Após assassinato de um pároco e intimidações a outros sacerdotes
MATAGALPA, sexta-feira, 14 de outubro de 2011 (ZENIT.org)
– O bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez, denunciou, na tarde da
última segunda-feira, ter recebido ameaças via telefônica, por parte de
um setor que não identificou, assim como outros dois sacerdotes desse
país, e advertiu que não existe um ambiente de paz prévio às eleições
gerais do próximo dia 6 de novembro.
Na segunda-feira, 10 de
outubro, às 13h30, um dos familiares do bispo Álvarez recebeu uma
ligação ao telefone fixo. Uma voz masculina lhe disse: “Esse padrezinho
estúpido... Se não o calarem, nós o calaremos”.
Dom Álvarez explicou que estas ameaças se devem à missão profética
que os bispos da Conferência Episcopal da Nicarágua realizam sob a luz
do Evangelho.
O prelado comentou, em coletiva de imprensa, que considera estas
ações como “uma ameaça à minha integridade física e, certamente, à minha
vida”.
E afirmou que isso acontece “devido à missão profética que, como
bispo da Conferência Episcopal, e, neste caso, como bispo de Matagalpa,
estamos levando a cabo, iluminando as consciências do nosso povo com a
luz do Evangelho”.
A denúncia de Dom Álvarez se une à dos sacerdotes Edwin Román
Calderón e Gerardo José Rodríguez Pérez, que afirmaram ter sido vítimas
de intimidações através de ligações telefônicas anônimas e mensagens de
texto aos seus telefones celulares.
Pelas ameaças contra ambos os religiosos, a polícia nacional deteve,
no último sábado, mas libertando logo depois – porque ninguém interpôs
uma acusação formal – Alberto Leonel Conde, irmão do vigário da catedral
de Manágua, Bismarck Conde.
Alberto Conde confessou ser o autor das ameaças e ofensas anônimas contra pelo menos quatro sacerdotes.
O presbítero Edwin Román, que conhece pessoalmente Alberto Conde,
rejeitou a versão da polícia e a qualificou como uma “cortina de
fumaça”.
Interesses políticos
Segundo o sacerdote, as autoridades apresentaram Conde como o autor
das ameaças para “desviar” a atenção sobre a carta pastoral divulgada na
sexta-feira passada pela Conferência Episcopal da Nicarágua.
No documento, os bispos exortam os nicaraguenses a votar
massivamente, com liberdade e sem medo algum, em um candidato que
“respeite a Constituição” e não tenha um histórico corrupto.
Nas próximas eleições presidenciais, o presidente Daniel Ortega
aspira a continuar no poder, apesar da norma constitucional que proíbe a
reeleição imediata, que, no entanto, foi declarada inaplicável por
magistrados da Corte Suprema de Justiça, favoráveis a que Ortega se
perpetue no poder.
O secretário-geral da Conferência Episcopal, René Sándigo, afirmou,
na sexta-feira, que os bispos correm o risco de ser mal-interpretados,
criticados, intimidados e até reprimidos “de forma aberta ou encoberta,
por aqueles que se sentem questionados”.
Críticas à polícia
Por outro lado, Dom Álvarez disse que o ambiente não está favorável
para que haja uma denúncia formal diante da polícia da Nicarágua, como
tampouco o fizeram os sacerdotes Calderón e Román.
O bispo criticou a instituição policial pelas “contradições” nas
investigações sobre o assassinato do pároco Marlon Pupiro, em 20 de
agosto passado, e cujo assassino confesso, Yasker Blandón, foi condenado
a 30 anos de prisão.
Da mesma forma, denunciou que existe “uma comissão que anda visitando
e oferecendo todo tipo de dádivas” a líderes da Igreja Católica.
Disse que, em Matagalpa, os sacerdotes receberam “convites para
participar de atos políticos e públicos”, bem como da entrega de lâminas
de zinco, atividades impulsionadas pelo presidente Ortega, favorito
para ganhar as próximas eleições.
Nas eleições do próximo dia 6 de novembro, cerca de 3,4 milhões de
nicaraguenses estarão habilitados para eleger o presidente, o
vice-presidente, 90 deputados da Assembleia Nacional e 20 do Parlamento
Centro-Americano.
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