terça-feira, 15 de novembro de 2011

‘Os ultracatólicos estão espalhando gravíssimas calúnias’, afirma Queiruga


[unisinos]


15/11/2011
   
 O bispo de Bilbao, Mario Iceta, acaba de proibir que Andrés Torres Queiruga dê aulas no Instituto Teológico da diocese basca. Depois do avassalador sucesso do 26º Fórum Encrucillada, o teólogo galego deixa a direção da revista homônima editada pelo Fórum e garante que seu colega, José Antonio Pagola, é “um profeta”. Por outro lado, doem-lhe as “calúnias” dos ultracatólicos e o fato de que o arcebispo de Santiago, Julián Barrio, não utilize a mesma medida para com “atitudes escandalosamente reacionárias” e com “uma pastoral teimosamente pré-conciliar em muitas paróquias”.
A entrevista é de José Manuel Vidal e está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 13-11-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.

O sucesso de público e de expositores do 26º Fórum de Encrucillada demonstra que há sede de “explicadores” da fé sérios e livres?
Isso é evidente. A mudança cultural foi grande, e muitas explicações que se dão hoje são pratos requentados intragáveis para um paladar normal. Temos um autêntico tesouro, algo que o mais autêntico e profundo do ser humano deseja; mas aquilo que muitas vezes chega ao público, mais que refleti-lo o encobre. Por isso, quando se consegue uma apresentação ao mesmo tempo autenticamente evangélica e verdadeiramente atual as pessoas vibram e renascem o desejo e a esperança. Isso aconteceu, mais uma vez, noFórum da Encruzilhada.
A que atribui o fato de que os setores mais ultracatólicos, em vez de se alegrarem com o êxito desta convocação, convoquem à fogueira?
Acima de tudo, ao desconhecimento. E não sei até que ponto se dão conta das gravíssimas calúnias que estão divulgando, algo certamente que na moral mais tradicional, que dizem defender, é pecado mortal. Em seguida, há uma atitude que cobre com um dogmatismo agressivo a ignorância da verdadeira interpretação da fé e de seu legítimo pluralismo; nunca distingue entre fé e teologia, entre o fundamental e o acessório. Repetem frases sem ter dedicado um mínimo de tempo para saber o que na realidade significam e opinam sobre opiniões de autores e livros que nunca leram. O que mais me custa a entender é que em nome do Deus amor se possa destilar tanto ódio; e que em nome de um Jesus enormemente renovador e mesmo “revolucionário” em sua interpretação da fé tradicional que ele havia recebido, se procure impor uma religião reacionária, que mata a voz viva do Evangelho. No fundo, reproduzem hoje os mesmos procedimentos e calúnias com que há 2.000 anos outros amargaram a vida de Jesus de Nazaré... até assassiná-lo.
Estas brigas de ‘galinheiro eclesial’ nos fazem perder energias e nos desviam do essencial?
Triste, mas evidente.
O Fórum se sente desautorizado pela recente e asséptica nota do arcebispo de Santiago?
Absolutamente não, porque tem o cuidado de não entrar nos conteúdos. Diz apenas que usamos o nosso dever e nosso direito de cristãos para buscar uma interpretação atualizada da fé. A única coisa que estranho é que, ao contrário, a arquidiocese nunca diga algo semelhante em relação a atitudes escandalosamente reacionárias, que não denuncie abusos muito graves na liturgia funerária ou que consinta com uma pastoral teimosamente pré-conciliar em muitas paróquias... e outros assuntos que algum dia deverão ser analisados detalhadamente, como aquele que convida todos os sacerdotes a irem a Valladolid para escutar o Kiko Argüello.
Você abandona a direção da revista Encrucillada, após 30 anos. Por quê?
Não abandonei a Encrucillada, com a qual continuo umbilicalmente unido e colaborando em seu conselho de redação. Foi uma mudança amplamente desejada, para que uma nova geração tome o testemunho. Minha maior alegria é que a transição se fez em plena saúde da revista e, além disso, com a expressa decisão e muito consciente de respeitar a independência total da nova equipe, que certamente está exercendo sua função de maneira magnífica.
Pedro Fernández Castelao garante a continuidade da revista e do projeto que aglutina a Encrucillada?
O Pedro une à sua excelente preparação teológica um caráter sereno, uma atitude sempre equilibrada e um profundo compromisso eclesial. É leigo, mas escolheu a teologia como única carreira de estudo. Infelizmente, não pode ensinar na Galícia porque, incompreensivelmente, os bispos galegos optaram por não ter uma faculdade teológica. Mas, por sorte, é professor na Pontifícia Universidade de Comillas.
Você acredita que José Antonio Pagola, com o qual esteve no Fórum, é um herege?
Um profeta. Os participantes do Fórum captaram e expressaram isso calorosamente. OFórum, tão caluniado, foi um verdadeiro acontecimento de graça. Uma experiência ao vivo do que pode ser uma nova espiritualidade. Inesquecível. Mas quero assinalar que também se deve aos outros dois expositores.
Alguns consideram que os macro-eventos pastorais, como a JMJ, são um “sinal dos tempos”.
Sinal, sim. Fica a pergunta: de que tempos? Não a acompanhei de perto, mas tenho a impressão de que o sinal mais duradouro aconteceu nos sinais mais discretos de pequenos grupos, cuidadosamente preparados. Mas não mereceram a atenção da mídia, sem dúvida fascinada pelo macro.
Falando do Vaticano II, está sendo desativado?
A explosão de graça, vitalidade e esperança do Vaticano II é impossível que possa ser desativada. Era chuva profética que uma igreja e, inclusive, um mundo sedentos estavam esperando. E Isaías já disse que a chuva de Deus nunca retorna estéril ao céu. Sim, é preciso reconhecer que leva tempo, em rigor desde o começo, submetido à pressão de freios muito fortes. Seguirá em frente.
Uma vez anunciado o fim do ETA, o que acredita os terroristas que deveriam fazer?
Deixar as armas. Tornar-se cidadãos comuns e tratar de encontrar a melhor maneira possível de resolver suas pendências jurídicas, para se integrarem no jogo democrático.

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