Autor: Pe. Miguel Ángel Fuentes
Fonte: http://www.teologoresponde. com.ar
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Fonte: http://www.teologoresponde.
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Bibliacatolica -
Prezado Padre: ouvimos dizer muitas vezes que a Igreja é “santa”,
porém, para dizer a verdade, o que eu vejo é que muitos [cristãos] são
pecadores (e, entre estes, há sacerdotes, religiosas e leigos).
Inclusive, como se diz às vezes, alguns dos que vão à Missa são piores
do que muitos que não vão. Como entender isto? Não é hipocrisia afirmar
que a Igreja é “santa”?
Quantos cristãos se escandalizam da
Igreja! Apontam, talvez com maior ou menor exatidão, os pecados de
muitos fiéis, sacerdotes, consagrados e, inclusive, bispos; pecados e
escândalos que fariam ruborecer de vergonha a qualquer homem de bem. E
isto os “escandaliza”, isto é, lhes torna pedra de tropeço em sua fé na
Igreja, em sua confiança e em seu amor por ela.
Tais pessoas têm razão? Não! Enxergam bem, mas raciocinam mal, inferindo erroneamente.
A Igreja é Santa! É Santa e santificadora! Apesar dos pecados de seus filhos!
Mas como entender o paradoxo desta santidade?
1. A IGREJA É SANTA
A Igreja é santa! As palavra de São Paulo não nos permitem duvidar:
“Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo, em virtude da palavra, para
apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem
qualquer outro defeito semelhante, mas santa e imaculada” (Efésios 5,25-27). Se dizemos que a palavra de Jesus Cristo é eficaz e efetiva em tudo o que diz (e, por isso, se Ele diz: “Isto é o meu Corpo”,
esse pão já não é pão mas o seu Corpo), quanto mais efetivos não serão
os seus atos e o seu sacrifício! Ele se entregou por ela (=a Igreja)
para santificá-la! Portanto, ela é santa porque o sacrifício de Cristo é
eficaz.
“A Igreja é, aos olhos da fé, indefectivelmente
santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, a quem com o Pai e o Espírito
Santo é proclamado ‘o único Santo’ amou à Igreja como sua esposa,
entregando-se a Si mesmo por ela para santificá-la (cf. Ef. 5,25-26), a
uniu a Si como seu próprio Corpo e a enriqueceu com o dom do Espírito
Santo para a glória de Deus”[1].
A Igreja é duplamente santa:
a)
É santa, em primeiro lugar, porque ela é o próprio Deus santificando os
homens em Cristo por seu Espírito Santo. Dizia Pio XII: “Esta
piedosa mãe brilha sem mancha alguma em seus sacramentos, com que
alimenta seus filhos; na fé, que sempre conserva incontaminada; nas
santíssimas leis, com que obriga a todos; nos conselhos evangélicos com
que adverte; e, finalmente, nos dons celestiais e carismas, com os
quais, inesgotável em sua fecundidade, dá à luz a incontáveis exércitos
de mártires, virgens e confessores”[2].
Esta é santidade
“objetiva” da Igreja. Ela é um canal inesgotável de santidade porque
nela Deus coloca à disposição dos homens os grandes meios de santidade:
- Seus tesouros espirituais – os Sacramentos – entre os quais o principal é o próprio Cristo sacramentado, fonte de toda santidade.
- Sua doutrina santa e imaculada, que finca suas raízes no Evangelho.
- Suas leis e conselhos, que são prescrições e convites à santidade.
- O Sangue de Cristo tornado bebida cotidiana do cristão.
- A misericórdia do perdão oferecido sacramentalmente aos pecadores.
b)
Em segundo lugar, a Igreja é santa porque ela é a humanidade em vias de
santificação por Deus. Este é o aspecto complementar do item anterior,
ou seja, a santidade “subjetiva” da Igreja.
Os canais de santidade
são derramados sobre os filhos da Igreja e, se não sobre todos, pelo
menos sobre muitos produz verdadeiros frutos de santidade. Ela é o seio
que incessantemente gera frutos de santidade.
Voltaire, apesar de seu ódio contra a Igreja, reconhecia: “Nenhum sábio teve a menor influência nos costumes na rua em que morava; porém, Jesus Cristo influi sobre todo o mundo”.
Essa influência são os santos. Quanta diferença entre os frutos
“naturais” do Paganismo e os do Cristianismo! Quando a Igreja gera
filhos nas águas do batismo, os dá à luz com gérmens de graça e
santidade, os quais, quando os homens não colocam obstáculos, crescem e
dão ao mundo extraordinárias obras de caridade. Por isso, a Igreja,
desde seu início na Jerusalém dos Apóstolos, começou a popular o mundo
com:
- Jovens virgens, testemunhas da pureza.
- Mártires da fé.
- Missionários e apóstolos
- Ermitães e monges penitentes
- Incansáveis operários da caridade, que consagraram suas vidas aos enfermos, aos pobres, aos famintos, aos abandonados…
- Seus filhos inventaram os hospitais, leprosários, asilos…
Na
Antiguidade se contava a história de Cornélia, a mãe dos Gracos, filha
de Escipião Magno, a qual vendo uma de suas amigas fazendo ostentação de
suas joias, com um gesto apontou para os seus filhos – futuros heróis
de Roma – e disse-lhe: “Estes são os meus ornamentos e as minhas joias!”. Com quanta razão mais a Igreja pode dizer ao mundo, apontando para os santos de todos os tempos: “Estes são as minhas joias!”
E
apenas isto já fala da santidade da Igreja, pois para fazer um só santo
é necessário um poder divino, já que apenas a graça do Espírito Santo
pode santificar um homem. E a Igreja não deixa de ter santos nem quando
os horizontes são os mais sombrios!
Três sinais, entre muitos outros – dizia Journet – tornam visível esta santidade da Igreja:
1º) Ela é uma voz que não deixa de proclamar ao mundo as grandezas de Deus.
Essa constância em proclamar e cantar as maravilhas de Deus é a sua
razão de ser. Encontramos a Igreja ali onde escutamos sem cessar cantar
as maravilhas de Deus, defender Sua honra dos erros do mundo, dar
testemunho de Sua grandeza e Sua misericórdia para com os homens.
2º) Ela é uma “sede inextinguível” de unir-se a Deus.
A Igreja está onde suspiram todos os que esperam a manifestação do
Rosto de Deus, os que esperam a vinda de Cristo, os que não se apegam a
este mundo e suspiram por uma pátria melhor, os que se sentem como os
desterrados filhos de Eva.
3º) Ela é um zelo insaciável por dar Deus aos homens.
A encontramos ali onde, com infatigável ardor, existe um verdadeiro
cristão que trabalha pela conversão dos pecadores, por fazer que os
ignorantes conheçam a Deus, por levar o Evangelho aos que ainda não o
ouviram…
Porém…
2) NEM TUDO É SANTO NA IGREJA
A
Igreja é santa e santificadora, porém, muitos dos seus filhos são
pecadores e a Igreja, consciente disso, não os exclui de seu seio, salvo
em casos extremos. Dizia Pio XII: “Que todos aborreçam o pecado.
Porém, quem pecou e não se tornou indigno, por sua contumácia, da
comunhão dos fiéis, seja acolhido com amor… Pois mais vale, como adverte
o Bispo de Hipona, ‘ser curado permanecendo no corpo da Igreja, do que
serem cortados dela como membros incuráveis. Porque não é desesperada a
cura daquilo que ainda está unido ao corpo, enquanto que, tendo sido
amputado, já não pode ser curado nem sanado’”[3].
Os
pecadores são membros da Igreja, mas não o são no mesmo grau nem do
mesmo modo que o justo; e assim é rigorosamente exato o que disse o
Cardeal Journet: quanto mais se peca, menos se pertence à Igreja. Por isso, a maioria dos autores é categórica em afirmar que é inconcebível uma Igreja integrada exclusivamente por pecadores.
Se
os pecadores são membros da Igreja, o são não em razão dos seus
pecados, mas por causa dos valores espirituais que subsistem neles e em
cuja virtude, todavia, permanece viva de alguma forma: valores
espirituais pessoais (fé e esperança teologais informes, caráteres
sacramentais, aceitação da hierarquia etc.), aos quais é preciso
acrescentar os impulsos interiores do Espírito Santo e a influência da
comunidade cristã que os envolve e arrasta em seu seio, tal como uma mão
paralisada, que nada pode fazer por si, ainda assim participa de todos
os deslocamentos e mudanças de toda a pessoa humana.
E podemos
prosseguir dizendo que, apesar dos pecadores, a Igreja é santa e
imaculada? Sim! A Igreja continua sendo a Igreja dos Santos, apesar do
pecado e inclusive em seus membros pecadores. Como isto pode ser
possível? Porque, assim como a santidade é uma realidade da Igreja e
que, como tal, não está só na Igreja mas também procede da Igreja, o
pecado não é uma realidade “da Igreja”; mesmo quando o pecado estiver na
Igreja, não procede dela, precisamente por ser o ato com que alguém
nega a influência da Igreja.
Mais ainda: à medida em que aceita
permanecer na Igreja santificadora, mesmo que seja apenas por fé e sem
caridade, esta (=a Igreja) o ajuda em sua luta contra o pecado. Por
isso, Journet dizia: “A Igreja carrega, dentro de seu coração, Cristo lutando contra Belial”.
Por
isso, o pecado não pode impedir que a Igreja seja santa, mas pode
impedir que seja tão santa quanto deveria! Dizia Santo Ambrósio: “Não nela, mas em nós é ferida a Igreja. Vigiemos, pois, para que a nossa falta não constitua uma ferida para a Igreja”[4].
Assim, então, concluía o Cardeal Journet: “A
Igreja divide em nós o bem e o mal. Fica com o bem e deixa o mal… [A
Igreja] não está livre de pecadores, mas está sem pecado. Por isso, não é
pecadora nem pode pedir perdão por seus pecados. Pede, ao contrário,
perdão para os pecados de seus filhos e por isso ‘a Igreja [é] santa e,
por sua vez, necessitada da purificação’ em seus filhos”[5].
Monsenhor Tihamer Toth dizia: “A Igreja somos nós: eu, tu, nós, todos… e quanto mais bela é a nossa alma, mais [bela a Igreja]“.
E outro autor pôde escrever: “A
Igreja é um mistério: tem sua cabeça oculta no céu, sua visibilidade
não a manifesta mais do que de um modo sumamente inadequado; se
procurais o que a representa sem traí-La, contemplai ao Papa e ao
Episcopado, que nos ensinam nas coisas de fé e costumes; contemplai aos
seus santos no céu e na terra; não vos fixeis em nós, pecadores. Ou
melhor: vede como a Igreja cura as nossas chagas e nos conduz com
dificuldades à vida eterna… A grande glória da Igreja é constituída pelo
fato de ser santa com membros pecadores”[6].
—–
NOTAS:
NOTAS:
[1] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 39.
[2] Encíclica Mystici Corporis, nº 30.
[3] Idem, nº 10.
[4] De Virginitate 8,48; PL 16,278-D.
[5] Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 8.
[6] J. Maritain. Religião e Cultura. Paris, 1930, p.60.
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