17/02/2012
IHU - O porta-voz do Vaticano dirigiu um apelo à
mídia na última segunda-feira, 13 de fevereiro, aos meios de
comunicação. Diante de uma série aparentemente interminável de
vazamentos de documentos confidenciais, o padre jesuíta Federico Lombardi convidou
a imprensa a "fazer distinções cuidadosas", a não "jogar tudo junto
simplesmente" e a não permitir que a realidade da situação seja
"engolido em um redemoinho de confusão".
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As
casas de apostas não abriram imediatamente uma linha sobre as chances
de que a calma prevaleça, mas elas teriam que ser astronômicas.
Nos
últimos dias, correspondências confidenciais relacionadas a acusações
de corrupção e de clientelismo nas finanças vaticanas, memorandos
internos sugerindo lacunas na novo lei papal antilavagem de dinheiro, e
até mesmo uma carta anônima insinuando um complô para matar o papa
criaram um frisson midiático.
Embora, em cada caso, o Vaticano tenha
minimizado e até mesmo ridicularizado o conteúdo dos documentos, eles
também foram forçados a admitir que os próprios documentos são
autênticos.
Os comentaristas na Itália tiveram
um dia cheio para especular sobre os motivos para os vazamentos. A
maioria dos analistas italianos os lê como evidência de lutas de poder
internas ao Vaticano, relacionadas com um pontífice idoso e uma batalha que paira sobre a eleição do próximo papa.
Na noite de segunda-feira, Lombardi divulgou um comunicado por escrito à Rádio do Vaticano, que foi imediatamente enviado aos jornalistas (Lombardi,
que também é o chefe da Rádio do Vaticano, às vezes utiliza o rádio
para dizer coisas que ele não quer que cheguem ao nível de uma
declaração oficial do Vaticano).
"Certamente há algo de triste no
fato de que os documentos internos estão sendo passados deslealmente
para fora, a fim de criar confusão", disse Lombardi.
"Mas a responsabilidade é de ambos os lados – de quem fornece esse tipo
de documentos, mas também quem se dá ao trabalho de usá-los para fins
que certamente não são o puro amor pela verdade".
Diante da tempestade na mídia, Lombardi pediu "calma, sangue frio e muito uso da razão".
Lombardi apresentou, então, dois pontos fundamentais.
Primeiro, ele argumentou que o Vaticano de Bento XVI está
fazendo sérios progressos rumo à reforma, tanto na luta contra os
escândalos de abuso sexual do clero, quanto na direção de uma maior
transparência financeira. De fato, disse Lombardi, a atual rodada de vazamentos e de críticas são um sinal de que "alguma coisa importante está em jogo".
"Quem pensa em desencorajar o papa e os seus colaboradores nesse empenho se equivoca e se ilude", disse ele.
Quanto às tensões de bastidores que apontam para o próximo conclave, Lombardi insistiu
que todos os papas eleitos no século passado foram homens de
"indiscutível valor espiritual", o que sugere que os cardeais são
capazes de prestar atenção ao que estão fazendo.
"A leitura em
chave de lutas de poder internas", disse, "depende em grande parte da
rudeza moral de quem a provoca e de quem a faz, que muitas vezes não é
capaz de ver além".
Nem todo mundo na Igreja, aparentemente, captou a mensagem de Lombardi.
O bispo emérito de Ivrea, na Itália, Luigi Bettazzi, disse a um programa de rádio na segunda-feira que, dada a atual atmosfera de crise, Bento XVI poderia renunciar.
O papa parece "muito cansado", disse Bettazzi,
e, diante de "todos os problemas que existem, talvez também diante das
tensões que existem dentro da Cúria, ele poderia pensar que o novo papa
se ocuparia com essas coisas".
Se há algum consolo para o Vaticano, pode ser que, até agora, o fascínio com aquilo que até Lombardi chamou de versão vaticana do escândalo Wikileaks parece restrita em grande parte à Itália e aos italianos.
O arcebispo Philip Wilson, de Adelaide, Austrália, por exemplo, é o presidente da Conferência dos Bispos da Austrália e um ponto de referência entre os bispos de fala inglesa em todo o mundo. Ele esteve em Roma por
vários dias, para uma cúpula sobre a crise dos abusos sexuais na
Universidade Gregoriana e depois para um encontro de autoridades
eclesiásticas de fala inglesa chamado "Conferência Anglófona".
Eu conversei com ele na segunda-feira no Domus Sanctae Martae, o hotel de 20 milhões de dólares nas terras do Vaticano, onde os cardeais residem quando estão elegendo um papa.
Eu perguntei a Wilson até que ponto ele estava ciente do frenesi midiático ao redor dos documentos vazados do Vaticano e das percepções de guerra interna.
"Eu
não sei nada disso", disse. "Eu realmente não sei. Certamente, isso não
apareceu na imprensa australiana. Talvez alguém esteja enviando coisas
para mim por e-mail e assim por diante, mas eu não leio essas coisas".
Será que ele – eu perguntei – detectou uma atmosfera de crise no Sanctae Martae, onde algumas autoridades vaticanas vivem e outros passam por ali regularmente?
"Não, não senti", disse ele. "Até onde eu posso ver, a vida aqui é exatamente como seria em qualquer outro momento. Ela simplesmente corre em frente. Você tem todas as pessoas do Vaticano que trabalham aqui, eles entram e saem, fazem as suas refeições, dizem oi, e assim você vai".
"A vida é normal", disse Wilson.
Infelizmente, para Lombardi, que não pode se dar ao luxo de ignorar a inclinação do Vaticano para ser varrido por novelas italianas, isso provavelmente tem a ver com direitos.
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