Por Dom Orani João Tempesta (foto)
RIO DE JANEIRO, terça-feira, 25 de outubro de 2011 (ZENIT.org)
– No último final de semana, comemoramos o Dia Mundial das Missões e
celebramos o XXX Domingo do Tempo Comum. A Palavra de Deus deste final
de semana nos convida a ir para a própria essência da nossa vida cristã e
religiosa, trazendo para o centro da nossa reflexão e meditação o
preceito do amor, que tem duas direções distintas e inseparáveis: o amor
a Deus e o amor aos irmãos. Duas direções que estão integradas em um
caminho de santidade e purificação, tendo os olhos fixos naquilo que
realmente importa na vida humana e cristã: amar a todos e sempre, a
qualquer pessoa, mesmo aquele que possa ser nosso maior inimigo.
Não
é fácil viver de amor e no verdadeiro amor! É sempre mais fácil viver
de amores superficiais e passageiros, inconclusivos, e que produzem
apenas algum momento de prazer. O amor verdadeiro, que usa a linguagem
de Cristo e é centrado em Cristo, nos convida a subir até o cume do
Calvário, onde ele se manifesta como uma oblação, da obediência total à
vontade de Deus, como uma resposta consciente de que Deus nos ama e nos
ama tanto a ponto de dar o seu Filho por nós.
Amarás com todo... com
todo... com todo ... Três vezes Jesus repete o convite à totalidade, ao
impossível. Porque o homem ama, mas somente o amor de Deus é pleno e
eterno, aquele que é o próprio Amor. Repete dois mandamentos antigos e
bem conhecidos, mas acrescenta: o segundo é semelhante ao primeiro.
Deduz-se com isso que o próximo é semelhante a Deus: este é o escândalo,
a revolução trazida pelo Evangelho.
Amar a Deus com todo o coração. Ainda assim o coração dever amar o
marido, a esposa, o filho, o amigo, o vizinho, e até mesmo o inimigo.
Deus não rouba seu coração, Ele o multiplica.
Não é subtração, mas adição de amor! A novidade do cristianismo não é
o mandamento de amar a Deus: amam o seu Deus muitos homens; fazem isso
os místicos de todas as religiões. Mesmo aquele de amar o próximo como a
si mesmo, já que está presente no Antigo Testamento. A novidade do
cristianismo é o amor como aquele de Cristo. Os homens amam, os cristãos
amam ao modo de Jesus. O amor é Ele quando lava os pés dos seus
discípulos, quando chora pelo amigo morto, quando se alegra pelo nardo
perfumado de Maria, quando se dirige ao traidor chamando-o de amigo e
ora pelos que o matariam. Nem mesmo o seu sangue mantém para si mesmo, e
recomeça pelos que estavam condenados, e tem a intenção de apagar o
próprio conceito de inimigo. Amai-vos como eu vos amei. Não quando, mas
como; não a quantidade, mas o estilo. Impossível amar quanto Ele, mas
podemos seguir os seus passos para compreender o sabor, o fermento, o
sal, e inseri-los em nossos dias: como eu fiz, vocês também devem
fazer.
Amarás... Todo o nosso futuro está em um verbo, apresentado, porém,
não como uma liminar, um imperativo nítido, mas conjugado no futuro,
porque amar é uma ação interminável, pois vai durar tanto quanto
perdurar o tempo e perdurará para a eternidade. Não uma exigência, mas
uma necessidade para a vida, como respirar.
Amar, voz do verbo viver, voz do verbo morrer! O que devo fazer
amanhã, Senhor, para estar vivo? Tu amarás. O que farei no mês seguinte
ou no próximo ano, e depois, para o meu futuro? Tu amarás. E a
humanidade, o seu destino, a sua história? Somente isso: o homem amará.
Amar significa não morrer! Vai também e faze o mesmo e encontrarás a
vida.
O Evangelho de Mateus deste final de semana, em sua extrema
brevidade, é tudo o que pode e deve dizer-se sobre o significado da
nossa fé e da nossa esperança. Aos presumidos mestres do tempo de Jesus
era bem conhecida a lei de Deus a esse respeito. Já no Antigo
Testamento, Deus tinha dado a conhecer os seus pensamentos através dos
patriarcas, dos profetas, e tinha colocado no centro da religiosidade do
seu povo o amor para com Deus sem limites, sem restrições, sem
parcialidade ou reducionismo em todas os sentidos. Se o primeiro e
fundamental mandamento do "Eu sou o Senhor vosso Deus, não terás outros
deuses além de mim", deve ser traduzido em estilo de vida e de
comportamento, ele só pode ser amor e só amor, porque Deus é Amor e Nele
está a fonte de todo amor verdadeiro. Isso é bem diferente das paixões e
das caricaturas de amor que permeiam a nossa sociedade. Jesus, nesta
circunstância, dirige-se aos fariseus em resposta à sua pergunta
específica. Não há muito para discutir sobre o tema sobre qual é o maior
mandamento – é o amor a Deus e aos irmãos!
Tudo aqui em um nível conceitual e de mensagem e até poderíamos
dizer: sob um plano jurídico. O problema é como traduzir este amor ao
nível de princípio inspirador da fé e do nosso comportamento cotidiano.
Desse mandamento depende a sabedoria, a organização, a perspectiva de
cada pessoa e cada instituição. Deus reina onde há paz, justiça e a
fraternidade. Onde impera o egoísmo reina a divisão da luta fratricida.
Eis porque já no livro do Êxodo, primeira leitura da Palavra de Deus
deste final de semana, somos lembrados de como se traduz em obra o amor
pelos outros. Em resumo, disse exatamente isso: que no coração de uma
pessoa que ama existe a atenção para o estrangeiro, o órfão, a viúva, o
forasteiro que está com problemas de toda espécie, principalmente no
econômico. O amor não permite descontos e exceções, todos podem e devem
ocupar um lugar especial em nossos corações e em nossas afeições e
pensamentos. Ninguém deve ser excluído do nosso amor arraigado em Jesus
Cristo.
É uma questão de tornar visível este amor através do testemunho
da nossa vida. E, neste domingo, São Paulo Apóstolo nos lembra disso na
passagem da Primeira Carta aos Tessalonicenses. Quem coloca Deus no
centro de sua vida abandona o caminho do mal e da idolatria, que hoje
são o dinheiro, o poder, o prazer, o sucesso, a carreira, a posição
social e tudo o que é exterioridade.
Para vivermos em estado permanente de missão e com coragem
testemunharmos o Senhor Ressuscitado, presente entre nós, somos chamados
a viver com alegria o amor a Deus e ao próximo. Quem assim vive e é
testemunha é missionário.
Que o Senhor nos livre de um egoísmo cada vez mais prevalente e
emergente em todos os setores. Eis por que as nossas orações dirijam-se
ao Senhor com todas as nossas boas intenções e nosso desejo sincero de
fazer o bem: "Ó Pai, que fazeis todas as coisas por amor e sois a mais
segura defesa dos humildes e dos pobres, dai-nos um coração livre de
todos os ídolos para servir somente a Vós e amar nossos irmãos e irmãs
segundo o Espírito do vosso Filho, fazendo do mandamento novo a única
lei da vida" Amém.
Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro.
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