24/01/2012
IHU - Que
perfil um bispo deveria ter hoje? A etimologia da palavra "bispo", a
sua jornada, os vícios que podem perturbar a sua missão, as relações com
as más línguas, ou com o mundo midiático, ou com outras fés, ou com os
não crentes: o cardeal Carlo Maria Martini reflete sobre tudo isso em seu novo livro, intitulado Il vescovo [O bispo] (Ed. Rosenberg & Sellier, 92 páginas).
Publicamos aqui um trecho da obra, divulgado no jornal Corriere della Sera, 22-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Publicamos aqui um trecho da obra, divulgado no jornal Corriere della Sera, 22-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os evangelhos não falam longamente da incredulidade, porque naquela tempo ela não estava na moda.
Hoje, nos definimos com prazer como ateus ou agnósticos, ou pessoas
indiferentes ao problema de Deus. Não devemos nos iludir que, mesmo nas
dioceses mais tradicionais, são numericamente poucos aqueles que
pertencem a essas categorias, assim como aqueles que vivem de fato longe
de qualquer atividade pastoral. Estes recebem informações sobre a
Igreja sempre filtradas pelos jornais ou pela televisão, onde é trendy – isto é, na moda – falar com frieza ou arrogância de coisas religiosas.
O arcebispo Montini, que ocupou a cátedra de Santo Ambrósio por mais de oito anos e depois se tornou o Papa Paulo VI,
constantemente se fazia a pergunta: "O que o homem moderno pensará ou
entenderá do que eu digo?". Importava muito a impressão que o seu
discurso e a sua ação podiam criar sobre os não crentes e os não
praticantes. O bispo deverá se lembrar que foi enviado a uma Igreja
local, isto é, a uma Igreja existente em um lugar onde não nem todos
hoje podem se considerar cristãos autênticos. Isso determinará sobretudo
a sua linguagem, porque ela deverá ser entendida o máximo possível até
por aqueles que não acreditam ou não praticam.
O bispo deverá
aprenderá a distinguir entre as pessoas apáticas ou arrastadas pela
deriva das modas e os interlocutores cuidadosos e atentos aos valores.
Ele pode fazer muito por estes últimos. É importante que ele reflita
muito sobre essa sua responsabilidade e pense nos instrumentos dos quais
pode se servir para ir ao encontro dessas pessoas.
Pessoalmente, em Milão, eu instituí a Cátedra dos Não Crentes,
com a qual eu entendia que também poderia pôr em cátedra os não crentes
e aprender a escutá-los, mesmo que com uma escuta crítica. Uma das
coisas as quais eu estava mais atento era que não se fizesse apenas uma
lição acadêmica, mas que o relator soubesse escutar dentro de si as
palavras que um rabino disse a alguém que o assediava com argumentos
contra a existência de Deus: "Mas talvez seja verdade".
É claro que a Cátedra dos Não Crentes pressupõe
um ouvinte atento e qualificado, que exerça um juízo crítico sadio. O
bispo julgará se se sente apto a propor um tal exercício um pouco
"inquietante". Também por isso eu pedia que as irmãs, assim como as
pessoas chamadas "da paróquia", não fossem.
Pouco a pouco, mudei
um pouco a fórmula para aquela que consiste em colocar a não fé e a fé
em contato com os grandes problemas do mundo. Normalmente, eu me
reservava a conferência conclusiva, que consistia em expressar em voz
alta os pensamentos e os sentimentos que as conferências anteriores
tinham me suscitado. Repensando isso, parece-me que esses encontros me
ajudaram muito a ampliar a mente e a saber ouvir, sem preconceitos, os
argumentos de cada um. (...)
Entre as acusações mais
frequentemente dirigidas contra a Igreja há aquela de ser rica ou pelo
menos ávida por dinheiro. As pessoas logo se dão conta se um padre é
apegado ao dinheiro. Infelizmente, na Itália, a Igreja possui muitas
obras de arte, igrejas e palácios importantes, embora, todos os dias,
ela custe a encontrar o dinheiro necessário para pagar os seus
colaboradores leigos, por exemplo os sacristães. Vendendo algumas dessas
obras, se poderia obter muito dinheiro. Mas nós somos considerados como
conservadores e responsáveis por todo esse tesouro: portanto, não é
lícito renunciar a eles.
Certamente, não se pode dizer que, na
nossa Igreja, ao longo da história, sempre nos ativemos com fidelidade à
mensagem de Cristo. O Senhor inspirará cada um a como se orientar. Mas o
problema permanece e é muito grande. Talvez será necessário esperar por
uma invasão de pessoas vindas de outras civilizações, que destruam e,
de algum modo, façam tábua rasa de todo o nosso modo de vida.
Cada
bispo saiba, porém, que, se não puser em prática as fortes palavras de
Jesus sobre a pobreza, não apenas com relação aos edifícios, mas também
aos próprios métodos de evangelização, não poderá contar com a ajuda de
Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário