5 janeiro 2012
O verdadeiro cristão, sob este prisma, seria aquele que, superando tais enganos, redescobre o “verdadeiro cristianismo’, com toda a sua pureza e singeleza.
Para
estas religiões, o responsável pelos erros que se acumularam no
decorrer dos séculos é, quase sempre, o catolicismo. Já a religião que
“resgatou a verdade” varia de acordo com o gosto do freguês:
luteranismo, calvinismo, pentecostalismo, espiritismo, etc.
De uma
certa forma, mesmo as religiões esotéricas, a Teologia da Libertação, a
maçonaria e (pasmen!) o próprio islamismo bebe desta “teoria do
resgate”.
O motivo do universal acatamento desta “teoria” é o fato
de que, para o homem, é muito difícil, diante dos ensinamentos de Jesus
Cristo, e da santidade fulgurante dos primeiros cristãos, negar, seja a
validade daqueles ensinamentos, seja a beleza desta santidade.
Portanto, as pessoas precisam acreditar que, de uma certa forma, se
vinculam a Jesus Cristo e às primeiras comunidades cristãs, ainda que
não diretamente.
Mas igualmente, é muito difícil para o orgulho
humano aceitar que este genuíno cristianismo existe, intocado, dentro do
catolicismo. Aceitá-lo, para todos os grupos não católicos, seria
aceitar que estão errados e que, muitas vezes, combateram contra o
verdadeiro cristianismo. Desta forma, a “teoria do resgate” é a maneira
mais fácil para que um não-católico possa considerar-se um “verdadeiro
discípulo de Cristo” sem ter que reconhecer os erros e heresias que
professa.
O problema básico de todos estes grupos é que existem
inúmeros escritos dos cristãos primitivos e, por meio de tais escritos é
que alguém, afinal de contas, pode saber em que criam e em que não
criam os cristãos primitivos. E estes escritos são uma devastadora bomba
a implodir todos os grupos que ousaram a se afastar da barca de Pedro.
Eles solenemente atestam que o cristianismo primitivo permanece intacto
dentro do catolicismo. Assim (ironia das ironias), os adeptos da “teoria
do resgate”, freqüentemente, para defender o que julgam ser a fé dos
cristãos primitivos, são obrigados a desconsiderar todo o legado destes
primitivos cristãos.
O protestantismo é o mais solene exemplo de tudo o quanto acima dissemos.
Em
nosso artigo “Como o protestantismo pode ser um retorno às origens da
fé?”, já expusemos como o protestantismo não confessa a fé que os
primeiros cristãos confessaram, fé esta que receberam dos Santos
Apóstolos. Quem estuda com seriedade as origens da fé e a história da
Igreja, insistimos, sabe que a tão referida Igreja Primitiva, é na
verdade a Igreja Católica dos primeiros séculos.
Neste presente
artigo, gostaríamos de lançar a seguinte pergunta: teria sido o
cristianismo primitivo uma união de confissões protestantes ou uma única
confissão católica?
Sabemos que o Protestantismo ensina que todos
os crentes em Jesus formam a Igreja de Cristo. Desta forma, não
interessa se o crente é da Assembléia de Deus, se é Luterano e etc; são
crentes em Jesus e fazem parte da Igreja Invisível de Cristo, mesmo
confessando doutrinas diferentes. Curiosamente (e este é um paradoxo
insuperável desta “eclesiologia” chã e rastaqüera), apenas os católicos é
que não fazem parte deste “corpo invisível”, ainda que confessemos que
Jesus Cristo é o Senhor do Universo.
O protestantismo, como percebe o leitor, é algo bastante curioso…
Aqui
é importante que o leitor não confunda doutrina com disciplina. O fato
de na Assembléia de Deus os homens sentarem em lugar distinto das
mulheres em suas assembléias, e o fato dos Luteranos não adotarem esta
prática, não é divergência de doutrina entre estas confissões, mas de
disciplina. A divergência de doutrina nota-se pelo fato dos primeiros
não aceitarem o batismo infantil e os segundos aceitarem. Isto é para
citar um exemplo.
A doutrina é a Verdade Revelada, é o núcleo da
fé, é o que nunca pode mudar. A disciplina é a forma como a doutrina é
vivida, e é o que pode mudar, desde que não fira a doutrina.
Uma
análise completa de como seria o passado do Cristianismo se ele tivesse
sido protestante exigiria a escrita de um livro. Então, neste artigo
vamos apenas verificar a questão das resoluções tomadas pela Igreja
Primitiva a fim de combater o erro, isto é, as heresias.
Ao longo
da história, a Igreja se deparou com sérios problemas doutrinários.
Muitos cristãos confessavam algo que não estava de acordo com a fé
recebida pelos apóstolos.
A primeira heresia que a Igreja teve que combater a fim de conservar a reta fé foi a heresia judaizante.
Os
primeiros convertidos á fé Cristã eram Judeus, que criam que a
observância da Lei era necessária para a Salvação. Quando os gentios
(pagãos) se convertiam a Cristo, eram constrangidos por estes
cristãos-judeus a observarem a Lei de Moisés. Os apóstolos se reúnem em
Concílio para decidir o que deveria ser feito sobre esta questão.
Em
At 15, o NT dá testemunho que os apóstolos acordaram que a Lei não
deveria ser mais observada. E escreveram um decreto obrigando toda a
Igreja a observar as disposições do Concílio.
Veja-se este
Concílio de uma maneira mais pormenorizada. Haviam dois lados muito bem
definidos em disputa, cada qual contando com um líder de enorme
expressão. O primeiro destes lados era o já citado “partido dos
judaizantes”, que tinha, como sua cabeça, ninguém menos do que São
Tiago, primo de Jesus Cristo e a quem foi dado o privilégio de ser Bispo
da Igreja Mãe de Jerusalém. Contrário a este partido, havia o que
advogava que, ao cristão, não se poderia impor a Lei de Moisés, visto
que o sacrifício de Jesus Cristo era suficiente e bastante para a
salvação de quem crê. Como cabeça deste grupo, estava São Paulo, o mais
influente apóstolo de então, a quem Deus havia dado o privilégio de
“visitar o terceiro céu”, e de conhecer coisas que, a nenhum outro ser
humano, foi dado conhecer.
Dois grupos muito fortes, com líderes
extremamente influentes. Realiza-se o Concílio num clima de muita
discussão. Estavam em jogo a ortodoxia e a salvação da alma de todos
nós. No concílio, foram estabelecidas duas coisas muito importantes, de
naturezas diversas.
Em primeiro lugar, São Pedro afirmou que os
cristãos não estavam obrigados à observância da lei, definindo um ponto
de doutrina imutável e observado por todos os cristãos até hoje (At 15,
7-8). Aliás, a liberdade cristã, vitoriosa neste Concílio, é o ponto de
partida de toda a teologia protestante. Não deixa de ser curioso o fato
de que este núcleo teológico acatado por todos eles foi definido,
solenemente, pelo primeiro Papa, muito embora eles afirmem que o Papa
não tem poder para definir coisa alguma…
Pouco depois, São Tiago
sugeriu, juntamente com a proibição de uniões ilegítimas, a adoção de
normas pastorais (a saber: a abstinência de carne imolada aos ídolos, e
de tudo o que por eles estivesse contaminado),o que foi aceito por todos
e imposto aos cristãos. Tais normas, hoje não são seguidas. Por que?
Nós católicos temos o argumento de que tais normas eram disciplinares e
não doutrinárias, e que a Igreja Católica que foi a Igreja de ontem com o
tempo as revogou; assim como uma mãe que aplica normas disciplinares a
um filho quando é criança e não as utiliza mais quando o filho se torna
um adulto.
