[unisinos]
30/10/2011
Eu li a nota no Vatican Insider do amigo e colega Andrea
Tornielli que fala do último achado sobre os lefebvrianos – no caso dos
italianos da Fraternidade São Pio X – ou seja, a declaração que, a
propósito do encontro de Assis desejado pessoalmente Bento XVI, concluiu
assim: "Convidamos todos os fiéis e amigos a se unirem a esta oração e a
este jejum por três intenções: 1) em reparação da celebração de um
evento histórico que, mais do que qualquer outro, humilhou a Esposa de Cristo,
colocando-a no mesmo plano das falsas religiões; 2) para que Cristo,
Nosso Senhor, remova o véu dos corações dos homens da Igreja, fazendo com que
reconheçam que uma só Paz é possível entre os homens, a de Cristo no Reino de
Cristo. Pax Christi in Reino Christi; 3) para que Nosso Senhor
apague os crescentes focos de guerra no mundo que parecem ser a Sua resposta à
'paz' de Assis".
A reportagem é de Gianni Gennari, publicada no sítio Vatican
Insider, 25-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A assinatura do comunicado é do superior do distrito italiano, Pe.
David Pagliarani. Deve-se notar, além do "véu sobre o coração"
afivelado ao papa e a todos aqueles que o seguem, o fim do terceiro ponto, que
atribui à vontade divina as crescentes guerras no mundo como resposta do alto
aos encontros de Assis.
Alguns se admirarão, talvez, porque há muito tempo "fontes"
indicadas como de "notáveis ambientes vaticanos" pareceriam supor que
a paterna oferta do papa, de diálogo com os discípulos de Dom Marcel
Lefebvre para uma autêntica reconciliação, só pode chegar a termo
"positivamente", isto é, com a plena reconciliação daqueles que
atualmente estão e continuam sem um lugar na Igreja Católica e cujos atos de
culto são todos ilegítimos e irregulares, como reafirmado várias vezes,
aparentemente em vão, por muitas mentes, nas declarações da Sala de Imprensa
do Vaticano.
É uma surpresa autêntica essa de certos ambientes, também internos à
Cúria? Eles parecem ser simpatizantes das opiniões dos lefebvrianos e desde
sempre mostram compreensão e bondade para com eles, minimizando ou fingindo
ignorar todas as suas posições já cinquentenárias não só contra o Concílio,
demonizado como causa da crise da fé e da Igreja inteira, mas também, direta e
pessoalmente, contra os papas desde o Concílio. Para este que escreve, parece
ser justamente que não. É uma surpresa que não parece ser totalmente sincera...
De fato, basta lembrar quantos insultos ignominiosos foram gritados – e ainda
são nos sites das paragens das muitas "casas Lefebvre" –
contra João XXIII e especialmente contra Paulo VI: na rede,
acusações vergonhosas que ofendem a sua pessoa nas coisas mais íntimas ainda
estão disponível à luz do sol.
Até João XXIII e João Paulo II muitas vezes sofreram o
mesmo tratamento e, indo rumo ao presente, bastará ir a alguns sites – por
exemplo, o do sempiterno "Pe. Luigi Villa", que desde sempre
oferece ofensas sanguinárias ao Concílio e a todos os papas desde então. Este
gracioso grito de alerta é muito recente: "As incríveis declarações do Papa
Ratzinger que louvam, exaltam e santificam Martinho Lutero:
mas Ratzinger é um fiel de Lutero ou o Vigário de Cristo?". E segue
esse texto: "Ei-lo [obviamente, o papa] fatalmente lá onde, há muito tempo,
seu coração o levava: no convento de Erfurt para visitar – como
peregrino [!] – o lugar de onde partiu o incêndio que devastou o mundo, e para
prestar homenagem ao homem que acendeu esse incêndio, para a destruição da
Igreja e a ruína da Cristandade... Porque, daqui, dentro destes muros,
amadureceu o projeto de uma 'fé repensada e revivida de um modo novo', como
propõe o 'papa' amigo de Lutero!".
Poder-se-á dizer que são casos extremos, mas, ao contrário, não é assim:
há também sites bem conhecidos e mimados em certos ambientes da Cúria, para os
quais a verdade do Concílio é a traidora, e só essa, lamentada pelos De
Mattei e parceiros nostálgicos em seus livros, mosaico de inumeráveis
tramas verdadeiras, mas unilaterais, e, além disso, montadas de tal modo que
tornam tudo falso e falsificador, de uma forma desejada e anunciada
grandemente.
Eu poderia continuar citando avalanches de insultos e ofensas ao
Concílio como tal e aos seus participantes, aos papas e aos teólogos que se
colocaram ao seu lado ao longo das décadas. Seriam dezenas de pastas, mas quero
me deter somente um um exemplo muito recente, retirado das declarações públicas
de Dom Williamson, o bispo
"excomungado", que causou grandes alvoroços com as suas
irresponsáveis declarações à TV sueca há dois anos, mais ou menos. Eu pude
vê-las antecipadamente, então, porque a colega que as gravou – imagens e
palavras – veio me pedir uma explicação delas. Ela não conseguia entender como
era possível que essas palavras e essas ideias pudessem ter um caminho livre
não abstratamente e no mundo da mídia – aberto naturalmente a todas as ideias –
mas sim na Igreja Católica do Terceiro Milênio.
Dom Williamson ainda está vivo e fala em nosso meio. Eis aqui a última,
por enquanto, proeza ideal e programática, diretamente orientada às ideias e à
pessoa de Bento XVI e a Assis, com especial destaque para o
convite dirigido também para os "nossos irmãos mais velhos", como
João Paulo II felizmente os definiu. Além disso, foi Paulo, pela
primeira vez, na Carta aos Romanos, que falou deles de um modo
fraterno, que, depois, infelizmente, por muito muitos séculos, esquecemos e
enterramos.
