[IHU]
6/10/2011
Sua
publicação, em 27 de setembro, passou quase despercebida. Bento XVI
divulgou uma carta apostólica em forma de Motu Proprio intitulada Quaerit
Semper, na qual transferiu para a Rota Romana a competência em
relação a duas matérias que até então eram tratadas pela Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A primeira delas tem a
ver com a nulidade da ordenação sacerdotal que, como acontece com o matrimônio,
pode ser anulado por vícios de matéria e de forma, de consenso ou de intenção,
tanto do bispo que ordena como do clérigo que é ordenado.
A reportagem
é de Andrea Tornielli e está publicada no sítio Vatican Insider,
04-10-2011. A tradução é do Cepat.
A segunda
matéria, ao contrário, é a dispensa nos casos dos matrimônios contraídos, mas
não consumados. O matrimônio é, de fato, indissolúvel, mas a dispensa se dá
apenas no caso em que não se tenha consumado (mediante uma relação íntima entre
os esposos). Os cônjuges, desta maneira (ambos ou apenas um deles) podem
conseguir da Santa Sé uma dispensa que desfaz o vínculo. O estudo e a análise
destas práticas ocupava muito do tempo da Congregação para o Culto Divino,
dirigida pelo cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera.
Mas, para
compreender as razões pelas quais Bento XVI tomou esta decisão, é
preciso considerar uma paisagem do Motu Proprio que diz: “Nas
circunstâncias atuais, pareceu conveniente que a Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos se dedique principalmente a dar novo
impulso à promoção da Sagrada Liturgia na Igreja, segundo a renovação querida
pelo Concílio Vaticano II a partir da Constituição Sacrosanctum Concilium”.
O dicastério
do culto deve dedicar-se “a dar um novo impulso” à promoção da liturgia,
segundo a centralidade em que o Papa Ratzinger tanto insiste, mas também
(e, sobretudo) com o exemplo. Não nos deve escapar a referência à constituição
conciliar, a primeira aprovada pelo Vaticano II, que Bento XVI
quer atualizar. Não é nenhum mistério que durante os anos do pós-Concílio, em
nome do Concílio, se tenham feito reformas que não seguem as linhas
estabelecidas pelo Concílio. A ideia de Ratzinger, que ele expressou
mais de uma vez, é fazer com que nasça de baixo para cima um novo movimento
litúrgico para que cresça a consciência da importância da liturgia bem
celebrada e para que sejam reduzidos ao mínimo os abusos.
“O que
considero absolutamente necessário e urgente – disse o cardeal Cañizares –
é dar vida a um movimento litúrgico novo, claro e vigoroso em toda a Igreja.
Porque, como explica Bento XVI no primeiro volume de sua Opera Omnia,
na relação com a liturgia se decide o destino da fé e da Igreja. Cristo está
presente na Igreja mediante os sacramentos. Deus é o sujeito da liturgia, não
nós. A liturgia não é uma ação do homem, mas de Deus”.
“A renovação
conciliar – continua o Prefeito do Culto Divino – foi entendida como uma
ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da tradição. Devemos renovar o
espírito da liturgia e por isso são significativos os gestos que o Papa
introduziu nas liturgias: a orientação da ação litúrgica, a cruz no centro do
altar, a comunhão de joelhos, o canto gregoriano, o espaço para o silêncio, a
beleza da arte sacra. Também é necessário e urgente promover a adoração
eucarística: diante da presença real do Senhor não se pode senão adorá-Lo”.
“Devemos
considerar a renovação litúrgica – concluía o cardeal espanhol – segundo a
hermenêutica da continuidade na reforma indicada por Bento XVI para ler
o Concílio. E para fazê-lo é preciso superar a tendência de “congelar” o estado
atual da reforma pós-Conciliar, que não faça justiça ao desenvolvimento
orgânico da liturgia da Igreja. Estamos tentando levar a cabo um grande empenho
na formação dos sacerdotes, seminaristas consagrados e fiéis leigos, para
favorecer a compreensão do verdadeiro significado das celebrações da Igreja.
Isto implica uma adequada e muito ampla instrução, a vigilância e a fidelidade
aos ritos e uma autêntica educação para vivê-los plenamente. Este esforço será
acompanhado pela revisão e atualização dos textos que introduzem as diferentes
celebrações. Também estamos conscientes de que impulsionar este movimento não
será possível sem uma renovação da pastoral da iniciação cristã”.

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