Anelise Infante
15 de novembro, 2011
Para pedir proteção contra a ameaça de deportações, estrangeiros sul-americanos com documentação irregular que vivem na Espanha recorrem à uma padreira comum: a Nossa Senhora dos Imigrantes Ilegais.
Na próxima semana, milhares de fiéis participarão da procissão anual dedicada à santa em Madri.
A Nossa Senhora dos Imigrantes Ilegais unifica, em uma imagem, diversas padroeiras veneradas na América do Sul. Equatorianos, bolivianos, paraguaios, peruanos e colombianos, entre outras nacionalidades, veneram, por exemplo, suas Nossa Senhora de Quinche, Virgem de Urkupiña, de Cotoca, Caacupé, Otuzco - todas com nomes de culturas locais e nenhuma conhecida nas igrejas espanholas.
Com apoio de parte da igreja católica espanhola, a santa, que também é conhecida como Virgem dos Sem Papéis (sem documentos), acabou se popularizando entre a comunidade latino-americana.
O respaldo da igreja se deu através dos jesuítas da paróquia de São Francisco Xavier, em Madri, que conseguiram intermediar a concessão de uma licença municipal para a realização da procissão e um compromisso das autoridades de que não haveria batidas policiais no evento.
Sem deportações
Ao menos durante um dia por ano, no bairro da Ventilla, no centro da capital, a polícia não para imigrantes nas ruas para pedir documentos e ameaçar os ilegais com deportações.
"O propósito é a irmandade. Que os imigrantes se sintam unidos compartilhando sua fé e que depositem na santa seus problemas. Que sintam que estão acolhidos pela Virgem Imaculada em todas as circunstâncias", disse à BBC Brasil um porta-voz do Centro de Atenção aos Imigrantes Povos Unidos, coordenado pela Cáritas, órgão social católico.
A celebração de devoção à nova padroeira começou em 2005, mas cresceu a partir de 2009. No ano seguinte participaram cerca de dois mil fiéis, segundo as estimativas de Povos Unidos, e se estendeu a outras partes do país.
A data escolhida para a procissão foi 21 de novembro por ser dia de Nossa Senhora de Quinche, padroeira dos equatorianos, que compõem a maioria de fiéis entre os imigrantes sul-americanos na Espanha.
Na celebração de 2010 os guardas não pediram licenças de trabalho ou moradia, mas, confiscaram alimentos típicos vendidos sem autorização oficial. Este ano comidas feitas em casa para que os compatriotas matem saudades, ficam proibidas.
Segundo Povos Unidos, a próxima procissão deverá contar com menos fiéis por causa da crise. Ao longo do ano, mais de 25 mil equatorianos deixaram a Espanha no êxodo econômico.
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