[unisinos]
23/10/2011
Quem será o novo patriarca de Veneza no lugar do cardeal Scola?
Nome por nome, os candidatos e quem os apóiam. As ambições da Comunidade de
Santo Egídio. O preferido do secretário de Estado Bertone.
A análise é de Sandro Magister e está publicada no sítio Chiesa,
21-10-2011. A tradução é do Cepat.
O patriarcado de Veneza é a menor diocese italiana, a cujo titular está
tradicionalmente associado o barrete cardinalício (as outras são, em ordem
decrescente de tamanho, Milão, Turim, Nápoles, Bolonha, Palermo, Florença e
Gênova, às quais se acrescenta Roma, que tem a figura do cardeal vigário).
A diocese tem São Marcos como padroeiro e conta com apenas 376.000
habitantes e poucas centenas de sacerdotes (232 diocesanos e 161 religiosos),
números ultrapassados na Itália por mais de 30 dioceses, entre as quais figuram
quatro das suas nove sedes episcopais sufragâneas, a saber: Pádua, Verona,
Treviso e Vicenza.
Mas isto não quer dizer que Veneza seja a desprezada das sedes
cardinalícias italianas. Porque tem a categoria, embora honorífica, de
patriarcado, privilégio que na Igreja latina apenas e ainda Lisboa conserva. E,
além disso, porque dos últimos sete pontífices italianos, três (São Pio X,
o beato João XXIII e o servo de Deus João Paulo I) foram
escolhidos em conclaves nos quais entraram como cardeais patriarcas de Veneza.
Isto explica a atenção com que a mídia, particularmente na Itália, mas
não exclusivamente, perscruta o que acontece nas sacras instâncias vaticanas no
que se refere ao processo que levará à nomeação do sucessor na cátedra de São
Marcos do cardeal Angelo Scola,
nomeado por Bento XVI para dirigir a diocese de Milão (que é a maior do
mundo pelo número de paróquias – mais de 1.100 – e pela abundância de clero
secular diocesano – mais de 2.000 sacerdotes; além de ser a sede da qual saíram
outros dois dos últimos sete Papas italianos, Pio XI e o servo de Deus Paulo
VI).
Não está claro se para a nomeação do novo patriarca de Veneza se
seguirá, como se fez para Milão, o procedimento ordinário que prevê também
consultas aos cardeais e bispos membros da Congregação para os Bispos,
ou se, pelo contrário – como costuma ocorrer com as sedes cardinalícias
italianas –, haverá uma reunião mais restrita que inclui os vértices da citada
congregação e da Secretaria de Estado. O Papa e o cardeal prefeito Marc
Ouellet decidirão o modo de proceder.
Mas, vamos aos nomes que circulam como candidatos à nomeação.
Comecemos por dom Vincenzo Paglia, 66 anos, desde 2000
bispo de Terni. Foi assistente eclesiástico da Comunidade de Santo Egídio,
e o movimento eclesial fundado por Andrea Riccardi está se
movendo em apoio a ele. Riccardi se reuniu com todos os bispos do
Vêneto, um a um, para recomendar seu pupilo. Mas se sabe que a Comunidade de
Santo Egídio, por seu ativismo diplomático, não é bem vista na secretaria
de Estado vaticana desde os tempos em que o arcebispo, hoje cardeal, Jean-Louis Tauran era ministro
do Exterior.
Paglia é
originário de Lazio (mais precisamente da Ciociaria) e no passado apenas uma
única vez um patriarca de Veneza veio desta região: aconteceu em 1915 com Pietro
La Fontaine, nascido em Viterbo, de mãe local e pai suíço.
Entre os membros do episcopado italiano, dom Paglia goza de um
discreto grupo de seguidores (em 2004, foi eleito por 105 votos contra 100, do
bispo de Albano, Marcelo Semeraro, presidente da Comissão Episcopal
para o Ecumenismo, e no ano seguinte foi confirmado no cargo no
primeiro turno com 140 dos 217 votos), mas pequeno demais para ser eleito
vice-presidente da Conferência Episcopal para a Itália Central. Com
efeito, em novembro de 2009, para este cargo se preferiu, em vez dele, o
arcebispo de Perugia, Gualtiero Bassetti. E não houve necessidade de
votação dirimente. Depois de uma primeira votação em que Bassetti obteve
56 votos e Paglia 46, no segundo turno o primeiro foi escolhido com 102
dos 194 votos, ao passo que Paglia ficou com apenas 49.
Nesta votação para a vice-presidência da CEI teve um papel de
terceiro incômodo, com 35 votos no primeiro turno e 24 no segundo, também outro
dos nomes na corrida para Veneza. Trata-se do teólogo napolitano Bruno Forte, 62 anos,
desde 2004 arcebispo de Chieti.
Um velho amigo seu – Massimo Cacciari,
filósofo e ex-prefeito progressista de Veneza – se expressou publicamente a
favor de sua nomeação. Como teólogo, Forte também é considerado
progressista. Seu irmão foi, por breve período de tempo, prefeito de Nápoles
(com a Democracia Cristã), e entre seus sobrinhos pelo lado materno está
o magistrado John Henry Woodcock, que se tornou célebre na Itália por
ter tomado como alvo de suas investigações judiciais, muito ruidosamente, mas
no final das contas nada concludentes, pessoas destacadas como ultimamente o
premiê Silvio Berlusconi. No passado ocorreu apenas uma vez que um
napolitano fosse patriarca de Veneza: em 1807, com Nicoló Saverio Gamboni.
Mas as candidaturas que parecem mais sólidas para Veneza referem-se a
dois eclesiásticos que gozam de menor visibilidade midiática.
Um é dom Aldo Giordano, 57 anos, desde 2008
representante pontifício em Estrasburgo. Não pertence ao corpo diplomático
vaticano, e é próximo ao movimento dos Focolares (assim como outros dois
eclesiásticos promovidos recentemente no Vaticano: o prefeito da Congregação
para os Religiosos, João Braz de Aviz, e o
substituto da Secretaria de Estado Giovanni Angelo Becciu).
Entre os que apóiam sua nomeação para Veneza está o cardeal Tarcisio Bertone.
E desta vez a opinião de Bertone poderá pesar mais que nas nomeações de
outras sedes cardinalícias ocorridas durante seu mandato, como o de Florença,
Turim e Milão. No passado nunca houve um piemontês como patriarca de Veneza; e
remonta a 1741, com Luigi Foscari, a última nomeação a patriarca de um
eclesiástico que ainda não era bispo.
Por último, mas não menos importante, está dom Francesco Moraglia,
58 anos, de Gênova, desde 2007 bispo de La Especia. É muito estimado pelos dois
cardeais genoveses Angelo Bagnasco e Mauro Piacenza, que o
consagraram bispo. Bagnasco, presidente da Conferência dos Bispos da
Itália, o nomeou presidente do Conselho de Administração da TV 2000,
de propriedade dos bispos.
Dentre todos os candidatos, Moraglia é certamente quem tem uma
visão teológica e litúrgica mais em sintonia com o pontificado de Joseph
Ratzinger. Poderia ser para ele um ponto fraco o fato de que já são
numerosos os cardeais oriundos da área da Liturgia e o fato de que recentemente
outro liturgista, Doménico Calcagno, foi promovido a um cargo
cardinalício na cúria. Nunca ocorreu que um liturgista fosse feito patriarca de
Veneza. Mas contam os velhos curiais – e isto vale também para o piemontês Giordano
– na Igreja católica há sempre algo que acontece ao menos uma vez.
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