[IHU]
4/10/2011
Contra os bispos que encobrem os abusos, a Associação dos Padres Católicos apela a Roma
e pede um combate ao celibato.
A reportagem
é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider,
29-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Luta contra
os abusos, o celibato eclesiástico e transparência na Igreja. Na Irlanda,
a Associação dos Padres Católicos se reunirá nos dias 4 e 5 de
outubro para redigir um memorando de demandas para a Santa Sé e terá
entre os seus relatores três padres-símbolo do protesto contra a hierarquia da
Igreja: o austríaco Helmut Schüller, o norte-americano Bernard
Survil e o irlandês Tony Flannery.
A acusação à
hierarquia eclesiástica é, principalmente, a de ter enfrentado inadequadamente
a emergência da pedofilia no clero. Une-se a isso o apelo ao Vaticano
para rever o celibato obrigatório dos sacerdotes.
Entre os
outros objetivos na agenda, estão o de que trabalhar para "uma plena
aplicação da visão e do magistério do Concílio Vaticano II, com uma
particular atenção ao primado da consciência individual, ao status e à ativa
participação de todos os batizados e a tarefa de criar uma Igreja onde todos os
fiéis sejam tratados como iguais; à reestruturação do sistema de governo da
Igreja, a fim de integrar os dons, a sabedoria e a experiência de toda a
comunidade de fé, homens e mulheres, e encorajar uma cultura de consulta e de
transparência, particularmente na nomeação dos líderes eclesiais; uma
reavaliação do ensino católico sobre sexualidade que reconheça o profundo
mistério da sexualidade humana".
A Association
of Catholic Priests representa a terceira tentativa de coordenar pensamento
e ações dos padres irlandeses desde os anos 1960. A Association os Irish
Priests, de fato, se esgotou no início dos anos 1970, levando os bispos do
país a instituir, em 1975, a National Conference of Priests of Ireland,
fechada em 2007 depois de ter sido, durante anos, ignorada pela hierarquia .
Hoje, espera-se um sucesso maior, dada também a difícil situação em que se
encontra a Igreja irlandesa por causa das proporções assumidas pelo escândalo
dos abusos sexuais perpetrados por membros do clero ou por vários outros
membros da Igreja. Uma associação que, explica um dos seus fundadores, o padre Brendan Hoban, não pretende representar todos
os padres irlandeses, mas apenas aqueles que aderem ao seu programa. Que,
aparentemente, são muito mais numerosos do que o esperado.
O órgão
pretende ter "um fórum e uma voz para refletir, discutir e comentar os
temas que envolvem a Igreja e sociedade irlandesa hoje". Entre os
objetivos, o de contestar a nova tradução do missal em inglês. Uma tradução,
afirma Hoban, "excessivamente complexa e muito latinizante", em vista
da qual houve muito pouca consulta e que ninguém parece querer: "É um
exemplo do fato de que a Igreja tenta ajustar coisas de que não precisa,
enquanto não ajusta coisas que deveriam ser ajustadas". Muitos padres na Irlanda
manifestam amargura e desilusão sobre a situação atual da Igreja irlandesa, mas
também esperança para o futuro.
No clero,
ganha espaço a consciência de que é necessário um diálogo sério e autêntico,
com vista de uma mudança. Sobre o encobrimento dos casos de pedofilia, a
contestação da associação dos sacerdotes segue o relatório da comissão de
inquérito sobre os abuso de menores, que, em maio de 2009, em 2.600 páginas,
denunciou os abusos sofridos por muitas crianças que viviam em estruturas
financiadas pelo Estado e gerenciadas em grande parte pela Igreja Católica. O
relatório se baseia em relatos das vítimas e das pessoas que trabalhavam em
mais de 250 dessas instituições e argumenta que o assédio e os estupros eram
"endêmicos", especialmente nas instituições para crianças.
"Um
clima de medo, criado por punições disseminadas, excessivas e arbitrárias,
permeava a maior parte das instituições e todas aquelas para homens. As
crianças viviam no terror cotidiano de não saber de onde viriam os próximos
maus tratos", denuncia o texto. O relatório revela que os inspetores do
departamento para a educação raramente visitavam as instituições, ou advertiam
seus gestores com antecedência, e, em geral, não falavam com as crianças hóspedes.
A Comissão
de Inquérito sobre os Abuso de Menores foi instituída no dia 23 de maio de
2000 com três funções principais: "ouvir as declarações de abuso por parte
de pessoas que afirmam ter sido abusadas durante a infância nas instituições
desde 1940 ou antes até hoje; conduzir uma investigação sobre os abusos de
menores nas instituições durante esse período e, onde for verificado que houve,
determinar suas causas, natureza, circunstâncias e dimensões; preparar e
publicar relatórios sobre os resultados da investigação e sobre as suas
recomendações para enfrentar os efeitos de tais abusos".
As
instituições às quais se refere são escolas, escolas profissionais,
reformatórios, orfanatos, hospitais, lares para crianças e qualquer outro lugar
em que a pessoa que cuidava das crianças não era membro da sua família. No
total, essas instituições hospedaram 30 mil crianças, e as últimas deixaram de
funcionar nos anos 1990.

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