14/02/2012
Eleonora Menicucci |
IHU - A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci,
revelou há oito anos, em depoimento a uma pesquisadora de ciências
sociais, que fez um "curso de aborto" na Colômbia após fundar, em 1995, a
entidade Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Ontem à noite, Eleonora divulgou nota em que afirmou que "nunca esteve na Colômbia".
A reportagem é de Daniel Bramatti e Bruno Boghossian e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 14-02-2012.
Na entrevista, feita em 2004, Eleonora contou
ainda que se submeteu a seu segundo aborto, em 1970, por decisão tomada
em conjunto com a organização clandestina na qual militava, o Partido Operário Comunista - um dos grupos de esquerda que participaram da luta armada durante a ditadura militar.
Autora da entrevista, a professora Joana Maria Pedro, da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que conversou com Eleonora e
outras 150 mulheres do Cone Sul para uma pesquisa sobre o engajamento
de feministas na luta contra ditaduras militares. Ela explicou que a
atual ministra solicitou que a publicação fosse retirada do ar em 2011
para evitar a exposição de sua filha, que é citada. A ministra alegou
ontem que pediu que o texto fosse retirado do ar em 2010 por conter
"imprecisões".
"Se havia alguma outra imprecisão, eu não me
lembro", disse a pesquisadora, que inicialmente havia confirmado ao
Estado o conteúdo da conversa. "Estão usando uma entrevista feita para
um trabalho de História para atacar uma pessoa. As pessoas podem ter
feito coisas que não fazem mais", disse Joana Pedro.
A transcrição das gravações foi feita por uma estudante e revisada por outra aluna.
A entrevista, trazida a público ontem pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da revista Veja,
deve alimentar as pressões de integrantes da bancada evangélica no
Congresso pela demissão da ministra. Setores religiosos vinham atacando Eleonora nos últimos dias por causa de sua posição a favor da descriminalização da prática do aborto.
No depoimento, a ministra afirma que foi para a Colômbia aprender a fazer aborto pelo método Amiu (Aspiração Manual Intrauterina).
Segundo ela, a entidade feminista da qual participava tinha como
objetivo "autocapacitar" mulheres para "lidar com o aborto", mesmo sem
conhecimentos de medicina.
A data da ida da então militante feminista para a Colômbia,
viagem que ela nega, não fica clara. Na época em que o depoimento foi
dado, a prática do aborto no país vizinho era considerada crime. Só em
2006 o país legalizou abortos em casos de estupro, más-formações do feto
e risco para a mãe.
O curso de "autocapacitação" teria sido feito quando Eleonora já
havia se submetido a dois abortos feitos por médicos. Presa política e
torturada nos anos 70, ela revelou que o médico que a atendia após as
sessões de espancamento era o mesmo com o qual havia feito um exame de
pré-natal, antes de ser capturada.
O depoimento também traz
relatos da vida sexual da nova ministra durante a época em que viveu na
clandestinidade. Ela revela, por exemplo, que as mulheres de seu grupo
guerrilheiro só podiam fazer sexo com pessoas da própria organização,
por "questão de segurança".
A presidente do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Ana Galati,
disse desconhecer a realização de treinamentos de aborto pela ONG.
Segundo ela, a ministra deixou o grupo em 2004. "Ensinamos mulheres a
fazer autoexames, não o aborto."
Eleonora nega ter feito treinamento na Colômbia
A ministra Eleonora Menicucci
(Secretaria de Política para as Mulheres) afirmou, por intermédio de
curta nota divulgada na noite de ontem, com três itens, que nunca esteve
na Colômbia. Disse ainda, no mesmo documento, que a entrevista em que
teria dito até que fez curso de aborto no país vizinho "contém
imprecisões que a levaram a requerer, em 2010, a sua retirada do site
(da Universidade de Santa Catarina)".
Por fim, na nota, a
ministra reafirmou que mantém suas convicções, "expressas em entrevista
coletiva realizada em 7 de fevereiro de 2012", e reitera que, como
integrante do governo federal, "defende integralmente as posições do
governo".