E qual o argumento dos protestantes por não observarem
tais normas. Não deixa de ser curioso o fato de que não existe uma
revogação bíblica destas normas, e, portanto, os protestantes (adeptos
da ?sola scriptura?) deveriam observá-las. No entanto, não as observam.
Revogaram-nas por conta própria. E, ainda por cima, nos acusam de
“doutrinas antibíblicas”…
Nada mais antibíblico, dentro do tenebroso mundo da ?sola scriptura”, do que não seguir as normas de At 15, 19-21…
Bem, prossigamos. Este Concílio, portanto, foi exemplar por três motivos:
a)
narra uma intervenção solene de São Pedro, acatada por todos e
obedecida até pelos protestantes hodiernos, ilustrando a infalibilidade
papal;
b) narra a instituição de uma norma de fé por todo o
concílio (qual seja: a abstenção de uniões ilegítimas), igualmente
seguida por todos até hoje, o que ilustra a infalibilidade conciliar;
c)
narra a instituição de normas pastorais, que se impuseram aos cristãos e
que deixaram, com o tempo de serem seguidas, muito embora constem da
Bíblia sem jamais terem sido, biblicamente, revogadas (o que, por óbvio,
não cabe dentro do “sola scriptura”).
Ao fim do Concílio,
portanto, e de uma certa forma, os dois lados estavam profundamente
desgostosos. Em primeiro lugar, o grupo dos judaizantes teve que aceitar
a tese de São Paulo como sendo ortodoxa. Afinal, São Pedro em pessoa o
afirmara e, diante das palavras dele, a opinião de São Tiago não tinha
lá grande importância. Como católicos que eram, curvaram-se, assim como o
próprio São Tiago se curvou.
Imaginemos se fossem protestantes.
Afirmariam que não há base escriturística para a afirmação de São Pedro.
Que, sem versículos bíblicos (do cânon de Jerusalém, ainda por cima!),
não acatariam aquela solene definição dogmática. Que São Pedro, sendo
uma mera “pedrinha”, não tinha poder de ligar e de desligar coisa
nenhuma, muito embora Jesus houvesse dito que ele o tinha. Afirmariam,
ainda, que todos os cristãos são iguais, e que, portanto, São Tiago era
tão confiável quanto São Pedro, pelo que a palavra deste não poderia
prevalecer sobre a daquele, principalmente quando todas as Escrituras
diziam o contrário.
Por fim, criariam uma nova Igreja. A Igreja do
Apóstolo Tiago, verdadeiramente cristã, alheia aos erros do papado
desde o princípio.
Imaginemos, agora, o lado dos discípulos de São
Paulo. É verdade que sua tese saiu vitoriosa do Concílio, mas, em
compensação, tiveram que acatar as normas pastorais de cunho nitidamente
judaizante. Como bons católicos que eram, entenderam que a Igreja foi
constituída pastora de nossas almas e que, portanto, tais normas eram de
cumprimento obrigatório.
Imaginemos, agora, se fossem
protestantes. Afirmariam que São Paulo teve uma “experiência pessoal”
com Jesus e que, nesta experiência, o Senhor lhe dissera que ninguém
deveria se preocupar com o que come ou com o que bebe. Além disto, a
experiência cristã é, eminentemente, espiritual e não pode sem
conspurcada ou auxiliada por coisas tão baixas como a matéria (muitos
protestantes, na mais pura linha gnóstica, têm horror a tudo o que é
material). Portanto, este Concílio estava negando a verdade cristã, pelo
que não se sentiriam obrigados a coisa alguma nele definida.
Acabariam, finalmente, fundando uma nova Igreja. A “Igreja Em Cristo, Somos Mais do que Livres”, ou “Igreja Deus é Liberdade.”
Este
foi o primeiro concílio da Igreja. Realizado por volta do ano 59 d.C., e
narrado na Bíblia. Portanto, é “cristianismo primitivo” para
protestante nenhum botar defeito!
