Uma reflexão sobre o valor das religiões, por Ives Gandra Martins
SÃO PAULO, 18 de janeiro de 2012(ZENIT.org) - Oferecemos
aos nossos leitores, um interessante artigo que nos enviou *Ives Gandra
da Silva Martins, advogado tributarista, professor e prestigiado
jurista brasileiro; uma reflexão sobre o valor das religiões.
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O FUNDAMENTALISMO ATEU
Voltávamos,Francisco Rezeke eu, de uma posse acadêmica em Belo
Horizonte, quando ele utilizou a expressão “fundamentalismo ateu” para
referir-se ao ataque orquestrado aos valores das grandes religiões que
vivemos na atualidade.
Lembro-me de conversa telefônica que tive com o meu saudoso e querido
amigo Octávio Frias, quando discutíamos um editorial que estava para
ser publicado, sobre Encíclica do Papa João Paulo II, do qual discordava
quanto a alguns temas. Argumentei que a Encíclica era destinada aos
católicos e que quem não o era, não deveria se preocupar. Com sua
inteligência, perspicácia e bom senso Frias manteve o editorial, mas
acrescentou a observação de que o Papa, embora cuidando de temas
universais, dirigia-se, fundamentalmente, aos que tinham a fé cristã.
Quando fui sustentar, pela CNBB, perante a Suprema Corte, a
inconstitucionalidade da destruição de embriões para fins de pesquisa
científica - pois são seres humanos, já que a vida começa na concepção
-, antes da sustentação fui hostilizado, a pretexto de que a Igreja
Católica seria contrária a Ciência e que iria falar de religião e não de
Ciência e de Direito. Fui obrigado a começar a sustentação informando
que a Academia de Ciências do Vaticano tinha, na ocasião, 29 Prêmios
Nobel, enquanto o Brasil até hoje não tem nenhum, razão pela qual só
falaria de Ciência e de Direito. Mostrei todo o apoio emprestado pela
Academia às experiências com células tronco adultas, que estavam sendo
bem sucedidas, enquanto havia um fracasso absoluto nas experiências com
células tronco embrionárias. E, de lá para cá, o sucesso com as
experiências, utilizando células tronco adultas, continua cada vez mais
espetacular. Já as pesquisas com células embrionárias permanecem no seu
estágio “embrionário”.
Trago estas reminiscências, de velho advogado provinciano, para
demonstrar minha permanente surpresa com todos aqueles que, sem
acreditarem em Deus, sentem necessidade de atacar permanentemente os que
acreditam nos valores próprios das grandes religiões, que como diz
Toynbee,em seu “Estudoda História”, terminaram por conformar as grandes
civilizações. Por outro lado, Thomas E. Woods Jr., em seu livro “Como a
Igreja Católica construiu a civilização Ocidental” demonstra que, além
dos fantásticos avanços na Ciência realizados por sacerdotes cientistas,
a Igreja ofereceu ao mundo moderno o seu maior instrumento de cultura e
educação, ou seja, a Universidade.
Aos que direcionam esta guerra atéia contra aqueles que vivenciam a
fé cristã e cumprem seu papel, nas mais variadas atividades, buscando a
construção de um mundo melhor, creio que a expressão do ex-juiz da Corte
de Haia é adequada. Só não se assemelham aos “fundamentalistas” do
Próximo Oriente, porque não há terroristas entre eles.
Num Estado, o respeito às crenças e aos valores de todos os segmentos
da sociedade é a prova de maturidade democrática, como, aliás, o
constituinte colocou, no artigo 3º, inciso IV, da C.F, ao proibir
qualquer espécie de discriminação.
*IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, é advogado tributarista, professor e prestigiado jurista brasileiro; acadêmico das: Academia Internacional de Cultura Portuguesa, Academia Cristã de Letras e Academia de Letras da Faculdade de Direito da USP; Professor Emérito das universidades Mackenzie, CIEE/O, ECEME e Superior de Guerra - ESG; Professor Honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia); Doutor Honoris Causa da Universidade de Craiova (Romênia) e Catedrático da Universidade do Minho (Portugal).
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