[ihu]
13/01/2012
O antigo Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição,
mandou silenciar uma obra sobre sexualidade e sobre a diversidade das
famílias escrita por um pastor evangélico argentino e publicado por uma
editora católica do país sul-americano.
A reportagem é de A. Rebossio, publicada no jornal El País, 11-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O prefeito da atual Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal norte-americano William Levada,
enviou no último dia 5 de novembro uma carta à editora San Pablo, na
qual advertia que esse livro continha "opiniões contrárias à doutrina da
Igreja acerca da sexualidade" e pedia para "corrigir o quanto antes
essa situação, que é causa de confusão entre os fiéis".
A editora
retirou, no fim de novembro, todos os exemplares das lojas, retirou o
livro de seus catálogos e proibiu sua promoção em suas publicações.
O livro se chama Parejas y sexualidad en la comunidad de Corinto [Casais e a sexualidade na comunidade de Corinto], do pastor evangélico argentino Pablo Manuel Ferrer (foto).
Ele havia sido publicado pela editora San Pablo em 2010 para iniciar
uma coleção ecumênica sobre temas bíblicos. Por isso, convidou-se
teólogos de outras Igrejas para participar.
"Quando me convocaram para publicar um livro, estranhei, mas me pareceu muito interessante a proposta ecumênica", relata Ferrer (foto). O pastor tinha em mente escrever um livro sobre casais e sexualidade "porque Jesus abriu novas possibilidades".
Ele
tinha receios de que a editora mudaria alguns conteúdos: "Eu pensava
que se me tirassem uma vírgula eu não o publicaria, mas publicaram tudo
tal qual... Me pareceu interessante que um espaço católico abrisse o
jogo A leitura bíblica tem uma diversidade de interpretações. Ela teve
no momento de ser escrita. A Bíblia não é homogênea", diz.
O livro foi publicado em uma folha que é distribuída todos os domingos em todas as igrejas católicas da Argentina e, a partir daí, alguém levantou a denúncia ao Vaticano. Ferrer não sabe qual conteúdo do seu livro desagradou o cardeal Levada,
mas imagina. A obra não se refere à homossexualidade, ao aborto ou aos
anticoncepcionais, mas sim à diversidade nas famílias e à aceitação do
desejo sexual. "Meu livro fala da sexualidade como um desejo válido",
explica o pastor, que se refere à carta de São Paulo aos Coríntios, em
que se admite a diversidade de famílias.
"Meu livro pode ter
provocado barulho porque eu digo que a família composta por papai, mamãe
e filho é uma das estruturas familiares possíveis", explica Ferrer.
Quando seu livro foi retirado das livrarias, o pastor ficou surpreso:
"A mim, o cardeal não pode fazer nada, mas se eu fosse sacerdote deveria
dar explicações".
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