Neste ponto, perguntamos: os
protestantes realizam concílios para resolverem divergências
doutrinárias? Sabemos que não. Então, como os protestantes podem avocar
um pretenso retorno ao “cristianismo primitivo” se não resolvem suas
pendências como os primitivos cristãos? Somente por aí já se percebe que
a “teoria do resgate” não passa de uma desculpa de quem,
orgulhosamente, não quer aderir à Verdade.
Portanto, se a Igreja
Primitiva tivesse sido protestante, como defendem alguns, este concílio
não se realizaria. Primeiro que não se incomodariam se alguns cristãos
confessam algo diferente, pois para os protestantes, o que importa é a
fé em Cristo. A doutrina não importa, o que importa é a fé. Se você tem
fé e foi batizado está salvo. Não é assim no protestantismo?
Em
segundo lugar, supondo a realização do concílio, como já se viu acima,
nem os cristãos judaizantes nem os discípulos de São Paulo não adotariam
as disposições do Concílio em sua inteireza. E então não haveria de
forma alguma uma só fé na Igreja.
Verificamos que então que a fé
primitiva não era protestante, era católica; por isto eles sabiam que
deveriam obedecer a Igreja pois criam que Cristo a fundou para os guiar
na Verdade (cf. 1Tm 3,15), assim como nós católicos cremos. Tanto é
assim que, nos séculos que se seguiram, os “cristãos primitivos”
continuaram resolvendo suas pendências doutrinárias segundo o modelo de
At 15. Concílios ecumênicos e regionais se sucederam por toda a história
da cristandade, sempre acatados e respeitados. Alguns deles (vá
entender!) são acatados e respeitados até pelos protestantes.
Depois
da heresia judaizante, a ortodoxia (reta doutirna) cristã teve que
combater as seguintes heresias: gnosticismo, montanismo, sabelianismo,
arianismo, pelagianismo, nestorianismo, monifisismo, iconoclatismo,
catarismo, etc. Para saber mais sobre estas heresias ler artigo “Grandes
Heresias”. Este mesmo artigo nos mostra como muitas destas heresias se
revitalizaram nas seitas protestantes, que, assim, embora aleguem um
retorno ao “crsitianismo primitivo”, acabam por encampar doutrinas
anematizadas por estes mesmos cristãos primitivos.
Como costumamos dizer, a coerência não é o forte do protestantismo…
O
fato é que graças á realização dos Concílios Ecumênicos ou Regionais,
graças aos decretos Papais, e à submissão dos primeiros cristãos aos
ensinamentos do Magistério da Igreja, é que foi possível que houvesse
uma só fé na Igreja antes do século XVI (antes da Reforma). Foi pelo
fato da Igreja antiga ser Católica, que as palavras de São Paulo (“uma
só fé” cf. Ef 4,5) puderam se cumprir.
Se a Igreja Antiga fosse
protestante, simplesmente, o combate às heresias não teria acontecido, e
com toda certeza nem saberíamos no que crer hoje. O mundo protestante
só não e mais confuso porque recebeu da Igreja Católica a base de sua
teologia.
Como ensinou São Paulo: “A Igreja é a Coluna e o
Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15). Foi assim para os primeiros
cristãos e assim continua para nós católicos.
Assim como no
passado, continuamos obedecendo aos apóstolos (hoje são os bispos da
Igreja, legítimos sucessores dos apóstolos) pois continuamos crendo que
Jesus fundou sua Igreja nos ensinar a Verdade através dela.
Se isto foi verdade no passado, necessariamente é verdade agora e continuará sendo sempre.
Estude
as origens da fé, procure saber sobre os Escritos patrísticos e
descubra a Verdade, assim como nós do Veritatis Splendor, que somos
ex-protestantes (em sua maioria) descobrimos.
Não rotulem, conheçam.
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.
Autores: Alessandro Lima * e Alexandre Semedo.
* O autor é arquiteto de software, professor, escritor, articulista e fundador do Apostolado Veritatis Splendor.
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