo entender, por favor, me ajudem a entender pelo menos o seguinte: O Papa Bento VXI diz que... O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e
Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs
entre si e constituem uma única família.
Não é assim que eu entendo pelas Escrituras Sagradas. Começando pelo Velho Testamento, DEUS ordena que Abrão saia de sua parentela e vá para um lugar que ele (Deus) vai indicar, começa então o Povo de Deus sendo reunido por uma ordem dada a Abrão que é para nós pai de uma grande nação, (conf. Gênesis 12, 1-3). Pois bem, já no novo testamento temos várias passagens que nos dão a certeza dos filhos de Deus.
- Veio (Jesus) para o que era seu, mas os seus não o receberam.
Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,
os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. (Jo 1, 11-13)
Verdadeiros filhos de deus são os que recebem Jesus Cristo como Senhor e Salvador, como sendo a segunda pessoa da Santíssima Trindade, do contrário são criaturas de DEUS. Jesus Cristo estava tendo um discussão com os Fariseus e Ele diz o seguinte:
- Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. (Jo 8, 44)
Tudo e todos neste mundo têm que permanecer centrado em Jesus Cristo, caso contrário estaremos nos apartando Dele conforme nos diz no seu evangelho escrito por João:
- Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á. (Jo 15, 5-6)
Tudo foi feito para Ele e por Ele, sem Ele nada do que existe tem sentido...
- Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele.
Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele.
Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. (Col. 1, 16-18)
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