O título da última performance ideal do Dr. Williamson é o
seguinte, totalmente em letras maiúsculas: "ORGULHO ANCESTRAL".
E aqui está o texto, disponível na rede, do dia 5 de outubro (www.dinoscopus.org).
É muito longo, e eu peço desculpas antecipadamente, mas vale a pena
republicá-lo na íntegra, desde o título:
"No seu segundo livro sobre a vida de Jesus, publicado há alguns
meses, o Papa Bento XVI fez um comentário que permitiu que os
jornalistas chegassem à conclusão de que os Judeus não devem mais ser
considerados responsáveis por deicídio, isto é, pelo assassinato de Deus. Pior,
no dia 17 de maio, o diretor-executivo do Secretariado para o Diálogo
Ecumênico e os Assuntos Inter-Religiosos da Conferência Episcopal dos
Estados Unidos, disse que ninguém pode acusar os Judeus de deicídio em
nenhum momento histórico, sem cair na exclusão da comunhão com a Igreja
Católica.
"Ao contrário do que muitas pessoas querem acreditar hoje, é
oportuno recordar, ainda que brevemente, o que a verdadeira Igreja sempre
ensinou sobre o homicídio judiciário de Jesus. Em primeiro lugar, a morte de
Jesus foi um verdadeiro 'deicídio', isto é, a morte de Deus, porque Jesus era
uma das três Pessoas divinas que, além da sua natureza divina, assumiu uma
natureza humana. Qual delas foi morta na Cruz? Só a natureza humana. Mas quem
foi morto na Cruz na sua natureza humana? Ninguém menos do que a segunda Pessoa
divina, isto é, Deus.
"Em segundo lugar, Jesus morreu na Cruz para salvar dos nossos
pecados a todos nós, seres humanos pecadores, e nesse sentido todos os homens
foram e são o fim da sua morte. Mas só os Judeus (chefes e povo) foram os
principais agentes do deicídio, já que, a partir dos Evangelhos, fica evidente
que o 'gentio' mais envolvido, Pôncio Pilatos, jamais condenaria
Jesus à morte se os chefes dos Judeus não tivessem incitado o povo judeu a
exigir a sua crucificação (MT XXVII, 20). Certamente, os doutos chefes foram
mais culpados do que o povo ignorante – diz São Tomás de Aquino (Summa
III, 47, 5) –, mas todos gritaram juntos: 'O seu sangue recaia sobre nós e
sobre nossos filhos' (Mt XXVII, 25).
"Em terceiro lugar, ao menos o Papa Leão XIII considerava
que havia uma solidariedade real entre os Judeus que exigiram a morte de Jesus
e a coletividade judaica dos tempos modernos. Com o seu Ato de
Consagração do Gênero Humano ao Sagrado Coração de Jesus, toda a Igreja
não rezou a Deus, desde o fim do século XIX em diante, para que ele volte 'os
seus olhos misericordiosos para os filhos dessa raça, um povo há muito tempo
escolhido por Deus: cujos progenitores exigiram sobre eles o Sangue do
Salvador, sobre os quais Ele possa agora descer como um banho de redenção e de
vida"?
"Mas Leão XIII certamente não é o único a reforçar essa
continuidade que une os Judeus de todos os séculos. Não são eles mesmos que
reivindicam hoje a Palestina com base no fato de que ela seria deles por um
direito derivado do Deus do Antigo Testamento? Houve sobre a face da
terra uma raça-povo-nação mais orgulhosamente identitária ao longo dos séculos?
Originalmente elevados por Deus a berço do Messias, infelizmente, quando Ele
chegou, eles, coletivamente, se recusaram a reconhecê-lo. Também coletivamente,
o que significa que sempre houve nobres exceções, eles permaneceram fiéis a
essa recusa, a ponto de mudar a sua religião de Abraão, de Moisés
e do Antigo Testamento, à de Anás, Caifás e do Talmude.
"Tragicamente, a sua própria educação messiânica desejada por Deus
os leva a continuar recusando aquele que eles consideram ser um falso messias.
Enquanto não se converterem, no fim do mundo, como a Igreja sempre ensinou (cf.
Rom XI, 26-27), eles parecem destinados a preferir agir, coletivamente, como
inimigos do verdadeiro Messias. Como o papa pode perder verdades tão
antigas?"
Não se trata apenas de Assis, portanto, mas sim de uma atitude
difundida que, há mais de 50 anos, utiliza a Igreja Católica para fins
abertamente estranhos à fé e à verdade cristãs, com sonhos de poder terreno
mascarados de piedade e de devoção, para reafirmar os cânones de uma sociedade
em que poucos contam e comandam, em que a fé é um instrumento de controle e de
poder até mesmo sobre as "coisas de César", e em que Deus é
oferecido à rejeição e à negação de todos aqueles que têm o sentido da história
e da necessidade de que Igreja e fé sejam vividas nela, no mundo, mas não do
mundo.
Sob a aparência do "céu", se esconde, em alguns nostálgicos,
muita "terra", estranha à fé e à Igreja, assim como a Palavra de
Deus, escrita e encarnada em Jesus de Nazaré, judeu filho de Deus
e de Maria, Ele mesmo Deus, nos entregou ao longo dos séculos...
Bem-vindos, portanto, ao encontro de Assis, em continuidade
reformadora com o de 1986 e com o Vaticano II, que sempre "diante
de nós"!
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