Prefeito da Congregação para o Clero traça o perfil do padre
LOS ANGELES, quinta-feira, 6 de outubro de 2011 (ZENIT.org)
– “Dispensadores dos mistérios de Cristo” e “sinais seguros de
referência e de esperança para quem procura a plenitude, o sentido, o
fim, a felicidade”. O prefeito da Congregação para o Clero, cardeal
Mauro Piacenza, traçou um perfil do sacerdote do século XXI, diante do
clero de Los Angeles, onde está participando, a convite do novo
arcebispo, da reunião anual de padres hispânicos nos Estados Unidos.
“Num
mundo anêmico de oração e de adoração, o sacerdote é, em primeiro
lugar, o homem da oração, da adoração, do culto, da celebração dos
santos mistérios. Num mundo imerso em mensagens consumistas, pansexuais,
atacado pelo erro, apresentado nos aspectos mais sedutores, o sacerdote
deve falar de Deus e das realidades eternas, e, para fazê-lo com
credibilidade, deve ser apaixonadamente crente, como também limpo”.
Segundo o prefeito da Congregação para o Clero, “o sacerdote deve dar
a impressão de estar em meio às pessoas como quem parte de uma lógica e
fala uma língua diferente dos outros”.
“Ele não é como os outros. O que se espera dele é precisamente que não seja como os outros.”
Uma resposta
Em referência ao contexto atual, o cardeal afirmou que “num mundo de
violência e egoísmo, o sacerdote deve ser o homem da caridade”.
“Das alturas puríssimas do amor de Deus, do qual ele tem uma
particularíssima experiência, desce até o vale onde muitos vivem a
solidão, a incomunicabilidade, a violência, para lhes anunciar
misericórdia, reconciliação e esperança”.
“O sacerdote responde às exigências da sociedade, fazendo-se voz de
quem não tem voz: os pequenos, os pobres, os velhos, oprimidos,
marginalizados”, continuou. “Não pertence a si mesmo, e sim aos outros;
compartilha as alegrias e as dores de todos, sem distinção de idade,
categoria social, procedência política, prática religiosa. É o guia da
porção do povo que lhe foi confiada, pastor de uma comunidade formada
por pessoas”, em que cada uma tem um nome, uma história, um destino, um
segredo.
Missão
O cardeal Piacenza também falou da missão do sacerdote no século XXI,
que corresponde “a uma vocação eterna que se realiza na plena comunhão
com Deus”.
“Tem a difícil tarefa, mas eminente, de guiar as pessoas com a maior
atenção religiosa e com o escrupuloso respeito da sua dignidade humana,
do seu trabalho, dos seus direitos”, destacou.
“O sacerdote não duvidará em entregar a vida, seja numa breve, mas
intensa temporada de dedicação generosa e sem limites, ou numa doação
cotidiana, longa. O sacerdote deve proclamar ao mundo a mensagem eterna
de Cristo, na sua pureza e radicalidade”, afirmou em outro momento.
E completou: “Não deve rebaixar a mensagem, mas confortar as pessoas;
deve dar à sociedade, anestesiada pelas mensagens de alguns diretores
ocultos, detentores dos poderes que se impõem, a força libertadora de
Cristo”.
Modelo de estabilidade
Segundo Piacenza, “um sacerdote deve ser ao mesmo tempo pequeno e
grande, nobre de espírito como um rei, simples e natural como um
plebeu”.
O sacerdote tem que ser “um herói na conquista de si, o soberano dos
seus desejos, um servidor dos pequenos e fracos; que não se humilha
perante os poderosos, mas se inclina perante os pobres e pequenos,
discípulo de seu Senhor e cabeça de sua grei”.
Ao se dirigir aos sacerdotes da arquidiocese, o purpurado destacou os
resultados de uma pesquisa sobre Dachau. Segundo os sobreviventes desse
campo de concentração nazista, em meio àquele inferno, os que se
mantiveram equilibrados por mais tempo foram os sacerdotes católicos.
O cardeal Piacenza explicou como: “Porque eles eram conscientes da
sua vocação, tinham sua escala hierárquica de valores, sua entrega ao
ideal era total, eram conscientes da sua missão específica e dos motivos
profundos que a sustentavam”.
O purpurado também falou da necessidade de sacerdotes íntegros no
contexto atual, caracterizado pela instabilidade na família, no
trabalho, nas instituições. “O sacerdote deve ser, constitucionalmente,
um modelo de estabilidade e de maturidade, de entrega plena ao seu
apostolado”.
Vida e ministério
Diante da “secularização, gnosticismo, ateísmo em suas várias
formas”, que “estão reduzindo cada vez mais o espaço do sagrado”, e
diante da desordem moral e da pobreza espiritual, “a vida e o ministério
do sacerdote ganham importância decisiva e urgente atualidade”.
Segundo o prefeito da Congregação para o Clero, “o verdadeiro campo
de batalha da Igreja é a paisagem secreta do espírito do homem, e não se
entra ali sem muito tato, compunção, além da graça de estado prometida
pelo sacramento da ordem”.
O purpurado também advertiu: “A Igreja é capaz de resistir a todos os
ataques, a todos os assaltos que as potências políticas, econômicas e
culturais podem desencadear contra ela, mas não resiste ao perigo que
provém do esquecimento desta palavra de Jesus”.
Finalmente, perguntou “de que serviria um sacerdote tão semelhante ao
mundo que se tornasse um padre mimetizado e não fermento
transformador?”.
“Não se pode dar um presente mais precioso a uma comunidade do que um
sacerdote segundo o coração de Cristo. A esperança do mundo consiste em
contar, também para o futuro, com o amor de corações sacerdotais
límpidos, fortes e misericordiosos, livres e mansos, generosos e fiéis”,
afirmou.
E exortou os padres a ficarem unidos e serem santos: “Além das
inquietações e contestações que agitam o mundo, e são sentidas também
dentro da Igreja, há forças secretas, escondidas e fecundas em
santidade”.

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