19.01.2012
- Fabrício (esq.) tenta recuperar herança do padre Roldão (dir.), avaliada em R$ 5 milhões
Descobrir quem era o verdadeiro pai sempre foi o sonho do vendedor de
pão de queijo Fabrício Augusto Nascentes, 31 anos, natural de Patos de
Minas (403 km de Belo Horizonte). A revelação de que seu pai era o padre
católico Roldão Gonçalves Rodrigues chegou quando ele tinha 30 anos, em
outubro de 2010, dois meses após a morte do padre.
Foi, porém, uma outra descoberta que surpreendeu ainda mais Nascentes: a
de que seu pai padre havia acumulado, entre uma missa e outra, uma
fortuna avaliada em R$ 5 milhões, entre joias, uma fazenda e outros
bens. Tudo seria dividido entre dois irmãos vivos do padre e outros 37
sobrinhos, filhos dos outros seis irmãos dele, já falecidos.
Agora,
Nascentes enfrenta duas batalhas: o reconhecimento da paternidade e o
direito de receber sua parte na herança.Paternidade
Nascentes conta que soube da identidade do pai por meio de um sobrinho
do padre Roldão. “No primeiro momento duvidei, mas depois falei com
minha mãe e ela me confirmou. Briguei, porque eu sempre perguntei pelo
meu pai e nunca me disseram nada. Ela se explicou e disse que me
protegeu da verdade por ter medo de eu ser criticado e ignorado por
outras pessoas”, disse.
A confirmação da paternidade foi em abril do ano passado, quando o
vendedor de pão de queijo fez um exame de DNA com o sangue dos dois
irmãos do padre Roldão Rodrigues. “O exame foi extrajudicial e feito de
forma amigável entre as duas partes”, disse o advogado de Fabrício
Nascentes, Cleanto Francisco. A mãe de Nascentes prefere não comentar o
caso. “Ela já foi muito humilhada. Quando engravidou foi expulsa de
casa”, disse o filho.
Herança
O processo está correndo sob segredo de Justiça, porém o vendedor
explica que decidiu torná-lo público após uma das sobrinhas do padre
Roldão, Evalda das Dores Gonçalves, inaugurar uma clínica de recuperação
na fazenda, que está incluída no processo de divisão da herança.
“Fiquei indignado, porque o espaço não é dela”, disse.
Evalda explica que o padre deixou um inventário fazendo a doação da
fazenda para quem morava com ele. “Ninguém sabia da existência de um
filho. A clínica era um sonho do meu tio. Estou dando continuidade ao
que ele fez”, disse.
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Fazenda do padre Roldão tem piscina e 16 suítes
A sobrinha ainda conta que existem três processos envolvendo a fazenda.
“Um sobre o testamento que ele deixou, outro para dividir a herança com
a família e o terceiro sobre a paternidade do Fabrício”, disse.
O testamento foi contestado pelo advogado de Nascentes. Segundo ele, o
documento não foi feito conforme determina a lei. “Todo o processo
ainda está em trânsito, mas o inventário já foi anulado quando entramos
com processo em Unaí (cidade em que o padre morreu)”, disse.
Durante entrevista concedida por telefone ao UOL, o
vendedor disse que a inventariante do processo passou um valor de 8.000
euros e um carro para ele. O advogado de Nascentes preferiu não comentar
sobre o assunto. O juiz titular da vara de Família de Patos de Minas,
Tenório Silva Santos, disse que não houve nenhuma determinação judicial
por parte dele para que fosse repassado algum valor.
Novo DNA
O juiz titular da vara da família em Patos de Minas, Tenório Silva Santos, disse ao UOL
que o processo de investigação de paternidade ainda está no início e
que o exame de DNA feito pelas partes, fora do processo judicial, ainda
não tem validade para a Justiça.
“É uma peça antes do processo. Trata-se de um princípio e não de um
indício. Ainda estamos em processo de citação das partes para
participarem do processo”, disse.
Tenório Santos ainda disse que, se for necessário, irá pedir um novo
exame. “O DNA deve ser feito sob fiscalização do juízo competente se
houver contestação de alguma parte envolvida.”
Fuga para a Itália
O padre Roldão Gonçalves Rodrigues fazia parte do clero da diocese de
Patos de Minas e estava a serviço da diocese de Paracatu, na cidade de
Unaí, onde faleceu. Segundo Nascentes, o padre teria sido enviado à
Itália após ter engravidado sua mãe.
“Depois de um tempo ele voltou para a cidade”, disse. O UOL tentou falar com a Cúria Diocesana em Patos de Minas e Paracatu sobre o caso, mas não teve resposta.

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