[ecclesia]
Adriano Moreira e Tolentino Mendonça comentam mensagem de Bento XVI para o primeiro dia de 2012
Lisboa, 30 dez 2011 (Ecclesia)
– Adriano Moreira, presidente do
Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa, considera
“fundamental” o apelo do Papa a favor da paz, numa altura em que o
mundo precisa de “lideranças inspiradoras”.
Em entrevista ao programa «70x7» (RTP2, domingo, 09h30), o antigo
ministro e deputado português realça que a mensagem de Bento XVI para o
45.º Dia Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro, toca num princípio
essencial, “a paz começa no coração dos homens”, que ainda não encontrou
eco suficiente no meio da sociedade.
Direcionando a sua análise para o mundo ocidental, aquele responsável
recorda que a política belicista instituída pelas grandes potências nos
últimos 50 anos conduziram as nações a uma situação de “medo
recíproco”, uma conjuntura “sempre ameaçadora de violação de paz”.
Outra das “notas salientes” do texto do Papa, segundo Adriano
Moreira, é a chamada de atenção para os “desamparados”, o
“empobrecimento” crescente que já “abrange alguns países europeus” e
que “é tão preocupante como o descontrolo armamentista”, refere.
Para o investigador português, chegou a hora de fazer com que valores
como a “humanidade, a solidariedade e o sacrifício” deixem de fazer
parte apenas da doutrina da Igreja mas cheguem à boca daqueles que têm
responsabilidades e poderes acrescidos para alterar o rumo dos
acontecimentos.
“A relação com um futuro diferente é impossível de definir, resta
implantar a esperança”, reforça o vencedor do Prémio de Cultura “Árvore
da Vida-Padre Manuel Antunes” de 2009, atribuído pela Igreja Católica em
Portugal, adiantando que apesar da “relação de pertença com Igrejas
institucionalizadas ter diminuído”, a maioria das pessoas continua a
fazer “apelo à transcendência”.
Já o padre e poeta Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado
Nacional da Pastoral da Cultura, refere que os apelos do Papa
representam uma responsabilidade acrescida para todos os cristãos,
“desde as idades mais jovens”, no sentido de saberem corresponder à
“tensão permanente” que envolve a luta pela paz.
“Talvez nunca consigamos viver a paz em todas as dimensões, mas a
verdade é que temos de viver nessa procura, nessa aspiração, que passa
também por uma grande atitude espiritual, de rasgar o coração e de abrir
a vida aos outros numa linha de inclusão, de respeito, de atenção e de
serviço”, acrescenta o biblista, em declarações ao programa ECCLESIA de
hoje (RTP2, 18h00).
Segundo o sacerdote madeirense, “é urgente uma teologia da cruz,
centro do anúncio cristão”, que ajude a sociedade a perceber que, tal
como Jesus se entregou à morte pela humanidade, a paz só poderá ser
possível quando todos estiverem “implicados” nela “até ao fim”.
A mensagem
de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz 2012 tem como tema “Educar os
jovens para a justiça e para a paz” e pede jovens “solícitos” para
ajudar a “procurar adequadas modalidades de redistribuição da riqueza,
de promoção do crescimento, de cooperação para o desenvolvimento e de
resolução dos conflitos”.
Paulo VI escreveu em 1970 o texto “Educar-se para a paz através da
reconciliação” e João Paulo II dedicou três mensagens a esta temática,
ao longo do seu pontificado: “Para alcançar a paz, educar para a paz”,
em 1979; “Mulher: educadora de paz”, em 1995, e “Um compromisso sempre
atual: educar para a Paz”, em 2004.

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