Horas antes, a orientação do ministério era não
polemizar e não comentar o assunto. A ministra, antes da divulgação da
nota, teria orientado a assessoria a dizer que "no governo, cumpre as
orientações do governo", conforme entrevista que concedeu após a posse,
semana passada. Ainda de acordo com a assessoria da ministra, "ela sabe
diferenciar suas convicções pessoais da função que ocupa no governo".
No
Palácio do Planalto, há a certeza de que Eleonora vai se enquadrar e
evitar declarações polêmicas sobre a questão do aborto, passando a
defender posições de governo, como na primeira entrevista coletiva. O
governo tem consciência de que poderá enfrentar pressões e muitos
ataques das alas mais conservadoras do Congresso e da sociedade, por
causa das posições pessoais de Eleonora, e até por ter
assumido que fez aborto. O entendimento é de que a presidente, ao fazer
seu discurso na posse da ministra, deu o recado, que foi entendido pela
amiga.
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Texto relata curso de aborto de ministra
A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, revelou há oito anos, em depoimento a uma pesquisadora de ciências sociais, que fez um “curso de aborto” na Colômbia após fundar, em 1995, a entidade Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Ontem à noite, Eleonora divulgou nota em que afirmou que “nunca esteve na Colômbia”.
Na entrevista, feita em 2004, Eleonora contou ainda que se submeteu a seu segundo aborto, em 1970, por decisão tomada em conjunto com a organização clandestina na qual militava, o Partido Operário Comunista – um dos grupos de esquerda que participaram da luta armada durante a ditadura militar.
Autora da entrevista, a professora Joana Maria Pedro, da Universidade Federal de Santa Catarina, confirmou ao Estado ter conversado com Eleonora e outras 150 mulheres do Cone Sul para uma pesquisa acadêmica sobre o engajamento de feministas na luta contra ditaduras militares. Ela explicou que a atual ministra solicitou que a publicação fosse retirada do ar em 2011 para evitar a exposição de sua filha, que é citada no diálogo. A ministra alegou ontem que pediu que o texto fosse retirado do ar em 2010 por conter “imprecisões”.
“Se havia alguma outra imprecisão, eu não me lembro”, disse a pesquisadora, que inicialmente havia confirmado ao Estado o conteúdo da conversa. “Isso é história, é uma pesquisa acadêmica. As pessoas podem ter feito e vivido coisas que não fazem mais”, disse Joana Maria Pedro.
A transcrição das gravações foi feita por uma estudante e revisada por outra aluna.
A entrevista, trazida a público ontem pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da revista Veja, deve alimentar as pressões de integrantes da bancada evangélica no Congresso pela demissão da ministra. Setores religiosos vinham atacando Eleonora nos últimos dias por causa de sua posição a favor da descriminalização da prática do aborto.
No depoimento, a ministra afirma que foi para a Colômbia aprender a fazer aborto pelo método Amiu (Aspiração Manual Intrauterina). Segundo ela, a entidade feminista da qual participava tinha como objetivo “autocapacitar” mulheres para “lidar com o aborto”, mesmo sem conhecimentos de medicina.
A data da ida da então militante feminista para a Colômbia, viagem que ela nega, não fica clara. Na época em que o depoimento foi dado, a prática do aborto no país vizinho era considerada crime. Só em 2006 o país legalizou abortos em casos de estupro, más-formações do feto e risco para a mãe.
O curso de “autocapacitação” teria sido feito quando Eleonora já havia se submetido a dois abortos feitos por médicos. Presa política e torturada nos anos 70, ela revelou que o médico que a atendia após as sessões de espancamento era o mesmo com o qual havia feito um exame de pré-natal, antes de ser capturada.
O depoimento também traz relatos da vida sexual da nova ministra durante a época em que viveu na clandestinidade. Ela revela, por exemplo, que as mulheres de seu grupo guerrilheiro só podiam fazer sexo com pessoas da própria organização, por “questão de segurança”.
A presidente do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, Ana Galati, disse desconhecer a realização de treinamentos de aborto pela ONG. Segundo ela, a ministra deixou o grupo em 2004. “Ensinamos mulheres a fazer autoexames, não o aborto.”
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