Irmão marista conta sua conversão
ROMA, domingo, 2 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – Remy Sandah só frequentava a igreja na sua comunidade rural, no Togo, para não ter de trabalhar na roça.
Agora,
o administrador do Conselho Geral dos Maristas, irmão Sandah, nos conta
que Deus utiliza qualquer coisa para chegar até o seu povo, inclusive a
falta de vontade de trabalhar de uma criança.
O irmão Sandah está longe de casa. Ele trabalha em Roma, onde foi
entrevistado pelo programa de televisão Deus chora na Terra, da Catholic
Radio and Television Network (CRTN) em colaboração com Ajuda à Igreja
Necessitada.
- Como é a sua família?
Irmão Sandah: Eu sou do interior. Muitas regiões rurais do Togo são
pobres. Lá você trabalha duro, mas não consegue quase nada, e não é por
preguiça. O interior depende da agricultura, e, quando o ano é ruim,
você não tem seguros, e morre de fome.
- Seus pais trabalham na roça?
Irmão Sandah: Meus pais, meus irmãos e eu trabalhávamos na roça. Eu
tinha seis anos. Nós trabalhávamos juntos e ajudávamos os outros: daria
para chamar de cooperativa.
- O Togo é um país cristão?
Irmão Sandah: Eu não posso dizer que o Togo seja um país cristão,
porque os católicos são uns 25%, os protestantes uns 9% e os muçulmanos
uns 15%. A maioria é das religiões tradicionais, que representam
aproximadamente a metade da população. Não é um país cristão, mas nós
temos uma grande população cristã. Temos liberdade de religião e existe
uma boa relação entre todas as religiões.
- Como você passou da religião tradicional para a Igreja Católica?
Irmão Sandah: Eu fui batizado na infância, mas não praticava. Só
quando cresci e fiz a catequese, e conheci mesmo o cristianismo, é que
eu deixei de vez a religião tradicional. Eu falei para o meu pai: "Pai,
eles disseram na igreja que nós não devemos fazer sacrifícios se somos
da igreja. Temos que escolher". "Então escolhe". E eu escolhi a Igreja.
Ele não foi contra, e eu sou muito agradecido a ele por isso.
- Por que o catolicismo atraiu você?
Irmão Sandah: Deus usa todos os meios para chegar até o seu povo e,
no meu caso, eu diria que Ele usou o meu "lado mau". Eu ia na igreja por
preguiça, para escapar do trabalho na roça. Eu gostava dos cantos...
Depois de um tempo, eu não ia mais só para escapar, mas para ouvir os
cantos. Quando eu fui ao colégio marista, foi diferente. Eu vi a
dedicação deles à educação, o trabalho, como eles viviam em comunidade.
Isso é que me atraiu, e também a alegria e o trabalho juntos. Comecei a
me fazer perguntas, fui falar com um deles e, depois de um
discernimento, decidi ser um irmão.
- Por que os maristas?
Irmão Sandah: Eu não sabia nada dos irmãos. Sabia o que era um padre,
mas um irmão, não sabia nada. Quando eles me explicaram que vivem em
comunidade e rezam e trabalham juntos, quase como um padre, mas sem
celebrar missa, eu não me senti atraído pelo sacerdócio, mas me
interessei por essa vida e achei que podia ser o meu caminho. A outra
razão foi que eles vieram da Suíça. Não tinha mais vocações na Suíça e o
colégio que eles dirigiam no Togo ia fechar se não tivesse togoleses
que continuassem. Eu fui o primeiro. Então também entrei por amor à
educação.
- Qual foi a reação da sua família?
Irmão Sandah: Foi negativa no começo porque, como eu disse, os irmãos
religiosos não eram conhecidos e eles não queriam nem ouvir falar. Eu
tentei explicar o que é a vida religiosa eles perguntavam: “Eles se
casam?”. “Não”. “Então é padre, não tem nenhuma diferença". "Tem
diferença, sim, eles não celebram missa". "Se eles não se casam, dá na
mesma". O meu irmão mais velho era sacerdote, e eles me diziam: "Já
chega um". Mas eu insisti. Quando os meus pais me visitaram e viram
outros jovens no pré-noviciado, pouco a pouco foram aceitando, na época
em que eu estava preparado para os primeiros votos.
- Você não vai casar e o seu irmão é padre. Tem alguém que continuou a família?
Irmão Sandah: Essa era a preocupação, mas o meu irmão mais novo tem
mulher e quatro filhos. Eles não precisam se preocupar com isso. A minha
mãe, desde que virou cristã, entendeu que a vida cristã é tudo. Ela
dizia: "A vida não é nossa. A vida é de Deus". Ela entendia, e até o meu
pai, que Deus o tenha, antes de falecer já estava de acordo com tudo. E
eu estou agradecido com ele.
- Qual é a situação política atual no Togo?
Irmão Sandah: As coisas mudaram muito ultimamente. O nosso último
presidente fez muito para mudar. Nós somos uma república, uma
democracia, com diversos partidos políticos no Parlamento, depois de um
sistema de partido único. Agora são três partidos grandes e muitos
outros menores.
- O que mais tem que ser feito no país?
Irmão Sandah: Nós teríamos que estar unidos. Algumas pessoas acham
que elas são mais togolesas do que as outras e acham que têm mais
direitos. Ainda existe tensão entre o norte e o sul, por causa das
injustiças do passado. O governo está tentando aliviar a tensão, porque,
sem unidade, a nação não vai prosperar.
- Você pode ajudar nessa reconciliação?
Irmão Sandah: Todos nós podemos fazer alguma coisa. Diretamente, eu
acho que posso fazer o que todo cristão tem que fazer, ser um exemplo de
reconciliação. Na minha comunidade, nós somos de diversas tribos e
grupos étnicos e vivemos em harmonia. Se as pessoas virem que isso é
possível, elas vão entender como viver sem discórdia. E vão mudar.
Esta entrevista foi realizada por Marie-Pauline Meyer para "Deus
chora na terra", um programa rádio-televisivo semanal produzido por
Catholic Radio and Television Network, (CRTN), em colaboração com a
organização católica Ajuda à Igreja que Sofre.
Mais informação em www.aisbrasil.org.br, www.fundacao-ais.pt

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